“Não sei como vai acabar a empresa”, diz dono da Visão e da Exame no Parlamento
Delgado vai apresentar um plano de reestruturação, mas pode ser só "para memória futura". O dono da Visão repetiu não ter "comprado o que pensava" e acusa o Estado de ter provocado a insolvência.
A intervenção de Luís Delgado começou com um pedido de desculpa, que foi repetindo, aos trabalhadores e às suas famílias pela situação que a Trust in News atravessa. Delgado recordou também que não foi o grupo que quis avançar para a insolvência. “Quem nos levou à insolvência foi o Estado“, afirmou. Outra das ideias repetidas foi que o que comprou, à Impresa, no início de 2018, “não era o que pensava que estava a comprar“. “Eu não comprei o que estimava que estava a comprar, eu não comprei o que queria comprar, eu não comprei o que pensava que estava a comprar“, insistiu. O dono de títulos como a Visão ou a Exame disse ainda que vai apresentar até dia 27 um plano de reestruturação, “nem que seja para memória futura“.
Luís Delgado falava esta quarta-feira na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, no âmbito dos requerimentos dos grupos parlamentares do Livre e do PS sobre a situação em que se encontra o grupo que detém 17 marcas, entre as quais a Visão e a Exame.
Na sua intervenção, o jornalista e presidente da Trust in News (TiN) adiantou que a administração tentou “encontrar saídas”. “Chegámos ao PER [Processo Especial de Revitalização] com a ideia absoluta (…) de que teríamos o tempo” necessário para encontrar o equilíbrio entre os custos e as receitas da empresa.
“Não conseguimos, não fomos nós que levamos a empresa ao pedido de insolvência“, salientou Luís Delgado, ou seja, só se avançou para isso porque “a Autoridade Tributária e a Segurança Social recusaram a aprovar o PER”.
Questionado sobre quando percebeu que a TiN não era rentável, Luís Delgado disse que percebeu logo depois da sua compra. “Quando é que percebi que tinha um grupo que não era rentável? Percebi um mês depois de ter comprado, dois meses, cinco anos depois, percebi sempre“, afirmou.
Com o gestão nas mãos do administrador de insolvência desde o início do mês, Luís Delgado diz que tudo pode acontecer. “Até pode o administrador avançar para a liquidação” já este mês, apontou.
Delgado disse ainda que, até 27 de dezembro, iria apresentar uma proposta de recordação, nem que seja “para memória futura”.
“Este plano, com medidas diretas específicas, vai ser apresentado no dia 27 de dezembro junto do tribunal e, previamente a isso, junto do administrador de insolvência que, tanto quanto nos disse a nós, diretamente, não tem nenhum plano”, acrescentou. “Também acho que não está muito interessado em conhecer os planos de reestruturação, mas ser-lhe-á mostrado na altura“, continuou Luís Delgado.
“Não sei como vai acabar a empresa, até pode acontecer como já ouvi, que o administrador de insolvência, se não tiver dinheiro para pagar os ordenados irá imediatamente para liquidação”, referiu. Ou seja, “liquidada imediatamente a empresa e eu não posso fazer nada”, enfatizou Luís Delgado.
Suspender as publicações com margem negativa, com a integração de alguns dos seus trabalhadores em outros títulos mas também com a saída de outros, concentrar todos os recursos nas publicações que ficam e redimensionar para menos de metade o espaço físico são quatro das medidas do plano de reestruturação.
Ao contrário do que aconteceu no PER, Delgado pediria também a todos os credores, que não ao Estado –maior credor — e trabalhadores, que 50% da dívida fosse convertida em publicidade e ainda um haircut de 25% do montante em dívida. Ou seja, os cerca de 15 milhões passariam para cerca de 4 quatro, pagos ao longo do tempo.
“Não comprei o que pensava que estava a comprar”
“Eu não comprei o que estimava que estava a comprar, eu não comprei o que queria comprar, eu não comprei o que pensava que estava a comprar”, afirmou, por mais do que uma vez, o jornalista e presidente da TiN durante a audição, referindo que quando assumiu o negócio não tocou “em nada”, nem em “ninguém”, pelo contrário “as mesmas” pessoas continuaram no projeto, pelo que “alguma coisa estava mal para trás”.
Contou que quando comprou os títulos se reuniu com as pessoas referindo que “todos em conjunto” deveriam trabalhar com administração para atingirem o caminho certo, até porque detesta “crises” e “intranquilidade”.
Questionado sobre como chegou aos 32 milhões de dívida, detalhou. Em 2018, aquando da compra à Impresa, a “nossa dívida fora 18 milhões [de euros], 10 milhões era logo o preço da compra”, onde se incluía também o factoring do Novo Banco. Depois houve obras para mudar do edifício da Impresa para a Quinta da Fonte.
Em 2019, o passivo era de 16 milhões de euros, em 2020 passa a 20 milhões de euros, altura da pandemia, e em 2021 o montante era de cerca de 27 milhões de euros. Atualmente, dos 10,2 milhões de euros de pagamento à Impresa, há uma dívida de quatro milhões de euros.
O passivo do grupo “resulta de não bom funcionamento que era expectável funcionar, no nosso mercado de papel e digital as coisas estão dificílimas, nenhuma administração consegue responsabilizar-se pelas receitas“, apenas pode fazê-lo nos custos, argumentou.
Luís Delgado referiu por várias vezes que “todos sabiam” como estavam as vendas dos títulos do grupo. “Temos uma estimativa mensal” feita pela Vasp sobre as vendas das revistas em banca: “Há uma revista muito importante que na passada quinta-feira vendeu 7.000 exemplares”, apontou.
O gestor salientou que quando comprou o grupo, embora “não sendo aquilo que esperava”, tinha como aposta crescer. “Fazer mais revistas — comprei 12 à Impresa, temos 17 –, era importante crescer em papel e digital, apostar muito nos nichos de mercado de alto valor“, explicou, salientando que era importante “apostar naquilo que são as tendências digitais”.
Sobre as propostas de compra de títulos, que aconteceram durante o Processo Especial de Revitalização (PER), uma foi de 400 mil euros, “de uma empresa muito credível” mas com o pagamento dilatado ao longo do tempo, em que o administrador judicial disse “que não” e a segunda proposta era de 550 mil para seis revistas, o que significava “fatiar a empresa”.
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