Hoti Hotéis lança-se no imobiliário em Aveiro e no Porto
Terceiro maior grupo português de hotelaria diversifica o negócio com a entrada no imobiliário turístico. Nos hotéis, abrirá 11 novas unidades até 2028. Norte-americanos duplicam peso desde 2019.
O grupo português Hoti Hotéis, dono de 20 hotéis em Portugal com marcas como Meliá e Star Inn, vai lançar-se no imobiliário com a marca Residence, na Avenida da Boavista, no Porto, e em Aveiro, junto ao atual Meliá Ria. Na sequência do repto lançado há três anos pelos acionistas, a administração avançará este ano com o primeiro empreendimento, conta o presidente-executivo da Hoti Hotéis, Miguel Proença, durante o almoço anual com jornalistas.
Na hotelaria, o terceiro maior operador hoteleiro de origem portuguesa (após os grupos Pestana e Vila Galé) vai abrir a 21.ª unidade no dia 24 de junho, o Meliá São João da Madeira, e iniciar a construção de mais quatro ativos hoteleiros. O hotel de São João da Madeira aproveitará património arquitetónico, como a Meliá já tinha feito em Braga, desenvolvendo as suas áreas comuns no Palacete Conde Dias Garcia.
Fora de Portugal, a Hoti Hotéis continua a estudar o melhor momento para entrada na Galiza e está a desenvolver o projeto de arquitetura do Meliá Luanda, aproveitando uma torre que a falida construtora Soares da Costa deixou em estrutura mesmo nas margens da baía da capital angolana. Já em Moçambique, a operação está focada no alojamento permanente de funcionários bancários e suas famílias, solução de contingência forçada pela instabilidade vivida naquele país.
Para a decisão de investimento em imobiliário valeu a pretensão dos acionistas de diversificarem o negócio. O início de obra nos edifícios Golden Boavista Residence e Aveiro Ria Residence acontecerá já no primeiro semestre deste ano. Ainda sem preços definidos, apesar da expectativa de conseguir realizar vendas logo em planta, o grupo está atento ao mercado imobiliário circundante.
No caso da avenida portuense, aponta Manuel Proença, fundador do grupo, praticam-se atualmente valores entre oito e dez mil euros por metro quadrado. Ali, o edifício da Hoti Hotéis terá 130 apartamentos, ou, na descrição do grupo, unidades de alojamento. Tal como acontecerá em Aveiro, estas estarão ligadas a hotéis da empresa, permitindo oferecer aos proprietários vários dos serviços hoteleiros disponibilizados.
No terreno de Aveiro, com três hectares, a Hoti Hotéis prevê, para lá de imóveis residenciais interligados com hotelaria, o desenvolvimento de habitação convencional, decorrendo o processo de decisão da forma de construção, entre atividade própria, ou entrega a terceiros, diz Manuel Proença ao ECO/Local Online.
A aquisição deste terreno assentou em capitais próprios, no âmbito da política de reinvestimento de todo o lucro da operação, decisão tomada pelo fundador desde o início das operações.
No campo onde desenvolve a sua atividade desde 1978, a hotelaria, as novidades já avalizadas pela administração desenvolvem-se até 2028, período em que serão investidos cerca de 250 milhões de euros em 11 hotéis. Um deles será o Meliá Viana do Castelo, em carteira desde 2019 e que terá 130 quartos, esperando-se ainda o surgimento da marca em Monte Gordo, no Algarve. Em Aveiro, a Star Inn, marca própria do grupo português, surgirá frente ao Meliá da cidade. Esta marca irá também até Guimarães, Famalicão e Coimbra.
No Porto, haverá um Innside no centro da cidade, aproveitando o reforço da marca cosmopolita, que tem, para Lisboa, um projeto parado no Tribunal Administrativo, à espera de uma decisão relativa à possibilidade de construção no Rato, em Lisboa, num terreno comprado para o efeito à autarquia, explica Manuel Proença.
O plano de expansão aponta a cerca de 1.500 novos quartos de hotel, um crescimento de 50% face aos 3.050 atuais, com um custo de construção estimado de 150 mil euros por quarto.
Com visível cautela, Miguel Proença, presidente executivo e filho do fundador, recorda as palavras de Warren Buffett, relativa à necessidade de ter aprovisionamento para momentos de dificuldade – “só quando a maré baixa é que se vê quem está a nadar nu”.
“Há uma quebra estrutural de margem na hotelaria”, diz Miguel Proença. Com os custos fixos da operação a acelerar, por força do efeito do salário mínimo e da energia, entre outros fatores, a administração optou por aumentar preços e reforçar a eficiência operacional.
Em 2024, apesar da redução da ocupação, a tarifa média por quarto subiu para “101 euros, primeira vez de sempre acima dos 100 euros, diz. “Estamos a tentar antecipar-nos, antes que a maré baixe”, afirma o presidente executivo, assegurando que “as margens estruturais têm estado a estreitar”.
Ao ECO/Local Online, o presidente executivo nega uma perspetiva de abrandamento imediato na hotelaria, mas reconhece que esta indústria é cíclica. “É impossível manter este crescimento na hotelaria”, admite.
Os números do ano agora terminado apontam para um crescimento de 9% nas receitas face a 2023, para 112 milhões de euros, acima da expectativa de 110 milhões apresentada no ano passado. “Foi conseguido mais por via do preço do que da ocupação”, reconhece Miguel Proença. No balanço do ano, a taxa ocupação chegou aos 73%, diz o administrador da Hoti Hotéis.
A maior ajuda para o bom desempenho do grupo, patente nos 45 milhões de euros de EBITDA, proveio das nacionalidades que nos habituámos a ver no topo da hotelaria em Portugal, com os turistas nacionais à cabeça, a valerem 25% das receitas. Seguem-se espanhóis e logo depois os norte-americanos, só depois surgindo os alemães (7%), ingleses (6%), franceses (5%) e brasileiros (4,5%).
Na Hoti Hotéis, os cidadãos dos EUA já valem 8% das receitas, o dobro da quota que detinham em 2019, num movimento contrário a nacionalidades como a francesa e espanhola.
Nota, contudo, para o balanço relativo aos espanhóis: embora a sua participação nas receitas da Hoti Hotéis tenha passado de 12,5% para 9%, em valor subiram de 6,6 milhões de euros para 6,8 milhões, sinal do crescimento de receitas que permitiu ao grupo português ter um ano recorde em 2024.
Olhando para o destino dos norte-americanos, surgem à cabeça os hotéis de Lisboa. Um deles, junto ao aeroporto, onde decorreu o encontro da administração com a imprensa, poderá num futuro próximo transitar para terrenos perto do aeroporto de Alcochete. Ao ECO/Local Online, Manuel Proença admite transferir o contrato de concessão atual do Meliá Lisboa, firmada com a ANA, para o novo aeroporto na margem sul do Tejo. “A concessão tem determinados pressupostos”, realça o fundador do grupo.
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