BRANDS' Local Online Diversificar e crescer em valor são desafios para o turismo do Norte do país

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  • 8 Julho 2024

O Norte tem tido um aumento constante do turismo, mas este crescimento tem trazido alguns desafios. Diferenciar a oferta e dispersar os turistas para outras zonas da região são possíveis soluções.

Tal como no resto do país, o turismo continua a crescer na região Norte e a reforçar o seu peso na economia local. De acordo com os dados do primeiro trimestre deste ano, a região melhorou em todos os indicadores de alojamento, face ao período homólogo de 2023, e também em volume de negócio, com um acréscimo global de receitas na casa dos 14,4%.

Apesar desta trajetória ascendente, que adivinha, para o ano em curso, um resultado superior às quase seis milhões de dormidas registadas em 2023, a região enfrenta vários desafios para continuar a desenvolver-se nesta área, de forma sustentada e com enfoque na diversificação da oferta de hotelaria e lazer.

A Associação Comercial do Porto – Câmara de Comércio e Indústria (ACP-CCIP), a mais antiga representante empresarial portuguesa e parceira da Associação de Turismo Porto e Norte, tem tomado parte neste debate e produzido vários contributos para qualificar o produto turístico da região. Entre eles, a defesa de uma conectividade aérea reforçada para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, a autonomia orçamental das entidades regionais de turismo ou, mais recentemente, a posição pública sobre o combate à insegurança na cidade do Porto.

Nuno Botelho, presidente da ACP CCIP, reconhece que “o turismo teve um impacto transformador na cidade do Porto, na sua regeneração urbana e num novo dinamismo económico, que não existia há 15 anos”. Apesar do diagnóstico positivo, o dirigente identifica a necessidade de se “reformar a atividade”, investir na “diferenciação e na qualificação dos produtos e serviços” e perseguir o objetivo de “trazer maior valor acrescentado à economia” regional.

Um dos aspetos mais relevantes para Nuno Botelho é o alargamento dos voos intercontinentais no Aeroporto Francisco Sá Carneiro: “estamos já a crescer significativamente em mercados como a América do Norte e o Brasil, mas temos de continuar a apostar em destinos emissores não-europeus porque trazem ao Porto e ao Norte outro tipo de turistas, mais exigentes e com maior poder de compra, o que é fundamental para a nossa indústria hoteleira”, refere o presidente da ACP-CCIP. Na mesma linha, acrescenta a importância de dispersar a procura por outros destinos da região, contribuindo para reforçar a “coesão económica em todo o território”. “O Porto e o Alto Douro Vinhateiro já apresentam um nível de maturidade muito elevado no serviço turístico que oferecem, mas há outras zonas com grande potencial de crescimento, em áreas como o turismo de natureza, o de saúde e bem-estar, o gastronómico, o patrimonial ou o religioso”, enumera.

A mesma perspetiva é partilhada por Manuel Proença, presidente do grupo Hoti Hotéis e sócio da ACP-CCIP. Para o empresário, “a diversificação e alargamento da oferta” é um dos “maiores desafios da região do Porto”, impondo-se uma distribuição dos fluxos turísticos por novos pontos de atração. “Atualmente, o fluxo turístico está concentrado na baixa da cidade do Porto e na zona ribeirinha do Porto e de Vila Nova de Gaia, no entanto é crítico dinamizar outras áreas de Gaia, a zona oriental da cidade do Porto, Matosinhos, Maia, entre outras localizações”, considera o empresário, que aponta a necessidade de se evoluir para uma oferta “mais abrangente, qualificada e dispersa territorialmente”.

André Cordeiro Rodrigues, administrador da Rollertown, empresa que opera na área dos transportes turísticos, aponta para a necessidade de haver uma melhor gestão da mobilidade no Porto, designadamente “ao nível do acesso e desembarque nos diferentes pontos da cidade”, que, confessa, “tem sido um desafio nos últimos anos para continuar a apresentar um serviço de qualidade aos visitantes”. Olhando para o âmbito mais regional, o operador concorda com a ideia de “haver um maior número de ligações diretas aéreas” e desse reforço “contribuir para um melhor posicionamento do destino Porto e Norte”.

Falta de mão de obra: uma questão estrutural

Se há diagnóstico consensual entre os stakeholders do setor, ele é certamente a escassez de mão de obra em domínios como a hotelaria, a restauração ou as atividades de lazer. André Rodrigues recorda o “impacto do período de pandemia” nesta matéria e a necessidade que os operadores tiveram de promover um “recrutamento contínuo”, que respondesse ao crescimento da atividade. No quadro atual, o gestor defende a aposta na “capacitação dos novos colaboradores” e na “qualificação dos que já existem”, para garantir “novas dinâmicas de oferta” turística. Ainda assim, não deixa de apontar para a necessidade de haver políticas públicas capazes de “motivar estes esforços empresariais”, designadamente através de “apoios ao fundo de maneio” das empresas, que “muitas vezes são micro-negócios”.

Manuel Proença, por sua vez, sublinha a obrigatoriedade de os agentes económicos “redesenharem processos, procedimentos e apostarem na automatização de várias tarefas”. Uma transformação que, na opinião do empresário, visa “minimizar a utilização de mão-de-obra” humana, ainda que reconheça que esta é “crítica para a experiência” oferecida aos clientes. Já no plano político, o presidente do grupo Hóti aponta duas prioridades: “reforçar a rede das escolas de hotelaria e facilitar o acesso aos vistos de trabalho para trabalhadores da CPLP”.

Desde a geografia, ao clima, passando pela “natureza acolhedora” dos portugueses, o empresário reconhece as vantagens competitivas que o turismo do nosso país oferece, no contexto internacional. Mas a aposta para o futuro, na opinião de Manuel Proença, deve estar no valor acrescentado e não na quantidade, “uma vez que só com um turismo qualificado é que poderemos pagar mais e melhores salários”. André Rodrigues partilha a perspetiva da “diferenciação da oferta, com maior valor percecionado”, ainda que mantenha uma visão otimista quanto a possibilidades de crescimento no setor: “o turismo pode crescer mais em Portugal. O Porto e a região Norte, de uma forma particular, mantêm um grande potencial de desenvolvimento”.

Num olhar mais amplo sobre a atividade, o administrador da Rollertown identifica, como desafios fundamentais para o futuro, “um melhor planeamento de recursos”, a “definição de uma agenda para a sustentabilidade” e a adaptação à “transição digital”, um requisito que, na sua perspetiva, “afeta sobremaneira as microempresas”. Ao mesmo tempo, André Cordeiro Rodrigues advoga a criação de “grupos de trabalho”, que aproximem os agentes turísticos, as autarquias e outras instituições com responsabilidade neste setor, para “discutir regularmente as diferentes preocupações, limitações e oportunidades de melhoria”.

A estas propostas, Manuel Proença acrescenta a necessidade de “garantir os investimentos que reforcem as acessibilidades ao território”, com destaque para os aeroportos e a ligação de alta velocidade “a Madrid e à Galiza”; apostar no “planeamento e ordenamento do território” para que o setor cresça em sustentabilidade e valor; e melhorar o desempenho da justiça, considerando tratar-se de um “fator crítico para a credibilidade de Portugal junto dos investidores internacionais”.

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