Desinformação ganhou muitos votos, defendem jornalistas
Mafalda Anjos e Sofia Branco atiram culpas aos media, defendendo que estes amplificam as mensagens desinformativas e apontando que a cobertura jornalística "piorou imenso" desde as últimas eleições.
A desinformação ganhou muitos votos nas últimas eleições legislativas portuguesas, segundo jornalistas, considerando que é mais fácil e barato fazer circular desinformação do que desmentir uma narrativa desinformativa.
Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a jornalista Mafalda Anjos defendeu que nas últimas eleições legislativas “a desinformação ganhou muitos votos”, pois “a desinformação sempre foi um poderoso instrumento de propaganda” que hoje em dia tem cada vez mais instrumentos para facilitar a sua circulação.
“Porque é que a desinformação se propaga tão rápido nas redes? As fake news têm maior probabilidade de serem difundidas nas redes, porque é muito mais fácil correr uma mentira do que a verdade. A energia necessária para desmentir uma narrativa é muito maior do que a necessária para a produzir” afirmou.
Além disso, “os media ficam indignados com as mentiras, mas acabam por amplificar a mensagem“, até porque a pressão da televisão não permite, por vezes, identificar e descodificar esta mensagem, defendeu Mafalda Anjos. “Os media não podem ser apenas ‘pé de microfone’, uma falha comum aos media em tudo o mundo“, afirmou.
A jornalista e presidente da Associação Literacia para os Media e Jornalismo, Sofia Branco, reiterou que a desinformação ganhou muitos votos nas últimas legislativas, ao mesmo tempo que o “jornalismo perdeu outros tantos”.
“A cobertura jornalística piorou imenso desde as últimas eleições“, afirmou Sofia Branco, destacando que o grande problema são as televisões privadas que têm impacto numa cobertura que não ajuda ao esclarecimento, nem ao jornalismo.
Para a antiga presidente do Sindicato dos Jornalistas em cima da mesa está a pressão das audiências que se traduzem em dinheiro, dizendo que as “televisões privadas estão numa dimensão muito irresponsável”.
“O jornalismo não é uma coisa à parte, é reflexo da sociedade onde se insere e Portugal tem um problema de exigência no jornalismo. Quanto mais exigente é o publico melhor será o jornalismo“, afirmou a jornalista.
Já o especialista em assuntos internacionais e comentador Germano Almeida destacou que a ascensão do Chega foi, em parte resultado dos meios de comunicação social, pois estes perderam a capacidade de alcance das suas mensagens.
O especialista destacou que da estratégia de desinformação faz parte a descredibilização do mediador, perspetiva partilhada por Mafalda Anjos que também considera que à “extrema-direita importa acabar com a imagem dos media, acabar com os gatekeepers (intermediários) […] a estratégia é dizer que os media são todos mentirosos“.
Como parte das soluções, Sofia Branco realçou o papel da literacia mediática, pois a partilha de desinformação pode estar relacionada com a falta de competência para descodificar estas narrativas, enquanto Mafalda Anjos salientou o desenvolvimento do pensamento crítico e literacia digital.
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