
Existir ou não existir no X? Eis a questão
Ficar ou não ficar no X não é uma decisão neutra ou inconsequente. A decisão de uma IES abandonar a plataforma X posiciona-a como referência na formação de opinião.
No início do ano, mais de 60 universidades alemãs abandonaram a rede social X, levantando uma questão: devem as instituições de ensino superior (IES) assumir a responsabilidade moral e ética de virar as costas a uma rede social de atuação e princípios duvidosos? Ou permanecer numa plataforma que desafia os próprios valores que diz defender? É um debate que, gradualmente, tem ganho relevância, nomeadamente entre os profissionais de comunicação nas IES.
É um assunto sobre o qual tenho falado com diferentes pessoas, de várias profissões, mas sobretudo ligadas ao meio académico. Num primeiro momento senti um consenso generalizado relativamente a uma posição de afastamento institucional, por razões associadas à missão da Universidade. Já a dimensão política parecia menor perante o propósito e valores defendidos.
Havia até uma certa desvalorização do tema, considerando os múltiplos tópicos que dominam a agenda das universidades.
Hoje, percebo uma tensão crescente quanto à presença institucional da Academia nas redes sociais, dado que os motivos para uma possível saída parecem estar menos relacionados com a promoção do pensamento crítico, o rigor intelectual e a produção de conhecimento, e mais associados a fatores de natureza política.
Embora a plataforma X seja reconhecida pelos debates, posições humorísticas e pela sua forte influência entre políticos, jornalistas e outros opinion makers, na Academia prevalece a presença dos cientistas e investigadores que recorrem a esta rede social para divulgar aspetos específicos do seu trabalho de investigação, e comunicar a ciência de um modo mais abrangente. Ou seja, este é o público ativo da plataforma, cuja utilização não é politizada.
Este tema não pode nem deve ser influenciado por questões políticas, muito menos por posições redutoras “esquerda-direita.”
Afinal, a universidade tem uma missão que está diretamente relacionada com o peso e responsabilidade da formação de indivíduos, a produção e disseminação de conhecimento, onde a ética constitui a base do sentimento generalizado de que os cientistas são fontes confiáveis de informação. Por essa razão, os cientistas, sem surpresas, tendem a sentir-se mais à vontade em ambientes que prezam pela seriedade e o rigor.
Ficar ou não ficar no X não é uma decisão neutra ou inconsequente. Ainda que de forma involuntária, manter perfis institucionais académicos numa rede que promove de forma indiscriminada a circulação de informação rigorosa e desinformação manipuladora, acaba por legitimar a sua perceção como espaço confiável de difusão de conhecimento.
A decisão de uma IES abandonar a plataforma X posiciona-a como referência na formação de opinião. A opinião sustentada pelo conhecimento, pela evidência e pela independência intelectual, distancia-se claramente da lógica de comunicação superficial e manipulativa. Este parece-me ser o caminho para uma instituição muito importante no processo de socialização das próximas gerações: a Universidade.
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