Novos comboios para a CP têm de ter degraus por falta de obras nas estações

Diferentes alturas das plataformas das estações, da IP, obrigam a CP a colocar degraus no concurso dos 117 novos comboios. Situação pode atrasar entrada e saída de passageiros e subir despesa.

Parte dos 117 novos comboios que a CP vai comprar terá de incluir vários degraus para a entrada e saída de passageiros. A norma consta do caderno de encargos e está relacionada com as várias alturas das plataformas na rede ferroviária nacional, a cargo da Infraestruturas de Portugal. A situação pode atrasar viagens, gerar problemas para pessoas com mobilidade reduzida e aumentar os custos de manutenção do novo material.

O concurso de compra de 117 novos comboios da CP divide-se em duas partes: 55 unidades vão para o serviço regional e outras 62 vão para os serviços suburbanos de Lisboa e do Porto. As 55 automotoras elétricas para o serviço regional vão servir cais com 900 mm de altura e terão de ter um degrau “rebatível ou escamoteável” se a altura for de 685 ou de 760 mm.

A situação complica-se para o serviço suburbano, que terá duas sub-séries: 34 composições para substituir o material da Linha de Cascais – originalmente fabricado na década de 1950 e modernizado na década de 1990 – e 28 composições para reforçar as opções nas restantes linhas que servem as regiões de Lisboa e do Porto.

Exemplo do degrau retrátil incorporado nos comboios suburbanos do Porto, fabricados no início da década de 2000Hugo Amaral/ECO

A altura do cais das estações da região de Lisboa varia entre 700 mm, como na estação do Oriente, e 1.080 mm, como nas estações da Linha de Cascais. A CP pretende que os concorrentes proponham comboios otimizados para a altura de 900 mm, presente nas estações das restantes linhas. Se a altura for mais baixa, será necessário um degrau.

Além da altura acima dos padrões, os comboios que vão parar à Linha de Cascais terão de ser mais estreitos para não tocarem na plataforma. A culpa é do menor espaço disponível no canal (gabarit, segundo o termo técnico) ao longo da linha face ao que existe na restante rede ferroviária nacional. Por exemplo, a CP verificou em dezembro de 2020 que os atuais comboios dos serviços suburbanos do Porto não cabem em São João do Estoril, conforme escreveu o Público na altura.

“Apenas as caixas” das composições para a Linha de Cascais “deverão ser dimensionadas e otimizadas tendo em conta o gabarit da Linha de Cascais bem como a compatibilização adicional com a altura de plataforma de 1.080 mm”, assim refere o caderno de encargos. No pior cenário, poderão ter de existir degraus a bordo para o acesso aos lugares sentados.

Para já, a IP vai manter a altura nas estações e o espaço disponível ao longo da Linha de Cascais de forma a “garantir a acessibilidade aos comboios atuais tendo em consideração a altura da soleira das portas e a inexistência de degraus nessas composições”, responde ao ECO fonte oficial. Nos investimentos futuros na rede ferroviária, a empresa liderada por Miguel Reis diz que “procura, de uma forma racional”, uniformizar os gabaritos das estações.

Comboios compatíveis?

Um desses investimentos é o desnivelamento do troço ferroviário entre Alcântara-Terra (Linha de Cintura) e Alcântara-Mar (Linha de Cascais) e a construção de uma estação subterrânea de Alcântara-Terra. Orçada em 200 milhões de euros, esta intervenção poderá ficar concluída em 2027, ao abrigo do programa de investimentos para 2030 (PNI 2030). Desta forma, poderá ser efetuado um comboio direto, por exemplo, entre Azambuja e Oeiras, conforme propõe o Plano Ferroviário Nacional.

Proposta para ligações ferroviárias na região de Lisboa a partir de 2030 e até 2050

Resta saber de que forma a mesma composição poderá acomodar quase 40 centímetros de altura entre altura do cais na mesma viagem. “Todas as unidades elétricas poderão circular na Linha de Cascais e na rede geral”, acredita fonte oficial da CP em resposta ao ECO. A empresa e os passageiros serão os principais penalizados: a existência de degraus penaliza os tempos de entrada e saída dos comboios, sobretudo quando há passageiros como menos mobilidade; o acrescento de peças no material circulante aumenta os custos de manutenção.

Ainda outra particularidade das 34 unidades para a Linha de Cascais tem a ver com a tensão na catenária: 25 composições serão bi-tensão para poderem circular durante 2026 em conjunto com as composições mais antigas da linha. Quando a CP tiver 25 novas automotoras elétricas na frota, no final de 2026, a IP irá mudar o sistema de tensão na catenária de 1.500 para 25 mil volts, cuja instalação deverá ficar concluída no final de 2024, três anos depois do previsto.

O concurso para a compra dos 117 novos comboios, no valor inicial de 819 milhões de euros, está a caminhar para a fase final. Sobram apenas três concorrentes: o consórcio luso-francês DST/Alstom, os espanhóis da CAF e os suíços da Stadler. No início do ano foi excluído o agrupamento germano-espanhol Siemens/Talgo. Anteriormente, saíram das opções a chinesa CRRC e os japoneses da Hitachi.

Os novos comboios suburbanos para a CP, no entanto, poderão ser mais acessíveis. Basta uma ordem do ministro das Infraestruturas, João Galamba, e a IP terá de tornar a altura do cais das estações mais uniforme entre si. Resta saber o que fará a tutela.

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