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Spinumviverá?
Se um escândalo se mantém vivo ao fim de três semanas, significa que a explicação foi insuficiente. A falta de uma resposta clara por parte de Montenegro mantém o tema aberto e amplifica as suspeitas.
Na política britânica, há uma regra empírica sobre a gestão de escândalos: se um político resistir três semanas sem novos desenvolvimentos, o caso tende a esmorecer; se durar seis semanas, a sua posição torna-se insustentável. Luís Montenegro enfrenta agora este teste com o caso da Spinumviva, a empresa da família, cuja história se arrasta sem uma explicação definitiva.
Os primeiros dias de um escândalo são críticos. Se um político souber dar explicações rápidas e convincentes, pode travar a crise antes que ganhe tração. Se hesita, perde o controlo da narrativa e abre espaço para que adversários e jornalistas desmontem a sua defesa, peça por peça. Montenegro optou por uma abordagem reativa e defensiva, permitindo que o caso ganhasse dimensão, alimentado por novas investigações que lançam mais dúvidas do que respostas. O resultado é previsível: a história, em vez de perder força, renova-se a cada dia, num ciclo que Montenegro ainda não conseguiu quebrar.
Se um escândalo se mantém vivo ao fim de três semanas, significa que a explicação dada foi insuficiente. Pior ainda, significa que continuam a surgir novos detalhes que sustentam a polémica. É precisamente o que está a acontecer com a Spinumviva.
Nestas situações, o desgaste torna-se quase inevitável. A perceção pública já não se baseia apenas nos factos objetivos, mas sim na sensação de que há algo a esconder. E quando essa perceção se instala, a crise política transforma-se num problema de credibilidade.
Se um escândalo sobrevive seis semanas, já não é apenas um caso isolado — torna-se um símbolo. Foi assim com Boris Johnson no Partygate: o problema não foram apenas as festas ilegais em Downing Street, mas sim a sucessão de meias verdades e contradições que minaram a sua autoridade até ao colapso.
Montenegro ainda não chegou a esse ponto, mas já passou a metade do caminho. E, como em qualquer escândalo político, a diferença entre recuperar e afundar depende da capacidade de estancar a crise antes que seja tarde demais.
Já passámos as três semanas. Estamos a meio das seis. Se os britânicos tiverem razão, Montenegro teria de responder hoje. Não o fazendo pode começar um desgaste que a sua governação objetivamente não merece e o eleitorado não pediu.
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