Carta de um marketeer ao Pai Natal

  • António Fuzeta da Ponte
  • 17 Novembro 2023

Não te vou pedir notas nem mais orçamento. Seria injusto pedir-te a ti. Isso peço mesmo ao CEO. Ou melhor, tenho o direito de o exigir! Porque o bom marketing vende, porque o marketing constrói.

Querido Pai Natal escrevo-te só agora e se calhar já vou atrasado. Tenho medo de que o que te vou pedir não se consiga arranjar a tempo. Ou pior ainda, que outros colegas meus já o tenham esgotado, porque acho que todos precisamos muito disto.

Bem… acho que não é escusado relembrar-te que fui um tipo fantástico este ano. Trato a marca como se fosse um ativo económico prioritário, olho para o consumidor como se fosse um irmão mais novo que precisa de toda a atenção, não paro nem um minuto de pensar em como dar mais retorno ao acionista. E claro, mimo a minha equipa até ao limite de ser chato e só me falta mandar croissants do Careca a todas as equipas das agências que trabalham connosco. Trabalham não, são parceiros! Aqui somos todos parceiros, partilhamos objetivos e bebemos chás detox em sunsets perfeitos. Corre tudo espetacularmente bem por aqui, juro!

Ainda assim, ainda me faltam umas coisinhas, ok? Vá, deves estar com pouco tempo, por isso cá vai:

Queria mesmo uma calculadora científica. E mais ainda queria encontrar bons modelos de atribuição – para que o golo não seja sempre do mesmo. É que parece que por mais que façamos, o “último click” diz sempre que foi ele que marcou. Dá para ajudares e mandares uma fórmula fixe e fácil? Já não há? Ou ainda não há? É que andamos para aqui num esforço enorme em todas as disciplinas e depois ele é que aparece sempre nas tabelas. Não é a justo e o resto da malta desanima.

Também gostava muito de receber o melhor jogo de tabuleiro do mundo. E melhores jogos de mercado. Ou seja, menos prémios, melhor reconhecimento. Podes ver se há menos prémios de tudo e mais alguma coisa, que nos roubam tempo e insuflam egos, mas sim um melhor e verdadeiro reconhecimento do que estão a premiar? Foco na criatividade e eficácia. Isso bastaria. E não precisa de ser em mil e uma categorias. E por favor, mesmo por favor: discursos em prémios, só com 30 segundos e só para os vencedores dos vencedores.

Ah, também quero mesmo um safari em África, sempre foi um sonho. Quero muito. Tal como a nível corporativo também precisamos mesmo de um bom enquadramento da viagem de carreira de marketeer. Tal como grande melhoria no início da mesma. Aqui nas empresas precisamos muito de receber jovens fresquinhos, juniores entusiasmados. Mas que venham preparados, em vez de às vezes parecerem bambis à mercê de tigres. Se calhar também temos nós que os deixar brincar um bocadinho antes, para treinarem, não é? Estágios mesmo à séria em vez de tarefeiros mascarados? Ok, é um bom compromisso, mas dá lá um toque às universidades, por favor, ainda assim. Eles que os treinem para o mundo real e não tanto para o “se fosse no mundo ideal…”

Espera, está quase, só me faltam mais umas coisas…

Uma bola de espelhos!!! Tipo “disco” dos anos 80. Essa preciso mesmo. Para fazer uma festa com toda a algazarra que vai para aí com a AI! “Tens que fazer uma campanha com AI, o meu vizinho já fez, o primo da outra também”. São tantos a entrar nesta nova dança que preciso mesmo da bola de espelhos para avançar com mais tchanan.

Falta pouco! É que adorava receber o último smartwatch. E agências ainda mais smart. Que cultivem a criatividade como ‘A Ferramenta’. Que insistam por bons briefings, que persigam o novo com a energia de um rookie. Que nos contrariem sempre que for preciso, que nos tragam propostas que nos façam ter medo, daqueles medos que percorrem a espinha. Porque o que eles fazem (e todos nós neste mercado), que é resolver problemas com a cabeça, é ainda das melhores formas de ganhar a vida que conheço. Mesmo! Aqui, no meu caso, podes deixar isto para último, para ser justo. Mas nunca é demais pedir mais.

E, ao contrário do que possas pensar, ó gorducho, não te quero ir aos bolsos. Não te vou pedir notas nem mais orçamento. Porque isso de dinheiro, cada um que se organize com o seu e eu faço o que for preciso para justificar o meu. E seria injusto pedir-te a ti. Isso peço mesmo ao CEO. Ou melhor, tenho o direito de o exigir! Porque o bom marketing vende, porque o marketing constrói, porque se me deres o que pedi antes, tudo acaba melhor e os resultados aparecem.

Bom Natal, ó Nicolau. Vá, trata lá disto num instante, não me deixes pendurado, que hoje em dia com entregas rápidas a malta está habituada a receber tudo num ai. Com ou sem AI!

  • António Fuzeta da Ponte
  • Diretor de marca e comunicação da Worten

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Carta de um marketeer ao Pai Natal

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião