O ‘diz que disse’… dos pitch

  • Mariana Galindo
  • 13 Novembro 2023

Diz que a Mariana disse que "não vale tudo e que é preciso continuar a falar disto". Passa ao outro e não mesmo. Mais algum dos meus colegas quer dizer mais alguma coisa? Eu diria que sim.

O Nuno disse

Diz o Nuno que os concursos são momentos de grande importância na indústria da comunicação.

Que o pitch é uma excelente oportunidade para nos desafiarmos.

Que os new business também têm o poder de unir equipas e são uma montra do nosso talento.

Que nos permitem mostrar o que a agência é capaz de fazer, apresentando ideias frescas e originais, que captam a essência de uma marca ou de um produto.

O Nuno disse e eu não concordo.

O Diogo disse

Que o nosso talento, precisamente por valer muito, não devia ser oferecido.

Que na grande maioria das vezes, os pitch, não passam de um mero exercício e que ao aceitar participar em concursos não remunerados, não estamos a valorizar o nosso trabalho.

Que estamos a passar a mensagem de que é fácil ter ideias e de que nos é indiferente que elas possam ir parar à gaveta.

O Diogo disse e eu concordo.

O que ainda ninguém disse sobre os concursos, foi a leviandade com que tantas vezes são pedidos pelos clientes.

As tais Ideias que vão parar à gaveta, de que o Diogo fala, muitas vezes não vão lá parar porque a ideia era cara, ou porque era muito arriscada, e por isso é preciso ajustar. Não.

Vão parar à gaveta por outra razão:

Clientes que lançam concursos, convidam quatro agências porque não custa nada, e todas se devem sentir muito honradas por serem escolhidas para participar. Há três que perdem e uma que ganha com uma estratégia e ideia que “era mesmo isto! Está espetacular!”.

Uma alegria que dura apenas até ao final do dia, ou melhor, da semana ou do mês, (geralmente a resposta demora) até que, normalmente a uma qualquer sextas-feiras, o cliente liga (depois de ter estado uns dias desaparecido) e informa a agência que afinal o projeto não avança.

O cliente enganou-se. Ou alguém dentro da empresa e estrutura, não estava alinhado e não quer avançar, ou porque não tem o budget, ou porque o brief não é aquele, ou porque o produto afinal não vai ser lançado ou porque perceberam que o produto não entrega, ou porque sim…ou sobretudo e na minha opinião, porque não custa nada pedir…. na verdade, até é divertido e fértil ver o mercado a disputar e a dar tantas ideias e visões da marca.

Só no último ano e meio, aconteceu-nos isto três vezes. E não estamos a falar de micro empresas onde a imprevisibilidade é enorme. Estamos a falar de médias ou grandes empresas, marcas conceituadas e com planos de marketing concebidos a longo prazo.

Mas e a conta no final, quem paga?

Por mim, que paguem as agências que gostam de entreter os clientes de graça e precisam disso para unir as equipas e criar boas ideias.

Há qualquer coisa de errado aqui. Se nada disto acontecesse e se o mercado respeitasse mais o trabalho das agências, e se pagasse o valor real do tempo para se criar boas ideias – já nem falo do valor real das ideias que esse ficou lá atrás, nos anos 90, quando se deixou de cobrar pelas ideias e se passou a cobrar comissões sobre a media- não tenho uma dúvida que as nossas equipas se iriam sentir muito mais inspiradas e unidas, porque imagine-se (!) levam para casa um ordenado digno do trabalho que fizeram e que até dá para pagar as contas ao final do mês.

Se não há mais inspiração ou união, os responsáveis são os clientes, mas sobretudo das agências que deixam e promovem este sistema.

O Diogo disse ‘Não haverá outras formas de “ouvir o mercado” –– que impliquem menos desperdício de recursos?” e, acrescento eu, já agora que seja mais coerente e consistente com o que defendem nas suas políticas de sustentabilidade.

Diz que a Mariana disse que “não vale tudo e que é preciso continuar a falar disto”.

Passa ao outro e não mesmo. Mais algum dos meus colegas quer dizer mais alguma coisa?

Eu diria que sim.

  • Mariana Galindo
  • Fundadora e planning partner da TTouch

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