A dinâmica da indústria cultural e o bem estar de um povo

  • Vasco Morgado
  • 12 Julho 2024

A cultura é um bem precioso e essencial para o desenvolvimento humano e social das cidades. Não deve, de forma alguma, ficar refém de entidades públicas que operam de maneira burocrática e isolada.

A economia cultural desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e revitalização das cidades. Traz consigo uma série de benefícios que vão além do óbvio impacto financeiro. Para os mais distraídos, a indústria cultural é, logo a seguir à indústria farmacêutica, uma das que mais faz gerar impacto positivo nas contas do PIB de qualquer país… Sim! Faz gerar dinheiro! E para que conste, ganhar dinheiro com a cultura não é crime. Só em Portugal é que parece isso.

Primeiramente, a economia cultural fomenta a diversidade e a inclusão, pois oferece plataformas para diversas formas de expressão artística e cultural. Isto, por sua vez, contribui para a criação de uma sociedade mais tolerante e aberta, onde diferentes vozes e perspetivas são valorizadas.

Além disso, o investimento na cultura gera empregos, estimula a economia local. Artistas, artesãos, músicos, e outros profissionais do setor cultural encontram oportunidades de trabalho nas suas próprias comunidades, reduzindo a necessidade de migração para grandes centros urbanos. Eventos culturais, como festivais, exposições e performances, atraem turistas e visitantes, fazem gerar receita para hotéis, restaurantes, gráficas, vigilantes, e outros negócios locais. Este ciclo virtuoso fortalece o tecido económico das cidades, promovendo um crescimento sustentável e equilibrado.

Outro dos aspetos positivos é o impacto da economia cultural na educação e no bem-estar dos cidadãos. Museus, teatros, cinemas, bibliotecas e outras formas, ampliam os horizontes de toda uma sociedade e enriquece o conhecimento da população. Programas culturais e artísticos nas escolas incentivam a criatividade e o pensamento crítico, habilidades essenciais para o desenvolvimento pessoal e profissional dos jovens, que num percurso natural serão no futuro quem vai estar a habitar este terceiro planeta a contar do sol. Além disto, a participação em atividades culturais tem demonstrado efeitos benéficos na saúde mental e emocional, proporcionando uma sensação de pertença e comunidade.

Os investimentos na cultura muitas vezes levam à revitalização de bairros e áreas urbanas degradadas. Lembro que o programa “um Teatro em Cada Bairro” já trouxe desde a sua criação seis (a caminho de sete) novos espaços. A criação de espaços culturais, como teatros, galerias de arte e centros comunitários, pode transformar áreas anteriormente negligenciadas em destinos vibrantes e atrativos.

A economia cultural também desempenha um papel crucial na preservação da identidade e do património histórico das cidades. Investir em projetos culturais ajuda a manter vivas as tradições e a história locais, criando um legado importante para as futuras gerações, “quem não sabe história, está condenado a repeti-la” já dizia o filósofo irlandês Edmud Burke. Cidades com uma rica oferta cultural tendem a ser mais atrativas para novos moradores e investidores, pois oferecem uma qualidade de vida superior, com uma ampla gama de opções de lazer e cultura.

A cultura é um bem precioso e essencial para o desenvolvimento humano e social das cidades, e não deve, de forma alguma, ficar refém de entidades públicas que operam de maneira burocrática e isolada.

A cultura não pode esperar um ou mais anos para se decidir se o Estado ou um privado faz um investimento numa cidade ou no país. Quando as decisões culturais são tomadas apenas dentro de quatro paredes, sem a devida consulta a todo um leque de opiniões que vão desde o público aos profissionais do setor, corre-se o risco de limitar a criatividade, a diversidade e a relevância das iniciativas culturais.

Para enriquecer ainda mais o cenário cultural do país, é preciso abrir a lei do mecenato a um novo paradigma, uma abertura à iniciativa privada, já que essa é responsável por quase 70% da cultura em Portugal. Essa aproximação potencializa as oportunidades de financiamento para projetos artísticos, permitindo maior acesso à cultura e incentivando a participação ativa de empresas e cidadãos no desenvolvimento cultural. Com essa união, celebra-se a diversidade cultural brasileira, promovendo um ambiente de criatividade e inovação que beneficia toda a sociedade.

É crucial que a gestão da cultura seja inclusiva, participativa e dinâmica. As políticas culturais devem ser elaboradas com base em diálogos abertos e transparentes, envolvendo artistas, produtores culturais, académicos e de quem mostrar interesse. Desta forma, as iniciativas refletem as reais necessidades e desejos da comunidade, promovendo um ambiente cultural vibrante e representativo.

Além disso, a independência e a flexibilidade são essenciais para a evolução cultural. As entidades públicas precisam reconhecer a importância de parcerias com o setor privado e os mais diferentes agentes culturais. Essas colaborações podem trazer novos recursos, ideias inovadoras e uma abordagem mais ágil e eficiente para a gestão cultural.

A descentralização das decisões culturais é também fundamental. Incentivar e apoiar iniciativas culturais em diversas partes da cidade e do país, incluindo áreas periféricas e menos favorecidas, garante que todos os cidadãos tenham acesso à cultura e possam contribuir para a cena cultural local. A diversidade geográfica na oferta cultural faz enriquecer como um todo e promove a inclusão social.

A importação de grandes nomes mundiais da cultura traz consigo inúmeros benefícios para a economia cultural das cidades e dos países. Primeiramente, atrai um grande número de turistas e visitantes, faz gerar receita significativa para todo o comércio. Desde a empresa que imprime os cartazes para o evento, criativos de imagem, comunicação que cobre o evento, restaurantes e por aí fora, pois os funcionários destes negócios têm assim mais segurança a estabilidade da empresa que os contrata. Quanto mais gente é precisa para trabalhar, mais direta e indiretamente todos ganham. Podia elencar aqui, mas este artigo já vai extenso e ficaria uma never ending story – e eu não canto tão bem como o Limahl. Além disto estes eventos colocam a cidade e o país no mapa global, aumenta a visibilidade e prestígio. Isto, por sua vez, pode e vai atrair futuros investimentos de outras áreas, bem como mais eventos de grande porte.

Em suma, a economia cultural é uma força motriz para o desenvolvimento urbano. Ela promove a diversidade, cria empregos, impulsiona o tecido económico, enriquece a educação e preserva o património cultural. Cidades que reconhecem e investem na cultura não apenas colhem benefícios económicos. Dou os exemplos de Austin, Califórnia, Londres ou Paris, que apostam e ganham bastante com a economia cultural, constroem também comunidades mais fortes, coesas e vibrantes. Portanto, apoiar e fortalecer a economia cultural deve ser uma prioridade para administradores públicos, empresários e cidadãos, que desejam ver suas cidades florescerem em todos os aspetos.

  • Vasco Morgado
  • Presidente da Junta de Freguesia de Santo António (Lisboa)

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