BRANDS' Local Online Cidade do Futuro: Quais as necessidades urgentes?

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  • 28 Fevereiro 2025

A conferência Cidade do Futuro, promovida pelo ECO e pela Câmara Municipal de Viana do Castelo, juntou vários especialistas para discutirem a mobilidade, a sustentabilidade e a inovação urbana.

As cidades do futuro precisarão, inevitavelmente, de uma preparação antecipada por parte de todos os órgãos de poder, que devem tomar decisões conscientes, principalmente junto das forças locais, para tornarem os municípios cada vez mais adaptados para pessoas e às suas necessidades.

Essas necessidades passam por alguns temas que, mais do que tendências, são também urgências para as comunidades, nomeadamente a mobilidade, a sustentabilidade e a inovação urbana. Estes três pontos foram discutidos na conferência Cidade do Futuro, uma iniciativa do ECO em parceria com a Câmara Municipal de Viana do Castelo, que reuniu vários especialistas nestas temáticas.

O peso dos projetos na notoriedade das cidades

De acordo com Luís Nobre, Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, antes de resolver qualquer questão, o território deve preocupar-se em ter notoriedade, que advém “de um conjunto de fatores, como a identidade, a sua dinâmica e a amplitude que os seus agentes económicos tem”.

Neste sentido, o presidente apresentou alguns dos projetos em que a autarquia está envolvida, como SUSTMARE, “o centro que temos com um conjunto de empresas na área da energia da economia do mar”, o CorPower, “dedicado à produção de energia através das ondas”, e referiu ainda o projeto NordicEPODT, com um “investimento de mais de 50 milhões e criação de mais 500 postos de trabalho”, bem como o Viana S+T+ARTS, que foi mais detalhado por Marta Monteiro, Chefe de Divisão de Projeto da Câmara Municipal de Viana do Castelo.

Luís Nobre, Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo

Este projeto incide sobre o antigo matadouro e o edifício vai absorver um pouco de tudo“, disse Marta Monteiro, referindo-se ao facto de este ser um espaço de cocriação, experiências artísticas, aplicações criativas de tecnologias emergentes, como a realidade virtual e Inteligência Artificial, tratamento de dados, demonstrações científicas, educação para a ciência, tecnologia e arte, exposições, residências para profissionais, incubadora de eco-startups, espaços públicos de interação, entre outros espaços que estimulem a mudança em Viana do Castelo. “Não vamos criar nada do zero, vamos utilizar muita tecnologia que já existe no mercado, mas que não está ainda a ser muito utilizada”, explicou.

Marta Monteiro, Chefe de Divisão de Projeto da Câmara Municipal de Viana do Castelo

A tecnologia é, sem dúvida, um dos pilares das cidades do futuro, mas também da sustentabilidade, de acordo com Hermano Rodrigues, Principal da EY-Parthenon: “A componente de ciência, tecnologia, de investigação, desenvolvimento e de inovação são um vetor fundamental”. Durante o primeiro debate da conferência, dedicado ao tema Cidade Sustentável, o especialista acrescentou ainda que “Portugal está bastante bem posicionado do ponto de vista tecnológico” com redes sofisticadas e competitivas.

“Este avanço para o 5G tem permitido incorporar uma integração muito grande das pessoas com objetos. A sensorização é cada vez mais forte e a sua integração em nuvem, bem como a utilização dos dados para gerar resultados é cada vez maior. Temos também capital humano bastante capacitado nos domínios das tecnologias de informação e comunicação”, acrescentou, lembrando os projetos-pilotos que as empresas de telecomunicações têm desenvolvido, e, numa ótica coletiva, destacou o cluster dedicado às cidades inteligentes.

Cidades sustentáveis precisam de mobilidade verde

Por sua vez, Pedro Diez Gaspar, Future Business Technology Director no CEiiA, destacou a importância de se desenvolver projetos colocando sempre o cidadão “no centro do que se está a desenhar”. Nesse sentido, apresentou o projeto AYR, “destinado a ajudar as cidades a fazer a sua descarbonização através da mobilidade”.

"Há 20 ou 30 anos atrás, praticamente não se falava na necessidade de se fazer ciclovias. Hoje há uma orientação estratégica do governo para que, até ao fim da década, 10% das deslocações sejam feitas de modo ativo e em bicicleta.”

José António Baptista da Costa, CEO da Sextante Motriz

“Quando a União Europeia lançou o Green Day e o New European Bauhaus, este projeto foi escolhido entre outros 2100 projetos apresentados por 27 países. Este foi um dos dez selecionados pela União Europeia, precisamente por trazer este conjunto de coisas: a descarbonização, a sustentabilidade, a inclusão“, contou.

Para José António Baptista da Costa, CEO da Sextante Motriz, “uma das dimensões fundamentais é a mobilidade”: “A mobilidade será cada vez mais multimodal. Hoje, andar a pé nas cidades ganhou um peso que não tinha no passado. Há 20 ou 30 anos atrás, praticamente não se falava na necessidade de se fazer ciclovias. Hoje há uma orientação estratégica do governo para que, até ao fim da década, 10% das deslocações sejam feitas de modo ativo e em bicicleta“.

“Isto leva à necessidade de redesenho das cidades para dar resposta a estas novas exigências. Tem que se melhorar o transporte público, dar possibilidade de as bicicletas andarem nas estradas sem os ciclistas serem atropelados, e os passeios têm que passar a ser confortáveis. O redesenho leva a que, para que isso seja possível, se tire espaço ao automóvel e se aumente fortemente o transporte público, já que é a âncora de todos estes processos“.

A mesma linha de pensamento foi apresentada por Adelino Ribeiro, Comunicação e Formação do Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade, que deu o seguinte exemplo: “Nós vimos de um passado onde tudo era pensado do eixo da via para a fachada. Ou seja, priorizava-se o espaço para os veículos passarem e o que sobrasse é que ficava para as pessoas (passeios). Se não sobrasse nada, acontecia o que se vê nas nacionais, ou seja, não têm passeios”.

"Nós vimos de um passado onde tudo era pensado do eixo da via para a fachada. Ou seja, priorizava-se o espaço para os veículos passarem e o que sobrasse é que ficava para as pessoas (passeios). Se não sobrasse nada, acontecia o que se vê nas nacionais, ou seja, não têm passeios.”

Adelino Ribeiro, Comunicação e Formação do Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade

“Agora estamos numa versão contrária, que passa por olhar da fachada para o eixo da via, isto é, pensar nos projetos para pessoas e só depois no automóvel. Por exemplo, em Pontevedra há uma estrada muito estreita, na qual o carro vai a 30km/h porque não pode andar a mais velocidade. Ninguém buzina porque sabem que não se pode andar a mais e, se se atravessar um miúdo, a verdade é que o carro consegue travar. Então a conclusão é que esta é uma solução que funciona porque a cidade é das pessoas”, afirmou.

Descarbonização de frotas e aposta no transporte público pode ser solução?

Ainda no segundo painel de debate, também Hélder Rodrigues, Coordenador na Direção de Sustentabilidade e Mobilidade na ADENE (Agência para a Energia), alertou para a urgência de tornar as “cidades mais cicláveis, mais amigas da mobilidade leve”, mas lembrou que a realidade é bem diferente: “Sabemos, até pelos Censos, que cada vez andamos mais de carro. Felizmente, o desenho das cidades começa a descolar um bocadinho disto, mas a má notícia é que as políticas de mobilidade, normalmente, demoram muitos anos”.

Por essa razão, o especialista da ADENE reforçou a necessidade de haver “políticas de incentivo à procura dos transportes públicos e de descarbonização de frotas”: “É neste contexto que surge esta iniciativa do Move+, que começou muito focado nas frotas de ligeiros, frotas de mercadorias e que chegou, no ano passado, às frotas de pesados de passageiros, onde tentamos perceber qual é o desempenho energético daquelas frotas e perceber o que é que se pode melhorar, quer ao nível da tecnologia, seja da frota em si”.

"O hidrogénio assenta aqui numa maior flexibilidade por parte dos operadores e utilizadores, já que esta tecnologia consiste num pequeno pack de baterias que gere a energia e faz a transformação do hidrogénio em eletricidade, posteriormente armazenada em pequenas baterias.”

Nuno Lago de Carvalho, CCO da CaetanoBus

Além desta iniciativa, foi também apresentada a solução do metroBus, equipada com a mais recente geração da tecnologia de pilha de combustível a hidrogénio da Toyota, desenvolvida pela CaetanoBus, e explicada por Nuno Lago de Carvalho, CCO da empresa. “Criamos uma diferenciação do produto, baseada na estratégia de descarbonização e em várias tecnologias. O hidrogénio assenta aqui numa maior flexibilidade por parte dos operadores e utilizadores, já que esta tecnologia consiste num pequeno pack de baterias que gere a energia e faz a transformação do hidrogénio em eletricidade, posteriormente armazenada em pequenas baterias“, esclareceu.

Este projeto poderá ser uma solução para aumentar a frota de transportes coletivos, sem impacto ambiental, ao mesmo tempo que se atrai mais pessoas para escolherem esta opção de mobilidade, ao invés de veículo próprio. Quem o diz é Álvaro Oliveira Costa, Professor da FEUP, que considera que “autocarros cheios” não incentivam a população a escolher esta opção.

“Há ruturas no sistema de transporte público que são gravíssimas. É preciso perceber que interessa haver procura, mas interessa haver mais oferta do que procura. Um autocarro vazio cria valor porque as pessoas sabem que têm uma opção. Já um autocarro cheio não cria valor, a não ser para quem já lá está”, disse.

"É preciso perceber que interessa haver procura, mas interessa haver mais oferta do que procura. Um autocarro vazio cria valor porque as pessoas sabem que têm uma opção. Já um autocarro cheio não cria valor, a não ser para quem já lá está.”

Álvaro Oliveira Costa, Professor da FEUP

A aposta numa mobilidade verde e coletiva também foi mencionada por Cristina Pinto Dias, Secretária de Estado da Mobilidade, que encerrou a sessão dizendo que é preciso ter “uma mobilidade com mais pessoas a andar a pé, de transporte público, de bicicleta, com intermodalidade” e ainda partilhou os três pilares em que centra a estratégia do governo para a mobilidade.

Cristina Pinto Dias, Secretária de Estado da Mobilidade

“Primeiro, acelerar a transição para modos de transporte mais sustentáveis, promovendo políticas tarifárias equitativas, justas e atrativas e aumentando a cobertura e acessibilidade das redes de transporte. Segundo, reforçar a competitividade e a inovação na mobilidade, promovendo medidas que apoiem a conectividade e multimodalidade da oferta. E, terceiro, reforçar a capacitação das entidades da mobilidade em Portugal a reestruturação de modelos de negócio, fortalecendo o setor para garantir eficiência, resiliência e resposta às necessidades vossas, das nossas pessoas presentes e futuras”, concluiu.

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