Turismo, tecnologia e imobiliário são aposta no Algarve
No segundo debate ECO Local/Novo Banco, em Faro, foi avaliado o crescimento da economia do Algarve. O turismo, a tecnologia e o imobiliário são as áreas em que a região mais está a crescer.
O segundo debate ECO Local/Novo Banco aconteceu esta quinta-feira, dia 12 de janeiro, em Faro. Esta é uma iniciativa que percorre o país para refletir sobre os desafios e oportunidades económicas das diferentes regiões. Desta vez, o mote desta conversa foi o estado da economia da região algarvia e os desafios que ainda vai enfrentar.
Luís Ribeiro, administrador Novo Banco, Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, Parreira Afonso, presidente da Rolear e Luís Afonso, presidente da Metalofarense, foram os convidados deste segundo debate, que contou com a moderação de André Veríssimo, do ECO.
Apesar do desafio da Covid-19, que abalou a economia de todo o mundo, a região algarvia conseguiu superar essa fase e está, agora, a recuperar gradualmente e com indicadores que mostram uma progressão “muito forte”. Quem o disse foi Luís Ribeiro, que acrescentou ainda que os vários ciclos de atividade económica são característicos do Algarve.
“O PIB do Algarve representa cerca de 4,3% do PIB nacional. A seguir a Lisboa, é a região com mais PIB per capita do país. A economia da região cresce devido ao turismo, mas quando há uma crise no turismo (como a provocada pela pandemia), esta é uma região que acaba por sentir essa crise de uma forma mais evidente“, explicou.
Por sua vez, Rogério Bacalhau destacou o input do turismo nacional no período pandémico, que acabou por ser muito importante e que, aliás, continua a ser, uma vez que se manteve. Ainda assim, o presidente da Câmara de Faro não deixou de referir que os “últimos três anos foram muito difíceis” para a região devido à quebra do turismo que, “sendo a principal atividade do Algarve, é evidente que teve repercussões muito grandes na economia da região“.
Tecnologia e imobiliário juntam-se ao turismo?
A verdade é que, apesar de o turismo continuar a ser a principal fonte de receita para a economia algarvia, nem só os turistas contribuem para o crescimento económica da região. A criação de empresas tecnológicas e, consequentemente, o aumento da procura de habitações são duas realidades em que o município tem vindo a investir.
“A ideia é não ter os ovos todos no mesmo cesto“, afirmou Rogério Bacalhau, referindo-se à necessidade de diversificar os lucros da região. “Juntamente com a Universidade do Algarve, estamos a apostar em empresas de novas tecnologias para não ser só turismo. O imobiliário também está a ser uma componente muito forte“, disse.
Em 2022, o Algarve teve um aumento de 17% na avaliação imobiliária comparativamente ao ano de 2021. De acordo com Luís Ribeiro, este aumento deve-se à procura externa, mas também ao crescimento do número de nómadas digitais na região: “O Algarve é atrativo para os nómadas digitais e isso reflete-se neste aumento”.
Nesse sentido, o presidente da Câmara de Faro revelou que estão a ser feitos investimentos em “nova hotelaria, nova restauração, nova habitação e, até, em novas unidades ligadas à medicina na região de Faro” para que se torne um local cada vez mais atrativo e com condições para receber mais pessoas.
Os desafios das empresas e a falta de mão-de-obra
Mas se, por um lado, este aumento na procura de habitação e o investimento em novas infraestruturas são positivos, por outro lado tornam ainda mais evidente os desafios que as empresas da região têm vindo a enfrentar, principalmente com a falta de mão-de-obra.
Luís Afonso, presidente da Metalofarense, uma empresa de produtos siderúrgicos e outros materiais de construção, afirmou mesmo que “a falta de mão-de-obra é ainda mais evidente no Algarve”. Apesar de ser um recurso escasso em todo o país, o responsável garante na região algarvia “não há mesmo mão-de-obra para construção”, o que o obriga a procurá-la noutras regiões do país. “Isso implica mais deslocações, mais custos acrescidos e, muitas vezes, esses trabalhadores não se fixam“, acrescentou.
Por sua vez, Parreira Afonso, presidente da Rolear, uma empresa de soluções de engenharia ligada à comercialização de equipamentos como painéis solares e ares condicionados, também partilhou a preocupação com a escassez de mão-de-obra, mas afirmou que “apesar da crise, estes últimos três anos foram de excelência” para a sua empresa.
No entanto, apesar de falar em “excelência”, o responsável pela Rolear enalteceu a importância de se contrariar a “mentalidade fechada” que se observa entre as empresas da região. “Devia haver mais interação de umas empresas com as outras”, disse.
Falta de diversificação da economia e apoios do Estado
A falta de interação entre empresas, apontada por Parreira Afonso, leva a uma falta de diversificação da economia do Algarve que os dados podem confirmar. Segundo Luís Ribeiro, do Novo Banco, “o Algarve tem mais de 70 mil empresas, 97% das quais são micro empresas e os outros 3% são pequenas empresas”.
O administrador do Novo Banco revelou, por isso, que, na sua opinião, “antes da diversificação, falta alguma dimensão à generalidade das empresas” para competirem em mercados globais. “Numa economia aberta, é fundamental termos dimensão, mas há uma percentagem muito pequena de empresas com capacidade de expansão“, acrescentou.
Nesse sentido, Luís Ribeiro apontou o apoio do PT2020, que atribuiu ao Algarve 346 milhões de euros, como sendo insuficiente: “Acho que o Algarve pode ambicionar mais. É importante atrair investimento económico para apoiar o Algarve na sua estrutura de desenvolvimento”.
Por essa razão, Rogério Bacalhau, revelou que já estão atentos ao PT2030 e foi revelando que também pretendem aproveitar o PRR para fazer alguns investimentos na área da habitação, nas redes de águas e na melhoria da eficácia da distribuição. Contudo, apesar dessa vontade, o presidente da Câmara de Faro confessou ter uma grande preocupação com o PRR, uma vez que sente que “o país não está a dar resposta célere a todos às candidaturas e aos processos”.
Mas, apesar destas preocupações relativas aos apoios e até mesmo ao “estado da economia mundial devido à guerra na Ucrânia”, Rogério Bacalhau adiantou, mesmo assim, que está otimista com o ano de 2023. “Temos muitos projetos privados para acontecer, há muito investimento que vai acontecer este ano aqui no Algarve”, concluiu.
Reveja aqui o debate:
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