Crise das empresas tecnológicas trava investimento estrangeiro no Porto
Investimento concretizado com o apoio da InvestPorto caiu 27% em 2023, para 429 milhões de euros. Ainda assim, a autarquia garante que continuam a chegar empresas internacionais à cidade Invicta.
O investimento concretizado em 2023 com o apoio da InvestPorto caiu 27% face ao ano anterior, para 429 milhões de euros. “Não quer dizer que não estejam a chegar empresas internacionais à cidade do Porto. Significa, sim, que o investimento que concretizaram foi menor do que no ano anterior. São coisas diferentes”, salienta o vereador da Economia da Câmara Municipal do Porto.
Em declarações ao ECO/Local Online, Ricardo Valente destaca ainda que esta situação é transversal a outros países europeus, onde o investimento direto estrangeiro caiu 50%.E aponta o dedo ao contexto económico internacional, a reboque dos “despedimentos massivos” nas empresas tecnológicas que têm desacelerado o investimento.
“É normal [a redução homóloga] porque as empresas, sobretudo as tecnológicas, desinvestiram muito, fizeram despedimentos massivos e, portanto, a lógica de investimento na Europa foi de crescimento negativo“, justifica o autarca. No caso da cidade Invicta, explanou, “não quer dizer que haja menos empresas internacionais, pelo contrário; em termos de investimento concretizado é que o valor desceu em relação a 2022″.
Apesar de considerar prematuro avançar com estimativas para 2024, o vereador da Economia admite que “nota-se perfeitamente uma desaceleração de investimento no Porto”. O que considera “normal” face ao contexto económico mundial de incerteza em que as empresas tecnológicas estão a ser muito afetadas por uma onda de despedimentos, citando o caso da Fartech. A somar a tudo isto, enfatiza, “é um ano muito complicado pela questão política em Portugal, que traz incerteza sobre a eventual existência de uma maioria no Governo”.
Desde 2015, ano em que a agência InvestPorto foi criada, foram apoiadas mais de 475 empresas e investidores com 550 projetos de investimento na cidade, dos quais 59 foram registados em 2023. Representam mais de 1,8 mil milhões de euros investidos na cidade e a criação de 22.500 empregos diretos. O investimento direto estrangeiro (IDE) representa 65% dos projetos apoiados neste período. Reino Unido, França, EUA, Israel e Alemanha surgem à cabeça dos investidores internacionais oriundos de mais de 40 países e que optaram por se instalar na Invicta.
No ano passado, a InvestPorto regista 429 milhões de euros de investimentos concretizados na cidade. Apesar da quebra homóloga, frisa que este valor é mais do dobro do montante relativo a 2021 (286 milhões de euros). Os investimentos concretizados em 2023 previam a criação de mais de 2.311 postos de trabalho diretos.
Nota-se perfeitamente uma desaceleração de investimento no Porto. (…) O ano de 2024 vai ser muito complicado pela questão política em Portugal, que traz incerteza.
“Os projetos apoiados pela InvestPorto têm um contributo importante para o desenvolvimento económico do Porto, não apenas em termos do emprego e investimento gerado, mas também devido à transferência de tecnologia e know-how, à reabilitação do património urbano da cidade e ao aumento da competitividade e visibilidade internacional”, sustenta a autarquia liderada por Rui Moreira.
Esta estratégia municipal colocou a cidade no mapa mundial do investimento, com a fixação de diversas operações de empresas multinacionais. É o caso da francesa Natixis – a maior empresa na área da tecnologia, que emprega 2.500 pessoas e “vai crescer ainda mais” – ou da Critical TechWorks, uma joint venture do Grupo BMW e da Critical Software, que tem o escritório instalado nas imediações dos Paços do Concelho.
Química britânica abre centro e laboratório
A InvestPorto não apoia as empresas com benefícios fiscais nem com subsídios. “O apoio ao investimento direto estrangeiro funciona numa lógica competitiva. O apoio conferido passa por ajudar a empresa a “tomar a melhor decisão”, o que envolve, por exemplo, a organização de visitas à cidade ou fazer a ponte para o estabelecimento de parcerias com universidades.
Foi o que aconteceu com a mais recente empresa internacional a instalar-se na Invicta. A britânica Elementis, que opera no setor químico, vai investir três milhões de euros no seu primeiro centro global de excelência e laboratório de investigação e desenvolvimento (I&D) no país, que vai abrir no segundo semestre de 2024 e criar perto de 80 empregos.
“É um exemplo de captação de investimento pela InvestPorto”, sustenta o mesmo responsável. Neste caso, a capital nortenha foi escolhida entre 100 cidades europeias que a empresa tinha em análise. “Vai trazer toda a componente de finanças e recursos humanos e depois a parte científica, de laboratório”, descreve o vereador.
A empresa internacional estabeleceu um protocolo com o Centro de Biotecnologia e Química Fina da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP) para desenvolvimento de novos produtos na área da química sustentável. A empresa já avançou que pretende lançar 50 novos produtos até 2026.
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