Situação da Trust in News teria “exigido medidas mais musculadas”
A CT afirma que não pode dizer se houve má gestão na dona da Visão e de outros 16 títulos, mas considera que houve "inação" da parte da administração.
A Comissão de Trabalhadores da Trust in News (TiN) considerou esta quarta-feira que a situação do grupo dono da Visão teria “exigido medidas mais musculadas” e que houve duas propostas de compra de publicações que não foram aceites.
Rui da Rocha Ferreira, membro da Comissão de Trabalhadores (CT) da TiN falava na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, no âmbito dos requerimentos dos grupos parlamentares do Livre e do PS sobre a situação em que se encontra o grupo. A Trust in News, liderada por Luís Delgado, detém 17 marcas e conta com 137 trabalhadores, de acordo com dados da CT.
“Considerando o estado em que a empresa estava“, isso teria “exigido medidas mais musculadas”, afirmou Rui Rocha, em resposta a questões do PS.
Questionado sobre se houve tentativa de tomar medidas para estancar a atual situação do grupo, o representante da CT disse que “sim e não”, referindo que este é “o sentimento mais generalizado”. Desde 2018, altura em que a TiN comprou as publicações à Impresa, “aconteceu muita coisa, uma pandemia, uma guerra” e as empresas “têm de saber adaptar-se às exigências do mercado”, prosseguiu.
“É opinião comum que deveria ter sido feito algo mais“, sublinhou o responsável da CT, que entrou em funções em junho. Este ano, saíram da empresa “55 trabalhadores” e “entraram 11”, detalhou.
Relativamente a uma reestruturação, a CT adiantou que houve corte de despesas, que inclui corte de licenças de software, serviços de fotografia e de agência noticiosa.
Questões como os salários, que “iam chegando tarde” levou a que a situação se tornasse “insustentável e provocou um desgaste brutal nas pessoas”, levando à saída de trabalhadores que não queriam fazê-lo, mas não tinham outra hipótese.
“Pode-se alegar reestruturação, mas na nossa opinião” esta tem de ter estratégia, ser organizada e ter objetivos.
Já em resposta ao Livre, o membro da CT da TiN referiu que houve “duas propostas oficiais à administração para compras de publicações durante o período de recuperação”. Estas “propostas não foram aceites”, porque segundo a administração “não eram vantajosas”, referiu.
A Comissão de Trabalhadores (CT) da Trust in News (TiN) afirmou que não pode dizer se houve má gestão na dona da Visão e de outros 16 títulos, mas considerou que houve “inação” da parte da administração.
Questionada pelo Bloco de Esquerda (BE) se houve má gestão, a CT referiu não poder responder a isso.
“Eu, pelo menos”, e o Rui da Rocha Ferreira, membro da CT também presente na audição, “não somos especialistas em gestão, temos a nossa perceção, e a palavra mais ouvida” sobre a situação do grupo “é inação“, afirmou Carolina Almeida.
Ou seja, “não sabemos se houve má gestão”, mas houve “uma inação”, rematou Carolina Almeida, referindo que ao longo do tempo deveriam ter sido “tomadas algumas ações”.
O sentimento é de que “deveria ter sido feito mais alguma coisa para não chegarmos a este ponto, as decisões deveriam ter sido mais duras” para “não colocar os trabalhadores nesta situação”, acrescentou.
Já Rui da Rocha Ferreira salientou que a gestão “boa não foi”, referindo que quando o PER não foi aprovado havia indicação de que havia dinheiro para pagar algumas dívidas. “Mas se tinha dinheiro por que não meteu”, questionou, afirmando que a essa pergunta nunca houve resposta.
Rui da Rocha Ferreira salientou que, após a compra do grupo à Impresa, em 2018, a “fase da pandemia foi muito crítica”, a que se juntou depois a guerra na Ucrânia, em que “o preço do papel encareceu”, somando-se os salários em atraso.
Enquanto CT, “demos sempre o benefício da dúvida”, salientou, sublinhando que “Luís Delgado sempre teve abertura tanto com CT” como com os delegados sindicais e outros representantes.
“Sempre houve abertura para falar” com Luís Delgado, “sempre fomos alertando para os problemas que eram óbvios e nunca sentimos da parte da administração o mesmo nível de preocupação”, disse.
A CT apelou à intervenção do Governo na mediação junto dos credores, já que há marcas de revistas que foram dadas como garantias à Segurança Social e à Autoridade Tributária — maiores credores da TiN — para em caso de haver interessados “essa questão das garantias não vir a ser um entrave”.
Já “é altura de os deputados discutirem de forma séria o que querem da comunicação social, tem de ser definido como setor crítico”, defendeu Rui da Rocha Ferreira, apontando que em caso de “crise, por exemplo, haver um fundo que possa intervir” e uma “vigilância às contas” das empresas do setor.
Aliás, “pode e deve-se começar a olhar de forma mais estrutural para as empresas de comunicação”, defendeu, rematando: “Se é para a TiN cair, que se aprenda alguma coisa” com isso.
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