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Jornalistas da Amazónia brasileira sofreram 66 ataques num ano

Lusa,

Um terço das agressões registadas ocorreu nas vésperas das eleições presidenciais de 2022, que levaram Lula da Silva ao poder, observaram os autores do relatório.

Os jornalistas que trabalham na Amazónia brasileira, que abrange nove estados brasileiros e grande parte do chamado pulmão vegetal do planeta, sofreram pelo menos 66 ataques num ano, denunciou esta quinta-feira a organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Na primeira edição do relatório “As Terras Queimadas do Jornalismo na Amazónia”, que começou a ser elaborado logo após o assassinato do repórter britânico Dom Phillips e do etnólogo brasileiro Bruno Pereira no Vale do Yavari, em junho de 2022, a RSF detalhou que os ataques à liberdade de imprensa na região consistem em agressões físicas, assédio ou ameaças.

Dos 66 casos registados entre 30 de junho de 2022 e a mesma data em 2023, a organização sediada em Paris não dá detalhes de nenhum deles, embora afirme que 16 estão “diretamente relacionados com reportagens sobre a indústria agrícola, mineração, povos indígenas e violações dos direitos humanos”.

A Amazónia brasileira inclui a totalidade ou parte dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondónia, Roraima, Tocantins, Maranhão e Goiás, onde vivem mais de dois terços da comunidade indígena do Brasil.

Esta vasta área – quase duas vezes o tamanho da Argentina – contém verdadeiros santuários de biodiversidade que os cientistas acreditam influenciar a regulação do clima.

Essa área tem vindo a ser ameaçada há décadas pelos interesses do agronegócio – especialmente madeireiro, pecuário e de monoculturas – e de grandes empresas de extração, especialmente mineradoras.

Durante o governo do ex-Presidente Jair Bolsonaro (2019-2023), propenso à exploração económica da região, as tensões com os povos indígenas cresceram, agravadas pela desflorestação de pelo menos 40.000 quilómetros quadrados de floresta amazónica, um recorde histórico.

“Mesmo quando não é o tema principal das reportagens, o ambiente está presente em grande parte dos assuntos políticos tratados pelos jornalistas na Amazónia. Um terço das agressões registadas ocorreu às vésperas das eleições presidenciais de 2022“, que levaram Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, observaram os autores do relatório.

A RSF observou ainda que os jornalistas na Amazónia optam frequentemente pela autocensura como medida para se protegerem de “interferências políticas e económicas”.

A defesa do jornalismo livre, pluralista, independente e local na Amazónia deve ser parte integrante das medidas para enfrentar a emergência climática“, defendeu o diretor da RSF para a América Latina, Artur Romeu.

As recomendações da RSF incluem o desenvolvimento de políticas de prevenção e proteção dos jornalistas que trabalham em temas sensíveis na região, a promoção de um ecossistema mediático pluralista e financeiramente viável e a expansão da monitorização dos ataques contra jornalistas na Amazónia.

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