Primavera criativa – ideias florescem ou só alergias?

  • Bárbara Bárcia
  • 28 Março 2025

A verdade é que, mesmo com desafios, há sempre algo que floresce. Afinal, se há coisa que a publicidade nos ensina, é a encontrar soluções mesmo quando o terreno não parece fértil.

A primavera chega e, com ela, a promessa de renovação. Dias mais longos, sol a espreitar, um otimismo tímido no ar. No mundo natural, tudo desabrocha. No mundo criativo… bem, nem sempre. Porque a verdade é que, enquanto a natureza entra em modo florescimento, muitos de nós continuam atolados no inverno mental do “não há ideias”, “já se fez tudo”, “precisamos de mais referências”.

Março é um mês traiçoeiro para a criatividade. Por um lado, há esta ilusão coletiva de que é tempo de começar de novo, de refrescar conceitos, de experimentar abordagens diferentes. Por outro, a realidade: deadlines apertados, pressão comercial e aquele eterno problema de que não há tempo para pensar — só para entregar. A primavera publicitária nem sempre traz flores. Às vezes, só traz alergias.

Mas a verdade é que, mesmo com desafios, há sempre algo que floresce. O contexto pode ser difícil, as aprovações podem ser um teste de paciência, mas a criatividade tem um talento especial para brotar onde menos se espera. Afinal, se há coisa que a publicidade nos ensina, é encontrar soluções mesmo quando o terreno não parece fértil.

E sabemos bem como os desafios se manifestam:

A alergia ao risco — quando as ideias frescas são podadas ainda no brainstorm.

A alergia à novidade — quando o “dá para fazer como no ano passado?” se torna a grande inspiração da marca.

A alergia ao tempo — porque a grande promessa de “vamos dar espaço para pensar” dura exatamente até ao primeiro email de follow-up.

E depois há a rinite criativa, aquele fenómeno que afeta 9 em cada 10 equipas de criação nesta altura do ano: começam por ter uma ideia, ela parece incrível, mas segundos depois há um “hmm… será que o cliente vai aprovar?”, seguido de um “espera, isto já foi feito em 2017”, culminando no inevitável “se calhar jogamos pelo seguro”. Quando damos por nós, a campanha que ia ser disruptiva transforma-se numa versão ligeiramente ajustada do briefing — e, com sorte, ainda leva um toque primaveril no tom de cor.

Mas a primavera tem um truque: por mais imprevisível que seja, ela volta sempre e é teimosa. E, contra todas as expectativas, há sempre aquele momento glorioso em que uma ideia realmente boa floresce. O conceito certo, a execução perfeita, a combinação improvável que ganha vida. De repente, há um brilho nos olhos da equipa, um entusiasmo genuíno. Porque, no meio de todas as limitações, da falta de tempo, dos ajustes, há algo que nunca muda: a criatividade sempre encontra uma forma de nascer.

A criatividade é resiliente. Adapta-se, cresce, transforma-se. E talvez seja essa a grande lição da primavera: as melhores ideias não precisam de condições perfeitas para florescer — elas encontram sempre uma maneira de rasgar a terra e surpreender.

Então, ideias florescem ou só alergias? Se depender do ciclo natural, talvez este seja o momento de arriscar. De polinizar pensamentos fora do óbvio. De aceitar que a criatividade também precisa de estações — e que, sem um inverno de incubação, nunca haverá uma primavera de verdade.

Mas claro, podemos sempre esperar pelo verão. Ou, mais provavelmente, pelo outono — quando alguém vai finalmente decidir que “devíamos ter pensado nisto antes”.

  • Bárbara Bárcia
  • CEO On Partners

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