A importância da sinergia entre universidades e empresas para a inovação
Portugal é um dos países que mais cria patentes na Europa, mas não é necessariamente o que mais transforma essas patentes em produtos ou serviços que as empresas possam comercializar.
Nos Estados Unidos, a principal referência em produção de patentes no mundo, assim como noutros países (como, por exemplo, o Brasil), podemos verificar que as grandes empresas tecnológicas estão representadas dentro das universidades. Esta presença permite a passagem de briefing aos investigadores para que estes desenvolvam tecnologia que possa ser comercializada e que seja acompanhada por uma demanda do mercado. Da mesma forma, algumas empresas abrem as portas para que estes investigadores possam implementar soluções para os seus clientes.
Em Portugal, existem também incentivos a modelos de colaboração entre universidades e empresas, como o SIFIDE – o mais conhecido e utilizado -, no âmbito do qual as empresas veem apoiado o seu investimento em Investigação e Desenvolvimento, com dedução de IRC até 32,5%.
Estes são apenas alguns dos bons exemplos, internacionais e nacionais, que mostram como a colaboração entre empresas e universidades é um fator relevante para impulsionar a inovação. Para mim, é, até, o principal. Esta sinergia permite que os projetos desenvolvidos por investigadores nas universidades sejam mais direcionados e tenham realmente relevância e aplicabilidade no mundo empresarial. Esta ligação pode ainda contribuir para a formação de profissionais mais bem preparados para o mercado de trabalho, fazendo com que estes passem de um universo mais teórico para um mundo mais prático, abordando problemas que o mercado, de facto, enfrenta.
Quando falamos em produtos deep tech e de tecnologia de ponta, há uma perceção geral de que as universidades estão muito atrasadas em relação ao mercado. Mas a verdade é que a maior parte das tecnologias disruptivas foram criadas por universidades, que estão realmente no topo da inovação no que diz respeito a processos, produtos e serviços. Veja-se o exemplo da vacina contra o Covid-19, que foi criada em parceria com investigadores. O facto de as universidades estarem na origem de tecnologias que valem milhares de milhões de euros e que potenciam novas formas de ver o mundo, faz com que as empresas tenham muito a ganhar em trabalhar com estas.
Através das universidades, as empresas podem ainda identificar e atrair talento, estando próximas dos grandes centros de pesquisa e desenvolvimento e identificando perfis que se alinhem com as soluções que a empresa precisa de desenvolver. A partir do momento em que há uma colaboração com as universidades e se começa a ter projetos de pesquisa financiados, é muito mais fácil para a empresa, posteriormente, absorver esses profissionais, que já estão por dentro das suas necessidades. Apoiar projetos de pesquisa é talvez a forma mais fácil de uma empresa recrutar, através desse primeiro relacionamento criado.
As universidades têm a capacidade extraordinária de desenvolver conhecimento de ponta que pode impactar profundamente a forma como setores inteiros funcionam. Um claro exemplo disto é o caso da metodologia Smart Destinations, criada por uma universidade de Espanha, que contempla uma grande articulação do poder público com o poder privado para transformar o setor de turismo nacional, e que foi responsável por tornar Espanha num dos países mais competitivos do mundo no setor, figurando no top 3 por diversos anos consecutivos, de acordo com o relatório do World Economic Forum.
Em Portugal, o mundo empresarial e o mundo das universidades ainda estão muito separados. O nosso país é dos que mais cria patentes na Europa, mas não é necessariamente o país que mais transforma essas patentes em produtos ou serviços que as empresas possam comercializar. É aqui que o poder político assume também um papel de grande relevância, que passa por fazer com que este processo de sinergia aconteça, criando modelos de negócio eficazes e todas as estruturas para que estes dois mundos convirjam e prosperem.
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