Coligação PSD/CDS governa Famalicão há 24 anos, um concelho apetecível economicamente. Conseguirão os seus oponentes mudar a cor dos Paços do Concelho nas próximas autárquicas?
É o terceiro concelho mais exportador do país, com um forte ADN empresarial, com empresas a dar cartas como a Continental Mabor, a Leica ou o grupo têxtil Riopele. Em pujante crescimento económico, Vila Nova de Famalicão tornou-se um município apetecível para governar e candidatos não faltam, ainda que desta vez o Bloco de Esquerda (BE) não entre na corrida eleitoral. Já o atual autarca Mário Passos (coligação PSD/CDS) recandidata-se a um segundo mandato, acenando com trabalho feito em prol da atração de investimento e competitividade. Não é, por isso, de esperar que entregue de bandeja à oposição a obra feita e o poder conquistado.
Motor de desenvolvimento económico do país, há 24 anos que Famalicão se veste das cores da coligação “Mais Ação. Mais Famalicão” (PSD/CDS), primeiro com Armindo Costa (2001–2013), depois com Paulo Cunha (2013–2021) e a seguir com Mário Passos que não se cansa de reiterar que “Famalicão é conhecido como uma grande locomotiva de Portugal. É o terceiro concelho mais exportador de Portugal, o segundo que mais contribui para a balança comercial nacional“.
O município até ostentou o título de Região Empreendedora Europeia de 2024 e viu nascer em 2023 o Projeto Lusitano, num investimento de 111,5 milhões de euros, que envolve 17 parceiros numa aposta em soluções sustentáveis e energéticas para revolucionar a fileira têxtil. Inserido na Agenda Mobilizadora para a Inovação Empresarial da Industria Têxtil e do Vestuário de Portugal, este projeto contemplou, na altura, a a inauguração de uma Central de Biomassa, na Riopele.
Já por essa ocasião o então primeiro-ministro António Costa considerou a agenda mobilizadora “Projeto Lusitano” uma oportunidade para a indústria ser ainda mais “competitiva, próspera, geradora de emprego e cada vez de maior rendimento para quem trabalha em toda esta fileira”. Em março deste ano a fileira do setor têxtil e do vestuário já tinha executado 50% dos investimentos do projeto Lusitano.
Famalicão é conhecido como uma grande locomotiva de Portugal. É o terceiro concelho mais exportador de Portugal, o segundo que mais contribui para a balança comercial nacional.
Há por isso motivos de sobra para os vários partidos se quererem sentar na cadeira do poder que Mário Passos já aquece desde 2021, com 52,88% dos votos nas urnas pela coligação PSD/CDS que governa a cidade há três mandatos seguidos. Começou a trilhar caminho para a liderança do município como vereador dos anteriores executivos (2009 a 2021), nos pelouros nas áreas do desporto, freguesias, juventude, habitação e modernização administrativa. E agora recandidata-se a um segundo mandato.
Resta saber agora se algum dos seus concorrentes está à altura de convencer o eleitorado que é melhor do que o atual autarca, que apresentou na última segunda-feira as linhas gerais do seu programa eleitoral carregado de promessas e feito de “experiência, ambição, responsabilidade e credibilidade”. Assegura mesmo que “mais do que um compromisso com o presente, este programa é um legado para o futuro de Famalicão”, um território com provas dadas ao nível da competitividade económica.
E não é o único a acenar com o desenvolvimento económico para conquistar mais votos do eleitorado famalicense. O candidato do PS, Eduardo Oliveira, pisca o olho a empresários e trabalhadores, e lança a cartada de um Plano Estratégico Municipal de Desenvolvimento Económico para gerar emprego qualificado, atrair investimento estruturante e fortalecer o tecido empresarial e o ecossistema de inovação.

Já o atual presidente de Câmara tem um trunfo na manga: durante o mandato foi fazendo um périplo pelas várias empresas do tecido famalicense, numa ação de charme que lhe pode valer mais alguns votos nas urnas. Acresce ter como mandatário o ex-presidente da Câmara de Famalicão e atual eurodeputado Paulo Cunha (2013–2021) do qual foi vereador, e conhecer os cantos da casa.
Nesta corrida eleitoral o BE fica de fora. A comissão coordenadora da concelhia famalicense justificou a decisão com a necessidade de um “período fundamental para o fortalecimento interno do Bloco e para o aprofundamento da sua intervenção política no concelho”. Mas há mais agentes a ir a jogo: a Iniciativa Liberal (IL) concorre sozinha com Paulo Ricardo Lopes que promete reduzir os impostos e apostar na educação e na melhoria da qualidade de vida diária dos famalicenses.
Já o Chega escolhe Pedro Alves, atual líder da concelhia do partido, como cabeça de lista da candidatura ao município. O subchefe dos Bombeiros Voluntários de Riba d’Ave apontou, por estes dias, o dedo ao atual Executivo devido às obras na Avenida Humberto Delgado, que classificou de “manobra eleitoral apressada e irresponsável” a pouco tempo das autárquicas que acontecem a 12 de outubro.
Numa entrevista recente ao jornal Opinião Pública, de Famalicão, o candidato afirmou estar convicto de que será eleito vereador na autarquia para depois trilhar caminho com uma vitória segura nas eleições de 2029.
Já a CDU apresenta-se na corrida, em coligação com Os Verdes, com Sílvio Sousa à cabeça; o PAN dá destaque a uma candidatura feminina com Sandra Pimenta na liderança; e o ADN vai a votos pela primeira vez com Anabela Gomes como candidata.
PSD promete mais 400 casas de arrendamento acessível
Para “gerir um concelho com 39 juntas de freguesia e impulsionar projetos e programas”, além de conquistar a confiança da população, o social-democrata Mário Passos escolheu a dedo os candidatos da sua lista. Nomeou Hélder Pereira (CDS-PP), vereador em funções, como o número dois, e em terceiro lugar Susana Pereira, independente e ex-presidente da Junta de Freguesia de Riba d’Ave, que surge como grande novidade. Seguem-se depois como candidatos os atuais vereadores Augusto Lima (PSD) e Pedro Oliveira (PSD).
Mário Passos acena com uma mão cheia promessas: mais 400 casas de arrendamento acessível, 800 lugares de estacionamento na cidade, 400 vagas em creche, 100 mil árvores e a construção de um multiusos “de grande dimensão”. Um programa alicerçado em seis grandes agendas para Famalicão: “Mais Verde, Mais Qualificado, Mais Comunitário, Mais Saudável, Mais Inovador e Mais Inteligente”.
A transformação do atual Famalicão INHub, em Vale S. Cosme, num Centro de Ciência e Tecnologia e a requalificação das escolas EB 2,3 e a criação de uma APP são mais algumas das propostas. Acresce a requalificação e ampliação do Hospital de Famalicão, a criação de um programa de apoio à vacinação infantil, o reforço da presença policial no quotidiano dos famalicenses e a conclusão da instalação de videovigilância. Se ganhar, fica ainda a promessa da construção do novo Estádio, sem investimento municipal.
IL defende Parceria público-privado no hospital
Sob o lema “A Mudança é agora”, o PS entra na corrida com o candidato Eduardo Oliveira para destronar o PSD/CDS-PP de três mandatos seguidos. Recentemente fez do “risco de encerramento do hospital de Famalicão” mais uma bandeira política, depois de já ter prometido a construção de um novo hospital, “mais médicos, a diminuição dos tempos de espera das cirurgias e de consultas, além da garantia geral de melhores condições para os profissionais e utentes”.

O socialista condenou publicamente o “silêncio da Câmara Municipal” de Famalicão em relação a este tema que já foi levado para a campanha política por outros candidatos. Em causa está, denunciou em conferência de imprensa, a entrega do Hospital de Santo Tirso à Misericórdia e a construção de um novo hospital central para 300 mil habitantes. “O que implicaria a perda de valências e serviços essenciais para a população, como a maternidade e a urgência médico-cirúrgica em Vila Nova de Famalicão”, acusou o socialista.
O atual Executivo não demorou a dar-lhe troco, assegurando que o hospital famalicense tem cinco candidaturas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “para a modernização das atuais instalações, nomeadamente, para a aquisição de novos equipamentos hospitalares e novo mobiliário, para a construção de duas novas salas cirúrgicas, para a renovação das áreas de internamento pediátrico e da unidade de esterilização e para a melhoria da eficiência energética do edifício”.
Com a temática hospital no centro da discussão na campanha política, também a Iniciativa Liberal (IL), que vai sozinha a jogo com Paulo Ricardo Lopes, vem a público defender uma Parceria Público-Privada (PPP). Argumentos não lhe faltam: esta “medida já demonstrou resultados positivos noutras unidades hospitalares do país, com ganhos de eficiência, redução de custos e melhor qualidade no atendimento aos utentes”.
Se ganhar, vai mesmo apresentar uma moção nesse sentido, e alega que o hospital “precisa de uma administração que tenha capacidade de resolver problemas, motivar os profissionais e que não fique presa à burocracia a que os gestores hospitalares estão sujeitos, sob pena de continuarem a persistir os problemas atuais, em que chover dentro do hospital e ter condições deficientes de higiene na cantina passou a ser normal”.
As críticas a Mário Passos não vêm só dos seus adversários políticos. Surgem no seio do seu próprio partido com a a líder da Comissão Política Concelhia, Sofia Fernandes, a acusá-lo de ultrapassar “linhas vermelhas” aquando da formação da lista candidata à Assembleia Municipal”. Em rota de colisão com o candidato, Sofia Fernandes — que já foi vereadora do Executivo de Mário Passos e é atualmente deputada na Assembleia República –– anunciou mesmo que se iria afastar da campanha eleitoral para as autárquicas de 12 de outubro.
Os dois já disputaram a presidência da Comissão Política do PSD em 2024 e ainda que Sofia Fernandes tenha mostrado inicialmente apoio à candidatura de Mário Passos, a relação entre os dois azedou mesmo desta vez.
PS promete reconversão do centro urbano
À margem dessas disputas, alguns dos opositores de Mário Passos têm surgido com ideias mais ousadas. Como é o caso do socialista Eduardo Oliveira que, se ganhar a 12 de outubro, avança com um projeto de reconversão do centro urbano da cidade, num investimento de 10 milhões de euros, com parque de estacionamento subterrâneo para 300 viaturas, zonas verdes, e a transformação da Casa Senador Sousa Fernandes num espaço cultural e abertura de cinema, em parceria com o Cineclube.
A promessa ousada visa “trazer de novo a dinâmica comercial e cultural ao centro da cidade, num verdadeiro espaço comercial ao ar livre, moderno, dinâmico e vibrante”, garante o socialista, atirando farpas ao atual autarca: “Hoje, fruto de um planeamento mal pensado – ou, simplesmente, de desleixo –, o nosso centro urbano tornou-se apenas uma memória”.
Uma das medidas passa pela criação do Conselho Municipal Económico e Social, que deverá reunir representantes dos setores empresarial, sindical, social, académico e institucional, com a missão de acompanhar, propor e avaliar políticas públicas que promovam o desenvolvimento sustentável, a coesão social e a competitividade do território.
Eduardo Oliveira pretende ainda reforçar o Espaço Empresas e implementar medidas de apoio ao acesso a mecanismos de financiamento.
Famalicão vive uma enorme pressão no mercado da habitação.
Convicto de “Famalicão vive uma enorme pressão no mercado da habitação”, o candidato socialista garante que vai construir 600 casas a custos controlados em quatro anos e promover a criação de um movimento cívico com o objetivo de construir um novo hospital no concelho.
Na corrida à Câmara faz-se rodear de uma equipa “maioritariamente feminina”, com uma média de idades na casa dos 40 anos e ainda foi buscar alguns independentes.
Apesar de não ir a votos, o Bloco de Esquerda deixa uma orientação aos seus seguidores: “É necessário derrotar a maioria de direita que domina o concelho”. Mais, demarca-se da “extrema-direita e da direita ultraliberal”, que considera “tão perigosa quanto a primeira”.
A 12 de outubro, a decisão cabe aos eleitores.
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