“Há um concorrente que conseguiu derrotar a CNN, que é a CMTV. Achamos que vai haver dois, a CMTV e o Now”
As prioridades da MediaLivre, a ambição para os canais, a concorrência, a gestão dos media ou a representatividade partidária em TV são alguns dos temas abordados em entrevista a Carlos Rodrigues.

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Liderar o segmento dos canais de informação é, assumidamente, o objetivo da MediaLivre com o Now, canal que completou um ano em junho. Com um share de 1,7% no último mês, o triplo do registado no mês de arranque, Carlos Rodrigues admite que a aproximação aos outros canais está a ser “muito mais rápida” do que esperava.
A partir de segunda-feira, a grelha será reforçada no late night. “Contratámos o major general Isidro, que tanta polémica tem levantado nos últimos dias. Tivemos a sorte de ele estar no mercado e, a partir de segunda-feira, vem iniciar uma nova rubrica, com um nome próprio, com um novo grafismo, com um novo pivô, à meia-noite. Estou em crer que esse horário também rapidamente vai cair para nós”, avança o diretor do Now e também da CMTV.
“Se perguntar como será a empresa daqui a três anos, diria que a MediaLivre vai consolidar o projeto Now, vai continuar a crescer com a CMTV, vamos completar o shift que estamos a fazer relativamente ao universo digital de forma a melhorarmos os nossos produtos digitais e, seguramente, daqui a três anos teremos mais projetos televisivos do que temos hoje”, antecipa o também diretor-geral editorial do grupo dono do Record, da Sábado ou do Jornal de Negócios.
Com a crise do papel como pano de fundo, Carlos Rodrigues defende no entanto que “a maior crise é a das televisões generalistas”, RTP1, SIC e TVI.
“Essas três estações vão continuar em erosão, não tenho nenhuma dúvida sobre isso, por várias razões. Em primeiro lugar, têm uma estrutura de custos que é absurda. São três projetos televisivos cuja proposta de valor é baseada em produtos feitos de acordo com a economia antiga. Ora, essa economia desapareceu e os canais generalistas continuam a gastar exatamente o mesmo dinheiro, ou mais, do que gastavam há 10, 15 e 20 anos. Isso é um absurdo. É brincar com a sorte. Isso vai acabar mal”, atira em entrevista.
Os projetos do grupo, a ambição para os canais, a concorrência, a gestão dos media, a representatividade das forças políticas são alguns dos temas abordados.
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Um ano após o lançamento, quais os principais ensinamentos que o Now vos trouxe?
Foi a consolidação na empresa do projeto televisivo. A MediaLivre agora tem dois canais de televisão, é importante para consolidar a opção televisiva na empresa. Tivemos que engrandecer o projeto, tivemos que o fortalecer. Estamos ainda na fase de estudar, horário a horário, o que o público nos pede.
Vemos cada vez mais pessoas a juntarem-se a nós, quer espectadores, quer protagonistas sociais, quer especialistas. Ainda agora, contratámos também o general Isidro [Morais Pereira], que abandonou um projeto concorrente e vem juntar-se a nós, vai reforçar o internacional.
Tenho verificado que há três áreas prioritárias para este canal, a análise internacional – onde felizmente tivemos a sorte de personalidades como o general Isidro, o Germano [Almeida], se juntarem a nós ao longo deste ano, o que reforçou muito o nosso projeto –, a política – tivemos um ano muito intenso politicamente, até porque fomos surpreendidos pelas eleições antecipadas, continuamos muito fortes nessa área – e o desporto, onde também temos uma presença bastante importante e interessante, sobretudo porque é um projeto distinto do da CMTV e acaba por ser um dos três pilares deste canal.
É um projeto em crescimento, que já está com um crescimento notável ao fim do ano, e que dentro de algum tempo vai ser seguramente líder deste segmento do mercado.
Na televisão por cabo já temos um projeto largamente maioritário, mas aqui, no Now, isso também vai acontecer.
Já no ano passado, ainda antes do lançamento, nos dizia que a ambição era a liderança.
Na nossa empresa, todas as equipas sabem que temos que trabalhar para a liderança e normalmente alcançamo-la. Na televisão por cabo já temos um projeto largamente maioritário, mas aqui, no Now, isso também vai acontecer. Felizmente, aconteceu muito mais rapidamente do que pensávamos relativamente à RTP3.
Está também a acontecer muito mais rapidamente do que eu, particularmente, pensava, relativamente aos dois principais concorrentes, a SIC Notícias e a CNN, que também se reforçaram e melhoraram bastante as respetivas operações.
Isso também é um efeito positivo da existência do Now no mercado. E viemos, sobretudo, provar que aquela ideia de que havia uma saturação de canais portugueses de informação em particular, mas de informação nacional em geral, é errada.
No ano passado dizia que a ideia era trazer ‘abstencionistas’ para o sistema.
Sim, exatamente. E aconteceu, todos os canais cresceram. Acho que é uma prova de que trouxemos para o mercado da televisão por cabo muitos espectadores que não estavam lá.
A CMTV, ao contrário do que muitas vozes diziam, cresceu bastante. Aliás, o crescimento da CMTV, que era constante e é constante desde o início, acentuou-se muito particularmente desde que existe o Now.
Fecharam junho com uma média de 6,2%, versus 5,5% do ano passado.
É um crescimento de 15%, 17%, se as contas não me falham. E todos os canais subiram. O Now subiu muito mais depressa, está a fazer o triplo da audiência que fez no primeiro mês, o que num ano é notável.
Acho, aliás, que no mercado de cabo, sobretudo com o surgimento também de um novo player, a Digi, está cada vez mais provado que é um setor da economia muito pujante e isso é bom para todos os profissionais e para a indústria em geral.
O aumento da concorrência entre as operadoras de cabo, creio eu, mais tarde ou mais cedo, vai colocar as operadoras perante uma questão que considero muito relevante. Vai voltar a fazer sentido, seguramente, apostar em projetos de televisão diferenciados, e exclusivos, para as diversas plataformas.
Vai voltar a fazer sentido, seguramente, [as operadoras] apostarem em projetos de televisão diferenciados, e exclusivos.
Ou seja, tal como a CMTV, que surgiu, há 12 anos, só com uma operadora.
A CMTV nos primeiros anos foi um exclusivo Meo. As operadoras nessa altura consideravam que isso fazia sentido, porque era uma estratégia de crescimento.
Neste momento, com o aumento da concorrência, com o surgimento do novo player, com o surgimento de novas solicitações, ou de muito mais canais – o Now é um deles –, com as plataformas, para a fixação de público e para a manutenção do vínculo emocional com os seus clientes, com os espectadores, com os portugueses, a mais tarde ou mais cedo esse tempo chegará.
Estão em conversas com alguma operadora para lançar algum projeto exclusivo?
Não.
Vê alguma área em que fazia sentido acontecer?
Se me perguntar como será a empresa daqui a três anos, diria que a MediaLivre vai consolidar o projeto Now, vai continuar a crescer com a CMTV, vamos completar o shift que estamos a fazer relativamente ao universo digital de forma a melhorarmos os nossos produtos digitais e, seguramente, daqui a três anos teremos mais projetos televisivos do que temos hoje.
Luís Santana, CEO do grupo, ainda esta semana, na conferência da APDC, dizia que apesar da liderança e de ser uma empresa sustentável do ponto de vista económico, estavam sempre a inovar e sempre a pensar em novos projetos. A dois, três anos, como imagina o grupo?
Neste momento, a MediaLivre tem três projetos principais. Em primeiro lugar, é o projeto Alfa, em que estamos, efetivamente, a completar a mudança das nossas práticas e da nossa forma de comunicar com os públicos no universo digital.
Temos hoje equipas que trabalham muito aturadamente o percurso dos públicos nas diversas plataformas, adaptámos muito as nossas redações ao funcionamento em cadeia e esse funcionamento em cadeia está a provocar uma melhoria permanente e constante das nossas práticas digitais. Esse é o projeto Alfa, é neste momento a nossa prioridade.
O projeto Alfa, para o público e para os anunciantes, em que se reflete?
Na melhoria do nosso universo digital. O aumento da oferta de vídeo, o aumento do trabalho nas redes sociais, o trabalho em rede. O que é que isto quer dizer?
Quer dizer que o espectador já não espera pela notícia, a notícia tem que surgir quando ela surge, no fundo, passo o pleonasmo, um pouco à imagem e semelhança da CMTV. É transpor aquele princípio do melhor primeiro, da rapidez de execução, para todo o universo digital.
Recuando, e até para quem não acompanhou a entrevista no ano passado, o projeto Alfa tem muito com a reestruturação de processos de funcionamento, com o backoffice.
É o funcionamento em rede das nossas redações. Apesar de continuarmos a ter uma forte presença no papel, como aliás o nosso CEO, Dr. Luís Santana, disse na conferência que referiu – as nossas receitas ainda têm uma forte preponderância do papel e se alguém em Portugal salvar o papel, será o Correio da Manhã e o Record –, mas os nossos projetos em papel estão cada vez mais bem preparados e mais bem apetrechados para enfrentarem o futuro da operação jornalística também no digital.
E isso é através do projeto Alfa, que está em plena ebulição, está em velocidade cruzeiro e acho sinceramente que é algo que me deixa muito satisfeito, a forma como também ao nível do digital as nossas equipas respondem e conseguem ultrapassar os desafios. Esse é o primeiro vetor.
O segundo vetor é, evidentemente, a procura de melhoria da operação em papel, no sentido de conseguirmos ultrapassar as dificuldades que a indústria cada vez mais nos coloca, quer ao nível da impressão, quer ao nível da distribuição.
Tenho escrito isso por diversas vezes, tenho apelado aos governos sucessivos, no sentido de fazermos ver que se o poder democrático não estiver atento, muito rapidamente estamos em risco de não conseguir fazer chegar jornais e livros a todo o território nacional.
Se daqui a daqui a três anos me voltar a convidar para estar aqui numa entrevista, já estaremos a falar de uma empresa que terá seguramente outros canais de televisão.
Devido à distribuição.
Devido à distribuição. Há também um problema ao nível da impressão, porque, na verdade, cada vez mais a impressão dos jornais em Portugal é uma atividade deficitária, em que as maiores empresas estão em dificuldades e nós muitas vezes temos que procurar soluções lá fora.
O terceiro pilar é o televisivo, onde temos um projeto líder, absoluto no cabo, que é a CMTV. Temos este projeto, o Now, que em breve vai liderar o seu segmento. E, se daqui a três anos me voltar a convidar para estar aqui numa entrevista, já estaremos a falar de uma empresa que terá, seguramente, outros canais de televisão.
Alguma área prioritária? Desporto, por exemplo?
Neste momento não temos ideias. O desporto é uma área que está muito bem entregue, em termos de horário nobre à CMTV, não penso que seja pelo desporto. Mas é um processo de reflexão que terá que ser feito internamente, e também com os nossos parceiros, e vai ser seguramente feito.
Agora, quando surgir, mais uma vez, vamos ter a ambição de liderar esse segmento de mercado, seja ele qual for. Essa é a mensagem primordial que, internamente, desenvolvemos sobre todos os projetos.
Falando do segundo eixo, o papel. O Correio da Manhã está a vender em banca cerca de 34 mil exemplares e 2.700 no digital. O papel ainda faz sentido?
Faz sentido, claro que sim.
No Correio da Manhã, no Record e em todos os vossos outros títulos?
Temos vários títulos, todos eles líderes de segmento. O Correio da Manhã, o Record, a Sábado, temos o Negócios, temos a TV Guia.
Na Sábado, no Negócios, na TV Guia, ainda se justifica?
Como o nosso CEO salientou, todas as operações são auto-sustentáveis, para nós é ponto de honra.
Não temos planos de fazer qualquer tipo de movimento de abandono do papel. Isso está fora de questão.
Mas podem ter que ser reformuladas, não?
Não temos planos de fazer qualquer tipo de movimento de abandono do papel. Isso está fora de questão. O único tema primordial, e essa é a mensagem principal que gosto de passar às equipas e, sempre que tenho oportunidade e que é pertinente falar ao mercado, gosto de deixar claro, é que não se pode gerir os media com uma lógica diferente da pura lógica do mercado.
Ou seja, se as receitas são, expectavelmente 100, não podemos fazer uma operação jornalística para gastar 110 à espera dos amanhãs que cantam, porque os amanhãs não vão cantar.
Agora, se temos uma operação em que as receitas que podemos esperar, realisticamente, são 100, se gastarmos 90 ou 95, já temos uma operação que liberta valor e que pode remunerar os acionistas, remunerar convenientemente todos os profissionais e ser saudável. Se alguma coisa, de forma mais permanente e duradoura, eu gostaria que se transformasse na minha mensagem para a indústria, é que a forma de gerir os media tem que ser racional.
Não podemos gerir os media com base nem numa economia vodu, nem numa economia de casino, nem na expectativa de que virá aí um paraíso qualquer em que subitamente as receitas vão disparar neste ou naquele nicho de mercado. Isso não vai acontecer. E se acontecer, depois logo reformularemos o negócio.
Mas isso não vai acontecer. Não acontecendo, temos que gerir o negócio das notícias como qualquer outro negócio. Um negócio é o que tem que ter receitas suficientes para suplantar os custos. É isso que fazemos na Sábado,…
Se as receitas são, expectavelmente 100, não podemos fazer uma operação jornalística para gastar 110 à espera dos amanhãs que cantam, porque os amanhãs não vão cantar.
Que teve uma reestruturação este ano. Foi porquê? Qual o objetivo ao certo com a saída de Nuno Tiago Pinto, que era o diretor?
A operação da Sábado estava extraordinariamente baseada na operação em papel. E, nesse sentido, a direção que estava em funções, do Tiago Pinto, cumpria bem o seu papel e o projeto estava pujante. Simplesmente é preciso preparar a Sábado para estes passos todos, para a evolução digital e para a integração na televisão, que na altura estava a dar os primeiros passos. Foi nesse sentido que decidi trocar a direção e acumular transitoriamente, por acaso ainda se mantém, a direção da Sábado.
A Sábado é hoje um título auto-sustentável, tem uma operação digital mais forte, tem uma operação televisiva muitíssimo pujante, tem uma presença no horário nobre do Now, que lidera muitas vezes já sobre todos os seus concorrentes. Ou seja, é o produto televisivo, que mais facilmente se adequou à exigência de liderança do canal Now. A Sábado tem um papel no canal Now verdadeiramente assinalável.
E ainda vale também por si, fora do Now? Ou todas as marcas são agora vistas numa lógica muito de integração?
Multiplataforma, sim. Tem que ser. Ou seja, com a queda progressiva das receitas do papel, o desafio para cada um dos títulos é encontrar novas fórmulas e novas fontes de receita.
Esse não é o principal escopo da missão do jornalista, nem do gestor de jornalistas que eu sou. O principal escopo é arranjar a melhor forma, praticar o melhor jornalismo possível, para chegar ao público que, de acordo com o estatuto editorial e o ADN de cada título, cada um desses títulos tem. A Sábado é um dos títulos que enfrentou melhor esse desafio.
Voltando ao Now. Após o lançamento, adaptaram muito rapidamente a grelha…
A grelha é um processo em permanente evolução.
O que podemos esperar deste segundo ano? No ano passado falava em protagonistas, em notícias, em especialistas, no canal da hora certa. Esta ideia de protagonistas caiu um bocadinho, não?
Nós temos bons protagonistas ao nível do desporto, do internacional e da política.
O Now neste momento tem três horários que eu acho que já estão muito bem consolidados, tem um horário que na próxima segunda-feira estou em crer que vai também consolidar-se e rapidamente liderar, e tem dois grandes desafios.
O Record passou a ocupar uma faixa muito significativa da grelha.
O Now, genericamente, é o projeto televisivo da MediaLivre que agrega conteúdos de quatro títulos, a Sábado, o Negócios, o Record e a Máxima. O canal neste momento tem três horários que eu acho que já estão muito bem consolidados, tem um horário que na próxima segunda-feira estou em crer que vai também consolidar-se e rapidamente liderar, e tem dois grandes desafios.
Que são?
O horário da hora de almoço, o Jornal da Hora de Almoço, que é um grande jornal generalista com preponderância para a informação internacional, é um jornal que desde o momento zero do canal Now sempre foi o jornal que organizámos de forma mais sistemática e que funcionou como pilar quando estávamos a reestruturar todos os outros horários.
Tem um segundo horário, que está muito consolidado, que foi quando tivemos a sorte de conseguir atrair para o nosso projeto o Germano [Almeida), e o horário nobre, sobretudo das 22h30 em diante, através do programa dele, Guerra e Paz, está absolutamente consolidado. Aliás, quando foi à campanha eleitoral, um dia entrou no meu gabinete e disse, “impressionante, nunca fizeste cair o Guerra e Paz”. “Claro que não, isto no fundo, nesta fase, é o Guerra e Paz e mais 10”, respondi.
E o terceiro horário, que está muito bem consolidado, é o do Repórter Sábado, que estava ao sábado e alargámos também para domingo. O horário nobre de sábado e domingo está muito forte, muito pujante, através das reportagens da equipa da Ana Leal.
Depois tem uma área que se consolidou como uma característica distintiva do canal, que é o futebol. Tem um jornal às 11, um jornal a meio da tarde e depois tem o Hora Record, em horário nobre, que no fundo mais não faz do que competir em espelho com a grelha que a CNN tinha.
Temos um canal de cabo, na informação, a CNN, que é o canal que tem mais programas de futebol na antena. E no horário nobre, se não tivéssemos um programa de futebol, seria mais difícil conseguirmos vir a ganhar à CNN, porque o programa de futebol da CNN no horário nobre é muito forte. Já ganhámos em alguns dias, mas temos como missão consolidar aquele horário sistematicamente.
No início tinham o jornal às 20h.
Passou para as 21h, e às 20h entrou o Hora Record, para competir diretamente com o jornal de desporto da CNN, que era o único canal, nessa altura, que tinha, nem a CMTV tinha. Só um canal tinha um programa de desporto, de futebol, às 20h, que é a hora mais importante. Agora há dois, a CNN e o Now. E o Now toma essa opção porque, para vencer, tem que combater as armas mais fortes da CNN, e uma das armas mais fortes da CNN é o futebol.
E qual o horário que acredita que se vai consolidar em breve?
É o horário da meia-noite. Contratámos o major general Isidro, que tanta polémica tem levantado nos últimos dias. Tivemos a sorte de ele estar no mercado e, a partir de segunda-feira, vem iniciar uma nova rubrica, com um nome próprio, com um novo grafismo, com um novo pivô, à meia-noite. Estou em crer que esse horário também rapidamente vai cair para nós.
Depois, temos o desafio para muito em breve de começarmos a trabalhar nas manhãs. Tenho notado que as operações informativas do Now ainda não começam à hora que devem começar: o primeiro momento da manhã, e vamos resolver isso rapidamente.
Através de uma manhã sólida, programas de desporto líderes, o jornal das 13h com muita substância, o fim da tarde bem organizado com o jornal das 19h do João Ferreira – que também é um jornal que já está consolidado naquilo que nós queremos –, com o Pedro Mourinho no jornal das 21h – que é o principal jornal do canal e que tem um desempenho também positivo –, com o horário nobre ocupado pelo Germano [Almeida], pelos protagonistas, e depois o late night, meia-noite, com o major-general Isidro, estou em crer que vamos ter uma grelha que nos vai aproximar mais do nosso objetivo, que é liderar.
Antecipa a liderança em quanto tempo?
Isso não posso dizer. Mas faz parte, desde o momento zero, do nosso plano de negócios. Devo dizer que está a ser muito mais rápido do que pensava.
Está a ser mais rápido?
A aproximação à concorrência, sim. Enfim, passámos a RTP3 em 15 dias. E a aproximação aos outros também canais está a ser muito mais rápida do que eu pensava.
A SIC Notícias mudou muito a sua prática e melhorou bastante. Aumentou a sua capacidade de resposta, conseguiu reformular-se e refundar-se e acho que se transformou num player verdadeiramente mais forte neste último ano.
Como vê os outros canais? No ano passado dizia que basicamente existia a CMTV e os outros, falando também de falta de quase de imaginação na programação.
Sim. Acho que a SIC Notícias mudou muito a sua prática e melhorou bastante. Aumentou a sua capacidade de resposta, conseguiu reformular-se e refundar-se e acho que se transformou num player verdadeiramente mais forte neste último ano. Isso é bom e interpela-nos, como concorrentes que somos, e ficamos contentes de ter concorrentes mais fortes do que ter concorrentes mais fracos.
A RTP3, apesar, digamos, do ambiente negativo que agora se gerou, sobretudo por causa desta polémica entre o presidente da empresa e o antigo diretor de informação, na verdade a RTP3 é um canal de informação muito forte. É, a seguir a CMTV, o canal que tem uma rede nacional de respondentes mais forte. No meu gabinete está sempre ligada também a RTP3, estão os quatro.
A RTP3 reflete a audiência que tem?
A RTP3 tem diversos problemas. Tem diversos problemas de grelha e de apresentação do produto, mas que são facilmente resolúveis. A RTP tem mais meias do que todos os players concorrentes. O antigo diretor queixa-se de falta de meios, mas quase dá vontade de rir no mercado, porque a RTP tem efetivamente uma quantidade de meios que não tem comparação, por exemplo, com a CMTV ou com a Now, não tem absolutamente nenhuma comparação.
Tenho a certeza que o novo diretor, o Vítor Gonçalves, vai dar a volta àquilo em três tempos. Já dei a instrução à minha equipa para estarmos muito atentos, porque a RTP3 vai ficar ainda mais forte do que é.
A CNN é um porta-aviões da TVI. Como franchising de uma marca internacional, é aquilo que nós sabemos. Um produto feito de acordo com padrões, formatos e modelos internacionais, em que a ligação aos formatos portugueses é muito reduzida, e isso em alguns momentos dá-lhe uma vantagem comparativa grande.
É um concorrente muito, muito forte. Em Portugal, há um concorrente que conseguiu derrotar a CNN, coisa que eu não sei se nos outros mercados acontece, que é a CMTV. Nós achamos que vai haver dois, a CMTV e o Now.
Tenho a certeza que o novo diretor, o Vítor Gonçalves, vai dar a volta àquilo (RTP3] em três tempos. Já dei a instrução à minha equipa para estarmos muito atentos, porque a RTP3 vai ficar ainda mais forte do que é.
Acredita que vão continuar a crescer todos? Ou para o Now continuar a crescer já vão buscar audiências aos restantes?
Acho que vamos continuar a crescer todos. Cada vez mais o consumo da televisão por cabo vai continuar a crescer. Há pouco falávamos, e bem, não há como esconder, da crise do papel, mas na verdade a crise maior é a crise das televisões generalistas, RTP1, SIC e TVI. Essas três estações vão continuar em erosão, não tenho nenhuma dúvida sobre isso, por várias razões.
Em primeiro lugar, têm uma estrutura de custos que é absurda. São três projetos televisivos cuja proposta de valor é baseada em produtos feitos de acordo com a economia antiga. Ora, essa economia desapareceu e os canais generalistas continuam a gastar exatamente o mesmo dinheiro, ou mais, do que gastavam há 10, 15 e 20 anos.
Isso é um absurdo. É brincar com a sorte. Isso vai acabar mal. Aliás, em alguns casos, ao que se diz, eu não tenho dados, nem quero entrar por aí, mas em alguns casos está a acabar mal.
Refere-se à Impresa?
Não quero referir, refiro-me em geral. Os canais generalistas de sinal aberto são feitos de acordo com uma estrutura de custos que foi projetada, desenhada e definida, há década e meia, duas décadas, e esse mundo já não existe. Essas receitas já não existem. Essa forma que tínhamos de consumir a televisão já não existe.
A TVI, por exemplo, na sua grelha, tentou com este diretor-geral, agora recentemente, uma faixa de programação diferenciada em cada um dos dias, segunda, terça, quarta, quinta e sexta. Isso é um absurdo, é não olhar para o espectador de hoje.
Nós, todas as nossas famílias, temos um momento em que consumimos os produtos a que estamos habituados. No momento em que decidimos consumir produtos que não estamos habituados a consumir todos os dias, já não vamos aos canais da generalistas, vamos às plataformas ou aos programas de informação, para alguma notícia, ou por causa do desporto, ou por causa da segurança, seja o que for.
Um canal generalista procurar fazer uma grelha baseada numa faixa horizontal de segunda a sexta, às nove da noite, é brincar com sorte. Há um conjunto de decisões e de circunstâncias que faz com que os canais jornalistas de sinal aberto, RTP1, SIC e TV, estejam verdadeiramente a brincar com o seu destino.
E isso tem um efeito prático, está a ter e vai continuar a ter, que é a degradação progressiva do público. Os canais jornalistas vão continuar a perder público. Se falamos na crise do papel, devemos falar com muito mais intensidade na crise dos canais generalistas.
Falávamos, e bem, não há como esconder, da crise do papel, mas na verdade a crise maior é a crise das televisões generalistas, RTP1, SIC e TVI.
Continua a acreditar que ainda vai ser um canal de cabo a liderar, a CMTV?
A CMTV cresceu muito desde a última vez que nós estivemos aqui, há um ano.
Sete décimas.
A CMTV vai até onde os seus espectadores permitirem. Eu gosto muito de usar esta frase, porque é verdade. A CMTV é uma linguagem televisiva mais do que um projeto. A CMTV reformulou, e eu digo isto e não tenho mérito nenhum, tem o anterior diretor que a inventou, o Otávio [Ribeiro], e tem as equipas que têm sucessivamente feito esta ideia, a linguagem televisiva.
Porque é que a CMTV perde dezenas e dezenas de profissionais contratados pelas suas concorrentes, sempre em economia de casino, e não treme? Porque a CMTV é mais do que um produto do Carlos, do Paulo, do Pedro, da Sara, do Zé Carlos, do Daniel ou de quem for. A CMTV é uma linguagem televisiva.
O que é que é essa linguagem televisiva? É muito simples, é a predominância permanente da notícia e a procura de dar, noticiar e cobrir em direto, o mais depressa possível, idealmente, de forma imediata.
Ora, esta linguagem televisiva transformou-se de tal forma, exatamente nisso, numa linguagem televisiva, que hoje contamina todos os canais, incluindo os canais generalistas. Por isso é que nós falamos da CMTVização dos canais de informação e dos canais generalistas. A CMTVização dos canais de informação e dos canais generalistas mais não é do que a assunção de que, hoje em dia, CMTV em português quer dizer linguagem televisiva.
Nós fundamos essa linguagem televisiva. Por isso é que tiramos uma peça, duas peças, 10 peças, 20 peças, 30 peças, 70 peças… no outro dia estivemos a fazer o levantamento do número de pessoas, por exemplo, que a TVI nos veio buscar desde que fundou a CNN.
Um canal generalista procurar fazer uma grelha baseada numa faixa horizontal de segunda a sexta, às nove da noite, é brincar com sorte.
Quantas foram?
Foram muitas, muitas, muitas. Não vale a pena, porque é chocante. Se eu disser o número, vai parecer mentira. Mas não, é verdade e é muito elevado. E, na verdade, a CMTV não mexe nada. É essa forma de linguagem televisiva que acho que, mais tarde ou mais cedo, acabará por ser o canal mais visto em Portugal. Quando? Não sei dizer. Mas vamos continuar a crescer.
O espectador é que vai decidir. Cada vez mais, os canais de televisão, e devido às muitas solicitações que nós todos temos, independentemente de qual é a configuração das famílias e de qual é a configuração do entretenimento que cada um de nós tem na nossa vida privada, essas fontes multiplicaram-se. Mas vamos à televisão sempre, pelo menos perante um impulso, que é o impulso da notícia. Isso é a CMTV.
É a CMTV mais do que o Now, que é o canal de notícias, de informação?
O Now é um canal diferenciado, com um tipo de informação diferente, em que há lugar aos protagonistas e à opinião dos protagonistas, há lugar à reflexão e há lugar a algum tipo de informação que não é tão imediata, da mesma forma que a SIC Notícias, a RTP3 ou a CNN.
Mas quando acontece alguma coisa, diz ao telespectador para ir à CMTV ou ao Now?
Se for um acontecimento de proximidade, o espectador prefere a CMTV. Se for um acontecimento de futebol, o espectador prefere a CMTV. Internacional, economia, luxo, grande reportagem, sobretudo através da marca Sábado, esses são os grandes focos do Now.
A entrevista completa, na qual Carlos Rodrigues faz quatro apelos ao Governo, comenta a representatividade das diferentes forças políticas nos canais de informação, avalia o percurso da CMTV Rádio ou comenta a gestão dos media pode ser vista aqui:
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