A política e os Miyagis do TikTok

  • Joana Garoupa
  • 21 Março 2024

Consumos dispersos e diferentes do discurso mainstream produzem entendimentos distintos da realidade política projetada pelos media. Vale a pena pensar nisto!

No rescaldo das eleições, com o país em polvorosa a debitar cenários de golpes palacianos a torto e a direito, gostava de puxar a conversa para o tema da comunicação. Este ano detetei alguma frescura nos formatos de cobertura do período eleitoral, por parte dos meios de comunicação social – um esforço genuíno e preocupado de apresentar as propostas politicas em diversas plataformas, por vários canais, usando técnicas de simplificação e interatividade, aproximando o tema dos mais jovens e dos mais distraídos.

Tivemos Votómetros no Observador – ferramenta interativa que permitia, em minutos, descobrir com que partidos se identificava mais – Pulsómetros na CNN – produto tecnológico que se baseava na análise de opiniões de portugueses manifestadas em várias redes sociais – lágrimas na televisão no “Alta Definição”, encontravam-se vencedores de debates por votação no Instagram dos canais, podcasts (ex. Lei da paridade do Expresso onde jovens mulheres comentavam os temas quentes da política), etc.

Os meios de comunicação social sempre foram importantes em contextos eleitorais e este ano multiplicaram as suas ofertas. De facto, para agilizar tempos de programação e a atenção dos eleitores, os debates em TV encurtaram-se. Por sua vez, o espaço de comentário aumentou desmesuradamente. Fizeram-se incontáveis antevisões dos duelos e, depois dos frente a frente de registo bélico, avaliaram-se durante longas horas o desempenho de cada candidato.

Mesmo assim, e analisando de forma global, foi possível verificar uma diminuição das audiências dos debates face a 2022, recordando que nas legislativas de 2022 houve nove debates com uma audiência média superior a um milhão de telespetadores, enquanto este ano apenas quatro debates ficaram acima dessa fasquia.

Parte das pessoas é desinteressada, desligada ou desconfiada do modo como os meios de comunicação abordam a política, dando mais atenção ao que influenciadores, redes sociais, canais de YouTube, memes, amigos e familiares dizem online. É neste circuito — com agendas e abordagens próprias —​ que tomam contacto com os debates (e demais eventos de campanha), nomeadamente através de polémicas geradas por, ou a partir de, certas declarações ou comportamentos.

É sob a forma de vídeos e posts, enquadrados por comentários feitos à medida que a política circula no espaço digital, que os significados atribuídos vão sendo construídos em rede por quem está nesta pista paralela. Veja-se o fenómeno do canal do TikTok de André ventura, que chega a ter posts com mais de 2 milhões de reações ou a mini serie no YouTube de Guilherme Geirinhas – bom partido.

Consumos dispersos e diferentes do discurso mainstream produzem entendimentos distintos da realidade política projetada pelos media. Por isso, ‘vencer/perder’ debates foi um indicador que pouco valeu, na lógica comunicacional atual. No meu entender, o(s) político(s) que perceberam melhor como tudo isto se processa tiveram melhores resultados. Vale a pena pensar nisto!

  • Joana Garoupa
  • Fundadora Garoupa Inc

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