Governo recusa comprometer-se com Linha de Leixões pedida pela Sonae e outras 120 empresas
Comboios de passageiros poderiam voltar a circular de um dia para o outro, mas secretário de Estado das Infraestruturas não se compromete com datas e quer evitar erros do passado.
O Governo não se compromete com prazos para que os comboios de passageiros voltem à Linha de Leixões. Esta é a resposta do secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Francisco, à carta aberta a pedir o regresso deste serviço ferroviário, que foi assinada pela Sonae, Super Bock Group, Efacec e mais 120 empresas do polo empresarial da Via Norte. Do lado do executivo temem-se os erros do passado, embora o serviço pudesse ser retomado praticamente de imediato.
“Temos estado a trabalhar com a CP e a Infraestruturas de Portugal para verificar em que termos e quando seria possível construir esta ligação. Temos intenção de reativar a ligação de passageiros na Linha de Leixões“, refere Frederico Francisco. Contudo, não há previsões concretas. “Da última vez que se reativou a ligação, as coisas não correram bem. O serviço não respondia às necessidades. Temos de ver o que conseguimos fazer no curto prazo e ter a certeza de que o regresso não pode falhar”, acrescentou o governante à margem da conferência “Portugal e a Alta Velocidade”, organizada no Porto pela secção norte da Ordem dos Engenheiros.
Tecnicamente, contudo, “seria possível possível reabrir o serviço de passageiros de um dia para o outro. É uma questão de reajustar horários”, nota o secretário de Estado. “A questão é se nós avançarmos só com estas condições e o serviço será bem sucedido, ou se reativamos o serviço e depois transporta poucas centenas de passageiros por dia. Ainda não temos os resultados dos estudos”, justificou.
A última vez que a Linha de Leixões teve serviço de passageiros foi entre 2009 e 2011, na ligação entre Ermesinde e Leça do Balio. A baixa frequência (comboios a cada 30 minutos na hora de ponta) e a falta de ligação às estações de metro e a outras estações de comboio condenaram o serviço.
As empresas que assinaram a carta aberta defendem que um comboio saia de Campanhã, chegue a São Mamede de Infesta, Ermesinde, Matosinhos e passe por locais como o Hospital de São João e o polo universitário da Asprela. Também é possível articular a linha de comboio com as linhas B e C do Metro do Porto. Há ainda a possibilidade “de se poder concretizar uma conexão com a linha de metro que serve o Aeroporto Francisco Sá Carneiro“. O investimento pode ser realizado “por menos de um quarto do custo de uma linha de metro equivalente”, refere a carta.
Também subscrevem a carta empresas como as tintas CIN, a Makro, a Schmitt-Elevadores e o Lionesa Business Hub, onde estão instaladas multinacionais como a Farfetch, a gigante dinamarquesa Vestas, a Oracle ou a FedEx, que ali está a instalar um centro de serviços partilhados com 700 pessoas.
Em 2021, foi calculado que seriam necessários cerca de 97,5 milhões de euros para a Linha de Leixões voltar a ter comboios de passageiros: cerca de 65,5 milhões para infraestruturas (implica duplicação de toda a linha) e 31,9 milhões para a aquisição de material circulante, segundo estudo encomendado pela câmara de Matosinhos e que foi aprovado pelo Conselho Metropolitano do Porto. Desde então, não houve mais novidades nos contactos junto da Infraestruturas de Portugal (IP) para estudos mais aprofundados na reabertura desta linha.
Em agosto de 2022, o presidente da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro, exigiu que seja construído um ramal de 2,2 quilómetros de acesso da Linha de Leixões ao aeroporto Francisco Sá Carneiro.
Esforço para recuperar atrasos nas obras
O secretário de Estado das Infraestruturas também foi questionado sobre o adiamento da reabertura, para novembro, da Linha da Beira Alta, principal canal de tráfego de mercadorias nacional. Frederico Francisco cobre a responsabilidade da IP e defende que estão a ser feitos esforços para serem evitados mais atrasos.
“Toda a gente que já remodelou uma casa sabe que, quando vamos fazer uma obra numa infraestrutura que já existe, aparecem sempre surpresas. Às vezes dá mais problemas intervir numa infraestrutura existente do que fazer uma linha nova. Estamos a fazer um esforço junto da IP e dos empreiteiros para encurtar o máximo possível e tentar cumprir o máximo possível os prazos, para concluir as obras tão depressa quanto possível”, referiu.
A Linha da Beira Alta foi encerrada para obras de modernização em 19 de abril de 2022. Na altura, a IP estimou que o troço Pampilhosa – Guarda, com 160 quilómetros, iria reabrir em janeiro de 2023. Oito meses depois, a gestora das linhas de comboio comunicou aos operadores que a ligação só voltará a funcionar a 12 de novembro.
Isto quer dizer que, em vez de oito meses, a Linha da Beira Alta vai estar encerrada durante ano e meio. Além de obrigar os passageiros da CP a usarem o autocarro de substituição entre Coimbra-B e Guarda, as mercadorias sobre carris nesta região apenas podem circular na Linha da Beira Baixa, com menos capacidade de carga, o que aumenta os custos operacionais.
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