Usar sem pagar. Não, obrigado!

  • Piedade Guimarães
  • 16 Novembro 2023

Existem sempre aqueles, Mariana, que ainda têm um topete maior. Enquanto houver quem lhes abra a porta, nunca deixaremos de os ter no hall de entrada, sempre prontos para usar sem pagar.

Também nós, Mariana, sofremos das mesmas “dores” porque também nós passamos por isto. Quem disser que nunca viu nada disto… mente. E, não, não vamos desistir de falar sobre isto. Desistir é consentir, é concordar, de certa forma é normalizar a existência de uma prática errada. Também nós, agências de comunicação, temos algo a dizer sobre tudo isto.

Isto? Sim, falo disto a que se chama falta de respeito pelo trabalho dos outros. O tema paira por aí, mas poucas vezes é agarrado como os touros na arena, de frente.

A ideia que algumas empresas têm de que um concurso de prestação de serviços de marketing ou comunicação pode ser um mero pró-forma para cumprir calendário, e não um meio para chegar a um fim (uma avaliação séria do mercado), é um cancro que nos rodeia a todos. Um cancro que necessita de ser liquidado. Totalmente liquidado. Temos de acabar com todos aqueles que já sabem com quem querem trabalhar à partida, mas que apenas por questões de “compliance” pedem propostas a outras agências. Isto deve tirar-nos do sério.

Felizmente são poucas as empresas que fazem isto. Infelizmente ainda existem empresas que fazem isto.

Falo daquele briefing que vem em quatro linhas, a seco, não poucas vezes por email, sem direito a uma reunião (que seja por Teams!), sem objetivos e sem caminho. É sempre um mau sinal. Mas vamos lá porque “às vezes existem surpresas”, ou “pode ser que”…

Por um lado, não queremos deixar de responder, e para responder tem de ser “à seria”, e para ser “à seria” tem de se envolver a equipa, estudar o futuro cliente, a concorrência, o contexto, saber o que se passa no negócio, sentir as dores e cheirar as oportunidades. Apenas e só para chegarmos aqui já foram investidas horas e horas. E desinvestidas horas e horas noutras frentes.

Depois vem a materialização da proposta, os planos de ação, as ideias de eventos, speakers com quem falamos, o catchy angle que foi descoberto, os temas que vamos abordar e as time-lines. Aqui chegados achamos que está feito: pode ser que…

E quem nunca saiu de tudo isto com a mágoa de que mais uma vez entregou o “ouro ao bandido”? Desculpem, não quero insultar ninguém, mas roubar ideias, tempo, esforço e neurónios a outrem sem os remunerar não é boa política. Não sei se vem tipificado no código penal, mas deveria vir classificado na bíblia das boas práticas.

Existem sempre aqueles, Mariana, que ainda têm um topete maior. Pré questionados sobre o valor do budget nada disseram, confrontados com uma proposta que consumiu dezenas de horas a montar abrem finalmente o jogo: “Bem, eu até gostei, mas não temos orçamento…”. Como!? Será que existem empresas sem budget? Com pura navegação à vista? É como chegar a um stand da Porsche e afinal ter dinheiro para pagar um Peugeut. Sonhar faz bem, sonhar à custa do trabalho dos outros não pode ser um exercício gratuito.

Agora uma coisa é certa: enquanto houver quem lhes abra a porta, nunca deixaremos de os ter no hall de entrada, sempre prontos para usar sem pagar.

 

  • Piedade Guimarães
  • COO e partner da Hill & Knowlton

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