“Acordo todos os dias pronto para o combate”

Carla Borges Ferreira, Diogo Simões, Hugo Amaral,

A liderança da TVI, as incógnitas em relação ao futuro dos media, as motivações para continuar a liderar os projetos e as recentes polémicas que envolvem a CNN. Veja a entrevista a Nuno Santos.

“Se eu atribuo alguma relevância especial ao facto de termos sido líderes em outubro e de estarmos à frente em novembro? Gosto mais de estar em primeiro do que de estar em segundo. Mas acho que essa competição é muito casa a casa, taco a taco, se quisermos“. É assim que Nuno Santos, diretor da CNN Portugal mas também diretor de informação da TVI, reage aos números que dão a informação da TVI a alcançar a da SIC no último mês. “O meu maior desafio é manter as duas marcas relevantes, na liderança e com a capacidade de inovar a cada momento. Parece um desafio repetido? Sim, mas não menos estimulante pelo facto de ele não ser novo”, comenta em entrevista ao +M.

Em relação às polémicas recentes que envolvem o diretor executivo da CNN, Frederico Roque de Pinho, Nuno Santos não entra em grandes detalhes, mas frisa que “neste caminho que a CNN tem feito, desde 2021, ele tem sido uma peça muito, muito importante“.

Além de diretor da CNN Portugal, é diretor de informação da TVI. De maio a setembro as audiências dos jornais estiveram abaixo da média, em outubro cresceram e apanharam o Jornal da Noite, da SIC.

Ultrapassámos. Em novembro estamos também à frente, ao dia de hoje [17 de novembro]. Há um ano, aquilo que eu disse é que o nosso objetivo era sermos líderes. Mas o que eu achava que ia acontecer…

…que estariam sempre na corrida para a liderança.

Sim, estaríamos nessa corrida e isso é o que tem acontecido. Se eu atribuo alguma relevância especial ao facto de termos sido líderes em outubro e de estarmos à frente em novembro? Gosto mais de estar em primeiro do que de estar em segundo. Mas acho que essa competição é muito casa a casa, taco a taco, se quisermos.

O que sei é que a informação da TVI é muito competitiva, muito próxima das pessoas, continua a ter uma grande capacidade de ter histórias próprias, de ter notícias, isso deixa-me satisfeito. Acho que temos feito um bom caminho.

Isto é, quando chegámos à direção, neste caso há praticamente quatro anos, a TVI não era o primeiro canal, era o segundo canal. A TVI hoje é o primeiro canal. E a informação da TVI também não estava à frente, estava ciclicamente atrás da informação da SIC. Ora, isso hoje não acontece.

Gosto mais de estar em primeiro do que de estar em segundo. Mas acho que essa competição é muito casa a casa, taco a taco,

O que é que mudou na informação neste último ano? A ideia de que há menos internacional e mais crime colhe?

Não, não. Isso abre uma boa discussão, se formos por aí. Se há uma marca que podemos associar à informação da TVI é a da proximidade com as pessoas.

Essa marca não tem um ano, nem dois, tem duas décadas pelo menos. Pode-se associar ao início deste século. E, pelo caminho, já teve algumas oscilações. Isto é, se fosse uma autoestrada, era uma autoestrada com faixas e a TVI já terá estado umas vezes mais na faixa da direita, outras mais na faixa da esquerda, outras mais ao meio.

Talvez a SIC ou a RTP tenham uma matriz, ou uma identidade, que oscilou menos. Mas essa marca da proximidade, que é aquela que eu acho que é a mais relevante, mais forte. e que o português médio mais associa à TVI, nunca deixou de estar lá. E nós acentuámo-la ao longo destes últimos dois anos e, em particular, ao longo deste ano.

Estão mais na faixa da esquerda?

Estamos mais na mesma faixa. Se é da esquerda, se é da direita, é uma boa pergunta.

A Media Capital juntou ao seu portfólio de títulos o Sol. Pedro Morais Leitão, CEO do grupo, enquadrava-o, na conferência anual da ERC, sobretudo como digital — dizia que tinham televisão, tinham produção, com a Plural, e tinham digital, onde se incluía o projeto Sol. Há alguma sinergia? Algum projeto nesse sentido?

Estamos a construi-la. O Sol chegou ao grupo em setembro. A redação do Sol, que partilha o espaço connosco, chegou um mês depois. Estamos a construir…

Partilham espaço?

Não estão exatamente dentro da nossa redação, mas é sair uma porta e entrar outra. E, portanto, há ideias, há planos. Neste exato momento há mais ideias do que planos concretos, fechados e definidos para 2026. Mas acho que há uma oportunidade, evidentemente, e quando há oportunidades temos que as saber desenvolver e potenciar.

No caso do cabo, entraram players, ele tornou-se mais competitivo. No caso da televisão generalista, ela tem hoje menos quota de mercado do que tinha, mas ainda é a mais relevante para anunciantes, ainda é a mais relevante no contacto com as pessoas, ainda é o tronco central da floresta,

E o que faria sentido para as potenciar?

Percebo a pergunta e acho que tem que ser feita, mas primeiro nós temos que fazer esse trabalho internamente, materializá-lo e depois dar nota pública. Estamos na fase do trabalho, primeiro faz-se o trabalho e depois verbaliza-se.

Num mercado cada vez mais fragmentado, como antecipa a CNN e a TVI a um ou dois anos?

Mesmo a uma velocidade estonteante e num universo muito trepidante como é o dos media, apesar de tudo, acho que um ano, dois anos, é um período curto. Nós andamos a conversar, por esta altura do ano, há cinco anos e houve muitas mudanças, mas a estrutura base do mercado não se alterou tanto quanto isso.

No caso do cabo, entraram players, ele tornou-se mais competitivo. No caso da televisão generalista, ela tem hoje menos quota de mercado do que tinha, mas ainda é a mais relevante para anunciantes, ainda é a mais relevante no contacto com as pessoas, ainda é o tronco central da floresta, digamos assim.

No essencial, os temas da conversa não alteraram muito.

Sim. Há nuances, como é evidente. E, em alguns casos, são mais do que nuances, em alguns casos são alterações já com algum relevo. Num universo de um, dois anos, acho que nós ainda estaremos mais ou menos no ponto onde estamos. Mas essa monitorização tem que ser feita a cada momento.

Com inteira franqueza, aquilo que me preocupa não é onde estamos hoje e aquilo que estamos a fazer hoje. É um pouco, como escrevia Paul Valéry, o futuro já não é o que era. O que me preocupa é onde é que vamos estar, onde é que o grupo vai estar, e onde é que a informação da TVI e onde é que a CNN vão estar, num horizonte mais de médio prazo.

E consegue-se antecipar?

Consegue-se antecipar de alguma forma e, sobretudo, temos a obrigação de fazer essa reflexão. Temos a obrigação de ir à procura do benchmark que está a ser produzido noutros mercados, de fazer essa discussão. No caso da CNN, desde logo com a nossa casa-mãe em Nova Iorque e em Atlanta e de perceber como é que estão a ser as experiências deles de streaming, como é que o mercado do cabo está a encolher na América, como é que as outras operações de franchise estão a funcionar noutros mercados. Esse tipo de reflexão é que deve sempre ser feita e, parte mais difícil, tem que correr em paralelo com uma operação diária que é muito exigente.

E isso sim, se perguntas se gostavas que a equipa fosse mais alargada para, por exemplo, estar menos ligado à operação e mais distanciado a pensar nisso, sim. Ou então, estar mais envolvido na operação e ter alguém a montante que estivesse a fazer mais esse trabalho, isso sim.

O que me preocupa é onde é que vamos estar, onde é que o grupo vai estar, e onde é que a informação da TVI e onde é que a CNN vão estar, num horizonte mais de médio prazo.

Os próximos meses, se se concretizar o negócio, vão marcar a entrada do grupo Media for Europe (MFE) em Portugal? Como vês este negócio?

A primeira coisa que devo dizer é que temos de esperar para ver se se concretiza o negócio. Só depois de percebermos o que efetivamente vai acontecer e se há de facto aqui diferentes etapas… o que nos parece com a informação que temos disponível? É que aparentemente alguma coisa vai acontecer, num primeiro momento uma entrada de 30% do capital, ou um pouco mais, que indiciará uma outra coisa. Ora, é preciso esperar esse primeiro momento e os seguintes.

Sem mais comentários?

Sim, sem mais comentários, porque qualquer comentário que se faça é objetivamente uma precipitação.

Vamos falar de um tema interno. De acordo com o Observador, está a decorrer uma investigação, um inquérito interno, a Frederico Roque de Pinho, diretor executivo da CNN, porque terão existido queixas no canal interno de denúncias da empresa, sobre estarem a ser privilegiados pessoas com base na orientação sexual. Manténs a confiança no diretor executivo da CNN?

Um tema interno trata-se internamente. Portanto, qualquer coisa que eu dissesse, que não seja dito nos fóruns internos, neste momento não é adequado. É tudo o que devo dizer ao dia de hoje, neste momento, sobre isto. E sobre o Frederico Roque de Pinho, o que eu devo dizer também é que neste caminho que a CNN tem feito, desde 2021, ele tem sido uma peça muito, muito importante.

Sobre o Frederico Roque de Pinho, o que eu devo dizer também é que neste caminho que a CNN tem feito, desde 2021, ele tem sido uma peça muito, muito importante.

Fala-se também no eventual pagamento por uma entrevista a Luís Miguel Militão [feita pelo jornalista Elian Matte], andarão a circular emails nesse sentido. Alguma vez pagaram a entrevistados?

Sobre coisas que andam a circular, tenho pouco jeito para falar, com inteira sinceridade.

Certo. A pergunta é se CNN alguma vez pagou por entrevistas?

Só posso falar de factos. O que me tem chegado são coisas que vêm de uma pessoa que tem comprovadamente um histórico de desequilíbrio no seu país e creio que é a pessoa que estará na origem disso. Acho que é prudente ter esse facto em consideração. Muito prudente.

De qualquer forma, a pergunta é se pagar por entrevistas faz sentido.

Pagar por conteúdos, para ter acesso a conteúdos…

Isso é a vida das televisões. Mas quando é informação, equaciona que o entrevistado seja pago?

Como regra, diria que não. Como regra, não.

Nuno Santos, diretor da CNN Portugal, em entrevista ao ECO/+M Hugo Amaral/ECO

Qual é hoje maior desafio enquanto diretor da CNN e diretor da Informação da TVI?

O meu maior desafio é manter as duas marcas relevantes, na liderança e com a capacidade de inovar a cada momento. Parece um desafio repetido? Sim, mas não menos estimulante pelo facto de ele não ser novo. Não deixa de ser um desafio.

Há cinco anos já tinha feito imensas coisas na minha vida. Acho que não é uma inconfidência, sobretudo a esta distância, quando o acionista principal da companhia me desafiou para o projeto da CNN — estou a falar de Mário Ferreira — a primeira coisa que lhe disse é eu não quero fazer isto porque eu já fiz e, desde logo, isso não me traz a motivação suficiente para voltar a fazer.

Ele é uma pessoa muito persistente e convenceu-me que eu era a pessoa certa e que queria muito que fosse eu a fazer. Falámos, voltámos a falar e acho que ele me convenceu. Devo dizer que cinco anos depois acho que fiz bem em ter aceite o desafio que me colocou e o percurso destes cinco anos, esta liderança consistente da CNN, ao longo destes cinco anos, é o resultado dessa visão estratégica do acionista, do empenho do conselho de administração, do trabalho das várias equipas e também tenho aqui a minha quota parte. Não renego a parte que é a minha.

Aqui chegados, se eu voltasse a ser colocado perante o desafio, talvez a primeira coisa que eu dissesse era a mesma que disse na altura. Mas, pensando bem, fiz bem em ter aceite o desafio, porque estes anos têm sido dos mais extraordinários, dos mais felizes, da minha vida profissional. Dos mais duros também. Hoje em dia, liderar uma operação de informação em televisão é um trabalho duro.

É mais duro do que quando surgiu a SIC Notícias?

Sim, incomparavelmente. Muito mais duro.

E a motivação hoje, qual é?

Eu não sou aquele tipo de pessoa que tem estados de alma… não tenho desfalecimentos. Acordo todos os dias pronto para o combate e pronto para fazer coisas.

Estou sempre a pensar. Estamos em novembro e estou a pensar onde é que vamos estar a meio do próximo ano, e depois à frente, e assim sucessivamente. Estou sempre ligado, desse ponto de vista. Porque é que sou assim? Porque eu sempre fui assim. Isso ajuda-me, evidentemente.

Daqui a um ano, quando repetirmos a entrevista, qual será o primeiro tema?

Daqui a um ano… não sei. Há um ano parecia mais ou menos óbvia a resposta [IA]. Hoje não sei responder. Diria que a questão da inteligência artificial vai ganhar importância nos próximos meses, diria que, em tese, a paisagem audiovisual em Portugal poder mudar se alterações de acionistas num dos principais grupos se materializarem, também pode ter algum impacto. Vamos ver se estamos aqui daqui a um ano, desde logo.

Assista aqui à entrevista completa

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