Joalheiros queixam-se do aumento de 30% do custo da matéria-prima, como diamantes, ouro ou prata, e da dificuldade em adquiri-los, reduzindo as margens de lucro, ainda que o setor esteja a recuperar.
“Sejam pedras preciosas, como diamantes, ou metais nobres, como ouro e prata, são produtos de investimento que estão mais caros no mercado na ordem dos 20 a 30% e são mais difíceis de adquirir”, começa por afirmar o joalheiro Eugénio Campos ao ECO, na Portojóia, na Exponor, em Matosinhos, que precisa desses produtos para manufaturar as suas peças de joalharia. Este disparar dos preços das matérias-primas acaba por se refletir no preço final ao consumidor. Eugénio Campos aponta o dedo “à instabilidade económica” que assola o mundo devido à pandemia e depois à guerra na Ucrânia.
À semelhança de outros setores da economia, também a joalharia e ourivesaria está a sentir dificuldade em adquirir matérias-primas que chegam a conta-gotas assim como a quebra no mercado, reduzindo as margens de lucro.
Este problema é transversal a várias empresas de joalharia e ourivesaria que o ECO visitou nesta sua 31.ª edição da Exponor, que reúne até este domingo centenas de expositores do setor. “Os efeitos negativos sentidos na obtenção de algumas matérias-primas e subsidiárias da nossa produção, causam-nos muitos constrangimentos. Seja pela subida vertiginosa do preço de alguns materiais, seja pela dificuldade na cadeia de abastecimento, com frequentes ruturas e prazos de fornecimento muito alargados”, frisa Vânia Nogueira, marketing manager da Topázio.
A responsável enumera, por exemplo, “materiais como os cristais, porcelanas, madeiras, utilizados em combinação com a matéria-prima base que é a prata”. Ainda mais, continua, quando “a prata também sofreu um aumento significativo, sendo o seu preço atual aproximadamente o dobro do que se praticava no momento pré-pandemia”.
Só nesta feira a Topázio tem em exposição várias peças de avultado valor, “sendo o icónico Jarrão D. João V, em prata cinzelada à mão e com caldeira amovível, a peça mais cara com o valor de 54.570 euros”, avança Vânia Nogueira, adiantando que os produtos “não foram selecionados pelo seu valor monetário, mas sim, pela representatividade da arte e respetivo processo artesanal que permite a produção de produtos personalizados, feitos à medida e com total liberdade de conceção”.
Os efeitos negativos sentidos na obtenção de algumas matérias-primas e subsidiárias da nossa produção, causam-nos muitos constrangimentos. Seja pela subida vertiginosa do preço de alguns materiais, seja pela dificuldade na cadeia de abastecimento, com frequentes ruturas e prazos de fornecimento muito alargados.
Eugénio Campos admite por sua vez, que não há como contornar as quebras que vai sentir na faturação este ano, apesar de “estar a recuperar a um ritmo bastante acelerado” e a vender mais. “Comparativamente com 2019 estou a vender muito mais joalharia”, assegura, garantindo que, mesmo assim, não vai atingir o volume de negócios de cinco milhões de euros de 2019, antes da pandemia.
Para esta situação contribuem vários fatores, como a “instabilidade do mercado” e o facto do empresário de Vila Nova de Gaia não conseguir contornar a dificuldade em adquirir matérias-primas e o aumento dos custos das mesmas, mesmo que procure outros fornecedores noutros países. “Não dá para ir a outros mercados para encontrar as mesmas matérias-primas, porque estas têm cotação mundial. Como tal, sejam compradas onde for, o preço é sempre o mesmo”, assegura Eugénio Campos, explicando que adquire, por norma, os cristais e as pedras semipreciosas nos mercados asiáticos enquanto os diamantes são originários de países europeus.
“As matérias-primas estão, assim, mais caras e difíceis de adquirir”, lamenta o empresário, enquanto mostra a peça mais cara que tem no mostruário da feira – uma pulseira com diamantes no valor de 30 mil euros da coleção de segmento de joalharia.
Não dá para ir a outros mercados para encontrar as mesmas matérias-primas, porque estas têm cotação mundial. Como tal, sejam compradas onde for, o preço é sempre o mesmo.
Já Vânia Nogueira, da Topázio, sublinha, por sua vez, que “ainda que, em pedidos específicos de clientes, seja possível refletir o aumento dos custos dos fatores de produção, tal já não é possível com os artigos de coleção da Topázio, e que representam a grande maioria do volume de faturação”. A marketing manager explica que “os artigos de coleção têm um preço fixo, estando neste caso a Topázio a absorver o impacto desse aumento de custos, até à próxima revisão de preços que deverá acontecer no início do próximo ano”.
Mas esta feira pode ser, de alguma forma, uma lufada de ar fresco e alavanca para o setor com o regresso dois anos após a pandemia. “A Portojóia é a principal montra da joalharia portuguesa e ganha cada vez mais expressão, a nível nacional e internacional”, frisa Amélia Estevão, diretora de marketing da Exponor. “Segundo dados de 2019, este setor da ourivesaria e joalharia tem um volume de negócios na ordem dos mil milhões de euros e exporta mais de 200 milhões de euros“, avança Amélia Estevão.
Esta é, assim, uma oportunidade de negócio para os empresários alavancarem o setor e esperam, por isso, ter um retorno financeiro do investimento feito. É o caso de Eugénio Campos, por exemplo, que calcula faturar 500 mil euros, precisamente o mesmo valor que investiu em produto para este certame. “Vou vender por muito mais, porque não vendo ao preço de custo. Tenho a minha margem de comercialização”, elucida o joalheiro que já participa neste certame desde a primeira edição. E tem no seu portfólio um coração de filigrana, cujos exemplares andaram nas bocas do mundo quando o empresário Mário Ferreira, da Douro Azul, os ofereceu à modelo Sara Sampaio e à cantora Joss Stone.
“Esta é a única feira que o setor tem e aproveitamos para apresentar uma forte coleção de outono/inverno intitulada Alma e inspirada na essência da ourivesaria, numa mistura do tradicional com linhas modernas, que usa muito pérolas e pedras naturais”, descreve Eugénio Campos. Esta coleção Alma tem 400 referências desde anéis, passando por pulseiras, brincos, até colares em ouro e prata.
Vânia Nogueira, por exemplo, está convicta de que “o acréscimo de vendas proporcionadas pela participação na feira será compensador face ao investimento realizado”. A responsável explica, por isso, que “a decisão do investimento baseou-se na expectativa do retorno financeiro imediato, que pode ser medido pelo valor das encomendas captadas, mas também teve em consideração os efeitos de comunicação e visibilidade que este evento traz à marca e que não se esgota na feira”.
A marca Topázio, que já participa no certame desde a sua primeira edição, tem ainda a expectativa de conseguir uma maior “aproximação aos clientes já fidelizados, a par da captação de novos clientes que são a grande mais-valia desta participação na feira e que seguramente irá proporcionar retorno financeiro durante um longo período”.
Nesta edição da Portojóia a Topázio tem ainda em exposição peças especiais de autor, tal como A joaninha — da autoria da Joana Vasconcelos, para a comemoração 140 anos da Topázio –, a Escultura Star do designer Tino Grilo. “Apresentamos também a nova coleção de mesa e decoração, com os nossos elegantes fruteiros, jarras, decanters, canecas e tabuleiros”, conclui Vânia Nogueira.
Muitos mais expositores mostram os seus produtos como Inês Barbosa ou uma parceria entre a marca Sara Maia Jewelry e as criações da pintora erótica Raquel Rocha, assim como Elina Bried Jewelry e os bustos de cerâmica tipicamente portugueses da marca Almavina.
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Inflação “vertiginosa” dos diamantes, ouro e prata
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