Na era da comunicação de consumo rápido não basta ser, é necessário parecer
Todo o político, mesmo aquele que tem boa oratória, necessita sempre de um “spin doctor”. É assim há décadas. Uma mais-valia que Rio nunca percebeu e que Costa sempre soube aproveitar.
Em plena era mediática a comunicação faz-se ao segundo (muitas vezes sem aferir a veracidade da fonte) e o poder da imagem ganha cada vez mais peso. Um caminho que será interessante acompanhar, num país que se prepara para ir às urnas e onde as sondagens parecem contraditórias entre si.
Prometo que não vou fazer (ou tentar fazer) futurologia política, mas antes falar de comunicação política, tanto mais quando já são conhecidos os protagonistas (irei focar apenas quatro), incluído aquele que regra geral é o vencedor – a abstenção.
Pelo lado rosa o candidato apresenta-se como neto de sapateiro e filho de empresário. É-lhe conhecida a veia impulsiva, o não gostar de discutir temas estruturantes, de não se importar com o detalhe, e o tom de voz algo monocórdico. Por outro lado, tem cabelo e barba grisalhos que tendem a agradar ao eleitorado feminino.
Os laranjas apresentam um candidato que já foi nadador-salvador e que tem crescido a “olhos vistos” do ponto de vista da comunicação. Se ao início pedia quase que licença para falar com e para o grande público, hoje cruza muito facilmente o olhar com as câmaras de televisão e transmite a sua opinião olhos nos olhos com o espetador. Os seus discursos ganharam vida e o rosto passou a estar como que iluminado por um sorriso aberto.
Pelo lado dos azul e vermelho o líder dispensa apresentação. Com mensagens populares e num português de fácil compreensão, faz bom uso da máxima “não interessa se falam bem ou mal. Interessa é que falem”. As sondagens revelam isso mesmo.
Quanto à abstenção o perfil é heterogéneo e ora habita nos grandes centros urbanos (que elege mais deputados), ora habita nas ilhas ou mesmo no interior do país. Também pode estar no Céu – é que, apesar das muitas tentativas de atualização dos cadernos eleitorais, no grande Dia percebe-se em todas as freguesias o desacerto entre população efetiva e população inscrita nos cadernos eleitorais.
Apanhados de surpresa, e por força das circunstâncias, as eleições legislativas de março serão das mais renhidas dos últimos tempos e as sondagens já deixam perceber isso mesmo. Mas, será que em comunicação política as sondagens importam? Diria que têm um papel indiscutível e medem o momento. No entanto, e porque sondam a vontade de pessoas que são livres de mudar de opinião, apenas servem o propósito do momento.
Por agora, diria que a comunicação tem de ser a grande vencedora e que os candidatos, independentemente da sua cor partidária, têm de ter agenda e vontade para ouvir os conselhos de quem faz da comunicação o seu dia-a-dia.
Sem exceção, todo o político, mesmo aquele que tem boa oratória, necessita sempre de um “spin doctor”. É assim há décadas. Foi assim que Kennedy ganhou a Nixon num debate que foi percecionado de forma diferente por quem viu em televisão ou ouviu em rádio. Uma mais-valia que Rio nunca percebeu e que Costa sempre soube aproveitar.
A sugestão fica registada. Não basta a oratória. É necessário pensar o conjunto e em conjunto, pois na era da comunicação de consumo rápido não basta ser, é necessário parecer.
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Na era da comunicação de consumo rápido não basta ser, é necessário parecer
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