Reinvenção e viabilidade dos media de informação

  • Paulo Vaz Tomé
  • 2 Junho 2023

Há sinais de que este processo de reinvenção do modelo de negócio dos media de informação está em curso e pode ser viável. São todos sinais promissores.

No inicio do milénio, a informação era essencialmente vinculada através de três grandes suportes de media: TV em sinal aberto ou por cabo, a rádio e a imprensa. Ainda em 1999, nasceu a CNL canal de informação que viria a dar lugar à SIC Notícias pouco anos depois, seguiu-se a RTP3 e, mais tarde, a TVI24, hoje CNN Portugal, e em 2013 a CMTV.

Foram os tempos áureos em que a produção de conteúdos TV vivia financiada por uma competitiva concorrência das operadoras de Cabo. Em paralelo, sugiram as plataformas digitais, transformadas em agregadores de conteúdos, mas sem reconhecimento dos anunciantes. Para se ter uma noção da desproporção do investimento, em 2010 o investimento em TV valia mais de 341 milhões de euros, enquanto o digital se ficava por uns ligeiros 29 milhões.

Hoje o cenário é bem distinto. Em 2022 o investimento em TV ficou-se pelos 271 milhões (-70 milhões de euros de receita!!) com o digital a disparar cinco vezes para mais de 154 milhões. Como se percebe pelos números, só na última década é que os anunciantes olharam de forma pragmática e assertiva para o investimento no digital, e na eficácia que proporciona em performance e conversão.

Claramente, as estratégias dos anunciantes valorizam cada vez mais a eficácia na alocação dos sempre limitados budget. E o digital consegue de forma quantificada, e razoavelmente transparente, explicar o retorno de cada euro investido, e em quantas vendas se traduz, ou mesmo na afinidade dos vários públicos às marcas em cada uma das redes sociais.

Não vou discutir aqui a forma como os grandes agregadores digitais globais de conteúdos enviesam os equilíbrios e estruturas de receita dos meios que produzem informação. Como sabemos, os hábitos de consumo de informação estão a alterar-se significativamente e os modelos de receita também, levando a uma reinvenção, particularmente relevante, na dita imprensa tradicional.

Em 2022 o investimento em imprensa (incluído news magazines e outras revistas) era um décimo do valor de 2010, ficando-se por pouco mais de 10 milhões de euros!!, embora com ligeiros sinais positivos nos primeiros quatro meses deste ano.

Para que os projetos de informação sejam sustentáveis, terão sempre que conseguir atrair os consumidores de informação e convencê-los a atribuírem valor aos conteúdos, pela qualidade, rigor, relevância e atualidade, pagando assinaturas por valores considerados adequados. Alguns projetos importantes de informação que nasceram no digital, como o Observador, que acabou de comemorar 8 anos, e o Eco, que faz 7 anos, estão hoje a fazer este caminho de sustentabilidade.

(Recordo aqui o pioneirismo e visão dos fundadores do Canal de Negócios nascido no digital em 1997, e que este ano comemora o vigésimo ano de diário em papel/digital, uma referência na informação económica; a novidade refrescante do Euronotícias em 1999; o (pessoalmente) desafiante Agênciafinanceira.com criada ano seguinte, que veio a ser absorvido pelo IOL; o Diário Digital; o Diário Económico, cujo penoso desfecho deu espaço ao Jornal Económico; o Dinheiro Vivo lançado já em 2011; sem esquecer os também os inovadores projetos do Sol (2006) e do i (2009), que estão a preparar relançamento.)

Como referi, além da qualidade, relevância, independência e rigor informativo que garante leitores/subscritores, é também fundamental aos projetos editoriais tornarem-se relevantes para os anunciantes, essenciais para a viabilização financeira dos projetos. Curioso nesta linha de inovação e reinvenção de receita, a realização da primeira conferência sobre branded content em Portugal no final de junho, promovida pelo grupo editorial Cofina.

Há sinais de que este processo de reinvenção do modelo de negócio dos media de informação está em curso e pode ser viável. Basta olhar para o interesse que tem vindo a ser demonstrado através de MBO’s, private equity, investidores nacionais e particularmente estrangeiros, que querem continuar a apostar e trazer capital fresco para projetos de informação. São todos sinais promissores.

  • Paulo Vaz Tomé
  • Diretor de comunicação e marca do Novo Banco

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