Algas valem 9,2 milhões de euros e “Portugal tem tudo para ser líder europeu”
Com quase meia centena de empresas e "condições naturais excecionais", Portugal quer tornar-se numa referência europeia no setor das algas.
“As algas são um recurso promissor”. É assim que empresários portugueses olham para este negócio que já conta com quase meia centena de empresas que exportam cerca de 90% da produção.
Em 2023, o setor faturou 9,2 milhões de euros em áreas como alimentação humana, suplementação e saúde, cosmética, agricultura, alimentação animal e biotecnologia azul, segundo dados da Dun & Bradstreet, analisados pela Associação Portuguesa dos Produtores de Algas (Proalga).
Detida pela holding Green Aqua Company, a Green Aqua Póvoa produziu o ano passado cerca de 140 toneladas de biomassa, sendo que 90% da produção foi exportada principalmente para a Europa, mas também para a Turquia e Médio Oriente. A empresa da Póvoa de Santa Iria emprega 35 pessoas e fatura 3,7 milhões de euros.
Dos principais setores a que se destinam os produtos da Green Aqua Póvoa destacam-se as aquaculturas, mas também fazem também parte do portfólio o setor das rações para animais terrestres, produção de ingredientes para o setor alimentar e cosmético, seja em formato de pasta congelada, seco ou em pó, até ao formato cultura viva.
“A Green Aqua Póvoa é a entidade promotora do Algatec Eco Business Park, onde se encontra instalada a maior unidade de produção de microalgas na Europa, incluindo uma biorrefinaria de produtos de algas”, explica ao ECO Luís Vieira da Silva administrador executivo da Green Aqua Póvoa. A empresa está envolvida na BIOFAT.PT, o “maior projeto de produção de microalgas na Europa”.
A Allmicroalgae Natural Products, que integra o grupo Necton desde 2023, conta com uma capacidade produtiva anual superior a 100 toneladas, distribuída entre diferentes espécies de microalgas. O grupo liderado por João Navalho emprega mais de 95 colaboradores e um volume de negócios consolidado de 6,5 milhões de euros, que engloba as duas unidades de microalgas e a unidade de produção de sal marinho tradicional.
A empresa de Pataias fornece microalgas para três grandes setores de atividade: alimentação humana (com a marca Allma), alimentação animal (marca Allvitae) e agricultura (através da marca Allfertis).
A Allmicroalgae exporta 75% da produção essencialmente para a Europa com destaque para a Alemanha (maior mercado europeu) e França (mercado com maior taxa de crescimento projetada).
“Atualmente, o setor industrial das algas em Portugal conta com 21 empresas dedicadas às macroalgas (cultivo, colheita, transformação e aplicações) e 26 empresas do setor das microalgas, abrangendo desde o cultivo, a engenharia, a consultoria e a comercialização”, detalha a associação que representa o setor.
Utilizando uma abordagem de aquacultura integrada em antigas salinas em Aveiro com acesso a água salgada e com uma capacidade produtiva instalada de mais de 200 toneladas de macroalgas por ano, a Algaplus assume-se como pioneira em Portugal na produção sustentável de macroalgas marinhas com certificação biológica.
As algas da Algaplus são destinadas principalmente ao setor alimentar, cosmético e de bem-estar animal e têm como destino essencialmente os mercados europeus (França, Alemanha, Reino Unido, países nórdicos), mas também Canadá, EUA e Austrália.
“A Algaplus assegura o controlo completo de toda a cadeia de valor — desde a produção até à transformação e comercialização — garantindo produtos frescos e desidratados (inteiros, em flocos ou em pó)”, diz ao ECO Margarida Martins, responsável de inovação da empresa, que emprega 23 pessoas e soma um volume de negócios anual inferior a um milhão de euros.
Um setor promissor em crescimento
Os empresários ouvidos pelo ECO acreditam que o setor das algas é “promissor” e que Portugal está bem posicionado para aproveitar a tendência, podendo mesmo ser líder Europeu. As “condições naturais excecionais” e a “excelência científica” são apontados como fatores diferenciadores.
Luís Vieira da Silva, administrador executivo da Green Aqua Póvoa, garante que o “setor da biomassa é extremamente promissor para Portugal”, destacando que a “nível global, os produtos oriundos de biomassas estão em forte crescimento, impulsionado pela transição energética, pelo crescimento das indústrias a jusante que tradicionalmente usam algas (como a aquacultura) e pela procura por soluções sustentáveis”.
O gestor da empresa da Póvoa de Santa Iria estima que “mundialmente o setor de biomassa de algas e seus produtos verifiquem taxas de crescimento anual entre 5% e 10%, dependendo da aplicação”.
João Navalho, presidente do conselho de administração da Allmicroalgae, corrobora a ideia do gestor da Green Aqua Póvoa e prevê que o “mercado europeu de microalgas deverá crescer 9,3% ao ano até 2030, com a França e Alemanha a liderarem esta expansão”.
“O setor tem registado um aumento progressivo desde 2017, ano em que teve início o cultivo de macroalgas em Portugal, complementando décadas de produção industrial de microalgas (desde 1991). A tendência aponta para uma expansão significativa nos próximos anos, alavancada por investimento em inovação, sustentabilidade e biotecnologia”, detalha a Associação Portuguesa dos Produtores de Algas.
Face aos números, o administrador executivo da Green Aqua Póvoa assegura que “Portugal está particularmente bem posicionado para aproveitar esta tendência” e enumera as condições naturais “excecionais” do país: “extensa costa atlântica com águas limpas e ricas em nutrientes, elevada exposição solar, e uma temperatura média amena, tudo fatores ideais para a produção eficiente de algas”.
Portugal tem tudo para ser líder europeu em microalgas.
Por sua vez, o líder da Allmicroalgae e grupo Necton não tem dúvidas que “Portugal tem tudo para ser líder europeu em microalgas”, destacando a “excelência científica e ecossistema dinâmico e colaborativo”, a “aposta em projetos inovadores” e “condições naturais favoráveis”.
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