Legislativas 2025

Tema da corrupção e conflitos éticos perde relevância na discussão para as legislativas no X e notícias online, revela análise da LLYC

Rafael Ascensão,

A conversa sobre as eleições, no X e nas notícias online, apresenta-se menos intensa do que em 2024, mas mais diversa. Descubra sobre o que mais falam os portugueses, de acordo com a LLYC.

Apesar de estar diretamente ligado à queda do Governo e de ter marcado o início da atual campanha eleitoral, o tema da corrupção e dos conflitos éticos foi menos discutido pelos portugueses no X e nas notícias online do que nas legislativas do ano passado.

Num recuo expressivo, o tema que representou 8,18% das menções nos dois meses que antecederam as eleições de 2024, e que foi o quarto mais discutido, desce agora para 3,99%, passando para o 11º lugar. Os temas relacionados com corrupção e conflitos éticos ficaram fora dos 10 assuntos que mais mobilizaram os portugueses, o que revela um enfraquecimento da sua centralidade no debate público.

Por outro lado, economia e impostos são o território com maior relevância nas discussões no X e nas notícias online sendo que, com 23,75% do total de publicações, este tema reforçou a sua centralidade no debate público, destacando-se como picos de conversa os reembolsos do IRS inferiores ao esperado e as mexidas no IRC. Este já tinha sido também o tema mais relevante na análise realizada no contexto das eleições legislativas de 2024.

As conclusões são do estudo “Eleições Legislativas 2025 — Análise da Conversação Social”, da LLYC, que incidiu sobre a conversação social no X (ex-Twitter) e nos meios de comunicação social online. O estudo considerou 18 territórios de conversa e analisou 184 mil publicações e 19,3 mil perfis ao longo de cerca de dois meses (14 de março de 2025 a 9 de maio de 2025).

A área da saúde subiu um degrau face a 2024, apresentando-se agora como o segundo tema mais discutido pelos portugueses no X e notícias online, para o que ajudou a discussão de temas como o encerramento das urgências dos hospitais do SNS, a falta de profissionais de saúde, o regresso das Parcerias Público-Privadas ou a saúde obstétrica.

O tema dos debates e eventos políticos foi o terceiro assunto mais relevante nos dois meses que antecederam as eleições, ocupando 10,8% de toda a conversação. Desta vez, a conversação esteve mais dispersa nos temas e manteve-se estável ao longo dos últimos dois meses, embora os principais picos de conversa tenham surgido durante os debates — em particular nos debates entre Pedro Nuno Santos e André Ventura, entre o líder do PS e Luís Montenegro e durante o debate televisivo com os oito partidos com assento parlamentar.

Também novo, o tema da defesa nacional ganhou relevância, surgindo em quarto lugar, registando 10,3% das menções e estando presente em 7,8% dos perfis, numa ativação que revela uma “preocupação crescente com a soberania do país e o papel de Portugal nas alianças militares internacionais, introduzindo uma dimensão geopolítica até agora pouco presente no debate eleitoral”.

Este ano o tema das tarifas impostas pelos EUA é novo no ranking, ocupando o quinto lugar e destacando-se sobretudo nos perfis de jornalistas e media, onde representa 20,4% da conversa.

Do total de 18 territórios de interesse abarcados no estudo, surgem depois, entre os mais discutidos, outras eleições, justiça, ambiente, habitação, migração, corrupção e conflitos éticos, regionalização, forças de segurança, equilíbrio orçamental, educação, privatização de empresas, TGV/LAV e Aeroporto de Lisboa.

O estudo mostra assim uma “reconfiguração das prioridades no debate público face aos dois meses que antecederam as eleições anteriores, tendo temas como justiça, defesa nacional e migração assumido um peso significativamente maior, passando de questões marginais a tópicos com forte presença na conversa social”, refere a LLYC.

A análise evidencia também desde logo que, este ano, a conversa sobre as eleições apresenta-se menos intensa do que em 2024, com uma quebra no volume total de publicações no X e notícias online — de cerca de 200 mil para 184 mil. Mas, por outro lado, verifica-se uma maior diversidade temática, com o número de territórios de conversa relevantes a aumentar de 15 para 18, o que evidencia uma dispersão dos focos de atenção no debate público.

Este ano foi também registada uma menor ativação dos políticos. Em comparação com as eleições de 2024, a atividade média dos candidatos e partidos políticos no X caiu cerca de 28% (de 268 para 195 tweets por perfil). No entanto, e apesar da descida, os políticos continuam a ser 2,2 vezes mais ativos do que os jornalistas e cerca de 19,1 vezes mais ativos do que os opinion makers.

Os opinion makers também reduziram a média de publicações por perfil (14,7 para 10,2). Por outro lado, a sociedade civil apresenta uma leve subida (de 8,7 para 9,4), assim como os jornalistas/media (78,4 para 89,2).

Analisando por comunidades políticas, a comunidade política de Centro-Esquerda, Esquerda e Esquerda Radical concentra grande parte da sua conversa no Serviço Nacional de Saúde e em debates e eventos políticos, sendo a que mais aborda estes temas. Economia e impostos é a temática com maior peso interno, mas com menor destaque face à comunidade de centro-direita e direita. A habitação também assume um papel relevante, embora com um peso ligeiramente inferior à comunidade de direita. É importante destacar ainda o maior envolvimento nas eleições autárquicas e presidenciais.

Já a comunidade de centro-direita e direita dá clara prioridade à economia e impostos, temática com maior peso relativo na sua conversa. Habitação e defesa nacional também se destacam como áreas relevantes, refletindo preocupações com segurança e estabilidade económica. Em menor escala, observa-se também uma maior atenção à privatização de empresas, tema este que está pouco presente nas restantes comunidades.

Por seu turno, a comunidade de extrema-direita fala sobretudo sobre economia e impostos, tal como as restantes, mas diferencia-se claramente pelo forte foco em migração, corrupção e justiça. Estes temas assumem um peso muito superior face às outras comunidades, “refletindo uma agenda marcada por preocupações com segurança, integridade institucional e controlo migratório”, lê-se no estudo.

Presença dos líderes e partidos nas redes

O estudo da LLYC sobre as Eleições Legislativas 2025 incluiu também uma análise à presença e alcance dos partidos com assento parlamentar e dos seus líderes nas diferentes redes sociais e plataformas como X, Facebook, Instagram, LinkedIn, TikTok e Threads.

A análise constatou desde logo que o PCP lidera em volume de publicações no Facebook, X e Instagram. Por outro lado, AD e Chega destacam-se pelo engagement no Facebook, mas apresentam menos publicações que os partidos de esquerda nesta rede. No X, AD e CDS-PP apresentam níveis de engagement altos, mas baixo volume de publicações, descreve o estudo.

“O LinkedIn é a maior aposta da IL, com um volume expressivo. No Threads, o PS destaca-se com a melhor performance: não só é quem publica mais como quem tem a melhor taxa de engagement. No TikTok, Chega e IL lideram com as taxas de engagement mais estáveis. AD e CDS-PP têm taxas mais elevadas unicamente por terem um volume de seguidores muito inferior aos dos dois primeiros partidos mencionados”, prossegue.

Entre os candidatos, no Facebook, Pedro Nuno Santos e Mortágua publicam mais, mas Inês Sousa Real tem a taxa de engagement superior, “graças a um alto de interações vs. total de seguidores”. No Instagram, André Ventura destaca-se como o candidato com mais publicações, mas isso não se traduz numa taxa de engagement superior. No X, Mortágua é a mais ativa, mas Rui Rocha e Luís Montenegro apresentam os melhores níveis de engagement.

O LinkedIn tem baixo volume, mas Rui Rocha destaca-se em engagement. No Threads, Pedro Nuno Santos segue a tendência do PS e lidera em performance. No TikTok, Ventura publica mais, mas é Montenegro quem gera mais engagement.

 

Este estudo, que abarca um total de 18 territórios de interesse e foi construído através da análise de tweets e notícias online sobre os temas-chave das eleições legislativas, entre os dias 14 de março e 9 de maio de 2025. Os dados foram obtidos com recurso à ferramenta da Brandwatch, que detém mais de 1,3 mil milhões de posts disponíveis.

A análise foi conduzida pela LLYC, através de uma equipa multidisciplinar de consultores de assuntos públicos, data scientists e especialistas em comunicação digital. Foram utilizadas plataformas como a Brandwatch e a Welov, bem como tecnologias de Inteligência Artificial (IA), Processamento de Linguagem Natural (NLP) e Análise de Redes Sociais (SNA), com o objetivo de estruturar, interpretar e visualizar grandes volumes de dados não estruturados, como as conversas nas redes sociais, descreve a consultora.

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