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“Temos de começar a garantir a transição digital já, mas o papel ainda é o que paga as contas”

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O contributo da imprensa local para as economias regionais foi o tema que juntou no auditório ECO Ana Rocha de Paiva (Google), Cláudia Maia (Apimprensa) e Rui Pelejão (Jornal do Fundão).

“Quando se está há muito tempo a lutar pela sobrevivência deixa de se ter horizonte, é tudo um exercício de salvação”. A frase de Rui Pelejão, diretor de inovação e marketing do Jornal do Fundão, título do qual há cinco anos se tornou um dos sócios, contextualiza a situação vivida pela imprensa local e regional. Como em tudo há exceções, mas a regra representa um sinal de perigo.

Estaríamos todos muito mal se um dia imaginássemos um futuro sem imprensa local e regional. O jornalismo tem um papel imprescindível na sociedade. O reconhecimento da importância da imprensa, em geral, é um caminho que se tem vindo a fazer globalmente. Em Portugal temos feito esse caminho também, do reconhecimento do risco que é não termos uma imprensa forte e isenta e que suporte a nossa democracia. Acho que estamos todos devagarinho a compreender isso”, acredita Ana Rocha de Paiva, gestora do Programa de Inovação e Desenvolvimento para os Media da Google.

Em Portugal, a realidade é bastante diferente. Mas as eleições de Donald Trump e de Jair Bolsonaro, ou o Brexit no Reino Unido, foram sinais de alerta. “Temos de estar atentos ao que se passa no mundo, também porque o risco de polarização no nosso país se tem tornado cada vez mais real”, sinaliza a responsável da Google, para quem, “inevitavelmente”, o reconhecimento da importância de uma indústria forte e de uma imprensa isenta é um caminho que se vai fazendo e passará da imprensa nacional para a local.

Até lá, o enquadramento é adverso. “Não gosto de ser fatalista, mas o cenário não é famoso. Há falta de investimento e de recursos”, resume Cláudia Maia, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, entidade que representa 174 associados e 255 títulos, 65% dos quais da imprensa regional.

Com as tiragens diárias dos jornais a caíram de 1,5 milhões para 0,3 milhões em cinco anos e o investimento publicitário na imprensa com uma quebra de 41% entre 2018 e 2021, Cláudia Maia diz que são vários os associados que dizem “se isto continua assim, em janeiro fecho as portas”.

Sem investimento publicitário, sobram as subscrições. Mas se um jornal diário aparece em casa dois ou três dias depois, qual é a utilidade?”, refere a responsável, que aponta a distribuição como um dos grandes entraves ao desenvolvimento da imprensa local e regional. “Os CTT são o inimigo público ‘número 1’ da imprensa em Portugal”, caracteriza Rui Pelejão.

A mudança nos padrões de consumo, sobretudo geracionais, é outra das principais questões. “Os padrões evoluem mais depressa do que conseguimos acompanhar. Quando a imprensa está lá, as pessoas têm interesse. Mas há o problema do acesso à informação”, nota Ana Rocha de Paiva. Este, quando se fala de imprensa local, é tanto verdade para o papel como para o digital, com a transição ainda longe de ser uma realidade. A falta de meios, inclusive para contratar profissionais com competências necessárias para o universo digital, é um dos principais entraves.

Ana Rocha de Paiva, Cláudia Maia e Rui Pelejão estão de acordo em dois pontos base, que serviram também de mote para a conversa “O contributo da imprensa local para as economias regionais”, a primeira do ciclo ECO Media Focus: a imprensa regional é fundamental – por uma questão de agregação das comunidades, para fomentar a discussão, para o desenvolvimento das economias locais – e é um ecossistema no qual há muito a fazer em termos de desenvolvimento, transição para o digital e sustentabilidade financeira.

As dificuldades na distribuição e acesso à informação, a dependência das autarquias e a (falta de) atratividade dos meios locais como suporte publicitário, os hábitos de consumo de media e as questões geracionais, a pirataria e os entraves à transição digital são alguns dos pontos em debate.

Assista aqui à talk completa:

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