Read Love not War

  • António Fuzeta da Ponte
  • 9 Maio 2024

Isto de gerir marcas, de pôr o cliente no centro das atenções, não é acerca de conquista. Não é acerca de invasões, nem de trincheiras, nem sequer de contra-ataques. É acerca de sedução.

A Arte da Guerra, de Sun Tzu, é um tratado militar chinês com mais 2500 anos e ainda assim é uma das referências que mais ouço a colegas de gestão. Desde a universidade até aos dias de hoje são inúmeras as vezes em que ouvi professores, administradores, gestores, admitirem o quanto foram impactados por essa obra e como tentam aplicar ensinamentos que vêm da estratégia militar.

Nunca estranhei muito isso, até porque sou de família com tradições militares e sempre lhes apreciei a disciplina, o rigor e a dedicação. No entanto, em simultâneo, sempre me pareceu demasiado levado ao extremo, demasiado bélico, comparar planeamento militar com a natureza de trabalhar a gestão de uma empresa ou até de uma marca.

Entre colegas de marketing, ou de branding, também já colhi imensas comparações com estratégias militares. Os planos de media equiparados com planos de ataque, os planos de marketing como invasões ou, bem pior, como mapas de trincheiras. E fui estranhando.

Mas eis que na semana passada juntei as coisas e fiquei resolvido. Ou melhor, resolveram-me. Numa conversa longa sobre marcas e sobre o uso do humor pelas marcas, com o Carlos Coelho, o Tiago Guedes, o João Madeira da Silva e o Ricardo Araújo Pereira, nenhum deles me falou como um general. Falaram-me antes com metáforas e frases bem mais poderosas. O humor como a “linguagem dos deuses”, o cuidar da relação com o cliente através de processos de sedução, nunca de conquista. A palavra sedução foi repetida e sublinhada tantas vezes. Sedução…

E eu estou totalmente de acordo. Isto de gerir marcas, de pôr o cliente no centro das atenções, não é acerca de conquista. Não é acerca de invasões, nem de trincheiras, nem sequer de contra-ataques. É acerca de sedução, afinal de contas uma arte ainda mais antiga que a da guerra.

As marcas devem seduzir, nunca parar de seduzir. Os gestores devem seduzir, primeiro que tudo as suas equipas e depois os seus clientes. Os exércitos comandam-se, as equipas seduzem-se. Aliás, o general que seduzir as tropas que comanda ainda mais bem sucedido será. Mas não percamos o foco na sedução e nas marcas. Quem constrói marcas tem de estar bem ciente disso. Que se dominem as ferramentas (as armas), mas muito mais importante, que se alimente a paixão e que se valorize a sedução. Os clientes seduzidos são mais felizes. E voltam mais facilmente ou, se calhar, nunca abandonam.

Brand builders que me possam estar a ler: esqueçam a guerra e o Sun Tzu. Visitem, ou repesquem da prateleira, o Eça de Queiroz, o Jorge Amado, o Gabriel Garcia Márquez… Podem até misturar com mais “cordel”, mas isto é acerca de amor, é acerca de sedução, não é acerca da guerra. Seduzam, não invadam.

  • António Fuzeta da Ponte
  • Diretor de marca e comunicação da Worten

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