Elo de cuidado: Liderança para além dos números
A abordagem de liderança que equilibre o profissionalismo com uma preocupação genuína com a saúde mental é a chave para o sucesso sustentável a longo prazo.
No ambiente corporativo, onde passamos grande parte do nosso tempo, todos temos a responsabilidade de sermos um elo de cuidado. No trabalho, em casa, na vida. A campanha setembro Amarelo 2024 destacou a necessidade de ampliar a rede de apoio, identificar sinais de alerta e agir de uma forma mais consciente e eficaz na prevenção do suicídio e na promoção da saúde mental.
Elo de cuidado: um lembrete importante de que a saúde mental não é apenas uma preocupação individual, mas também uma responsabilidade coletiva. Em ambientes profissionais, é crucial cultivar um local de trabalho onde as pessoas são mais do que números, onde a saúde é uma prioridade juntamente com a produtividade. Isto não quer dizer que devamos ser menos profissionais, empenhados ou dedicados ao nosso trabalho. Nada disso. Devemos esforçar-nos por atingir a excelência, mantendo uma forte preocupação com o bem-estar emocional. A vida é frágil e, todos os dias, traz incertezas – não só para nós, mas também para aqueles de quem gostamos –, o que torna essencial tratarmos a saúde mental como uma prioridade e não como uma reflexão tardia.
Os líderes podem pressionar para obter resultados e sucesso, a curto prazo, mas quando a saúde mental é negligenciada, essas conquistas são efémeras. Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a falta de saúde mental custa à economia global 1 trilião de dólares por ano, devido à perda de produtividade. A liderança que dá prioridade ao bem-estar mental e ao crescimento profissional, por outro lado, cria valor a longo prazo. Estudos demonstram que os locais de trabalho que se centram na saúde mental registam um melhor desempenho dos colaboradores, uma redução do absentismo e taxas de retenção mais elevadas.
Autores como Daniel Goleman, cujo trabalho sobre Inteligência Emocional reformulou a forma como pensamos sobre a liderança, salientam a importância da empatia e da consciência emocional nas funções de liderança. Goleman argumenta que a inteligência emocional, que inclui a autoconsciência e a empatia, é uma componente crítica da liderança eficaz e ajuda a promover um ambiente de trabalho no qual os colaboradores se sentem valorizados, e não apenas pelas suas contribuições profissionais. Ao dar prioridade à saúde mental, os líderes dão o mote para um local de trabalho mais saudável, mais equilibrado e mais produtivo.
Tony Schwartz e Catherine McCarthy também reforçam esta ideia no seu livro The Power of Full Engagement. Defendem que os líderes devem gerir a energia, e não apenas o tempo, para manter um elevado desempenho a longo prazo. Os colaboradores que estão sobrecarregados e stressados podem ter um bom desempenho a curto prazo, mas sem a devida atenção ao seu bem-estar mental, este irá inevitavelmente diminuir.
A liderança que incentiva o bem-estar mental não significa comprometer o profissionalismo, o empenho ou a dedicação. De facto, Brené Brown, na sua investigação sobre liderança e vulnerabilidade, argumenta que os líderes que abraçam a compaixão e a empatia criam confiança e envolvimento nas suas equipas. O seu trabalho, particularmente no livro Dare to Lead, demonstra que a liderança centrada no crescimento pessoal e profissional resulta num melhor desempenho, num maior empenho e em relações mais fortes no local de trabalho. Quando os trabalhadores se sentem psicologicamente seguros e apoiados, a sua capacidade de contribuir plenamente para as suas funções aumenta.
A American Psychological Association salienta que o stress crónico no local de trabalho, provocado por elevadas exigências e pela falta de apoio à saúde mental, contribui significativamente para doenças graves como a ansiedade e a depressão.
Um modelo de liderança que incentiva a excelência profissional e a atenção à saúde mental cria um ambiente onde os funcionários podem prosperar. De acordo com os dados da OMS, a promoção da saúde mental no local de trabalho pode reduzir o absentismo em 30%, enquanto o relatório State of the Global Workplace da Gallup revela que as organizações com elevados níveis de envolvimento dos trabalhadores registam uma rentabilidade 21% superior. Estes números reforçam a noção de que a saúde mental e o sucesso empresarial estão profundamente interligados.
Concluindo, embora seja crucial mantermo-nos profissionais, empenhados e dedicados, é igualmente importante garantir que o fazemos com um enfoque na saúde e no bem-estar. Stephen Covey sublinha que “first things first” significa dar prioridade aos aspetos mais importantes da vida, incluindo a saúde, as relações e o bem-estar. Isto aplica-se não só à vida pessoal, como também à forma como lideramos e trabalhamos com os outros. Uma abordagem de liderança que equilibre o profissionalismo com uma preocupação genuína com a saúde mental é a chave para o sucesso sustentável a longo prazo. Terminado o Mês Mundial da Saúde Mental, lembremo-nos de que o bem-estar das pessoas deve estar sempre em primeiro lugar, porque a vida é demasiado frágil para ser ignorada.
A saúde mental não é uma opção – é uma prioridade.
Assumamos o nosso papel como Elo de Cuidado, enquanto líderes, colegas, professores, familiares, enquanto pessoas. Desta forma, estaremos a contribuir para a redução do estigma associado às doenças mentais, assumindo a responsabilidade coletiva na promoção e no respeito pela vida.
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