Autárquicas em Braga aquecem. Quem sucederá a Ricardo Rio e quem ficará a ver a câmara por um canudo?
Um candidato que é vereador e viu o nome envolvido no caso Spinumviva. Outro que foi vereador de Mesquita Machado e tem oposição no seu PS. E também Rui Rocha, ex-presidente da IL. A luta promete.

Desde que há democracia, Braga teve apenas dois presidentes de câmara eleitos, Mesquita Machado, ao longo de 27 anos, e Ricardo Rio, que termina o seu terceiro e último mandato. Nas próximas autárquicas, vereadores de ambos vão à luta por PSD e PS. Já pelo Chega, terceiro partido nas legislativas de há dois meses, a escassos 2500 votos dos socialistas, corre o candidato que em 2021 obteve 90 votos em Vieira do Minho. Na IL, a menor força partidária do “top 4” das legislativas, Rui Rocha vai de presidente demissionário do partido a candidato a edil em menos de um mês. Mesmo que não seja provável a sua vitória, o filho da freguesia bracarense de Nogueiró, onde a IL até bateu o Chega em maio, pode constituir um travão às ambições do PSD. E, como se sabe, numa câmara governa quem ganha, sem “geringonças”.
Aos candidatos do PSD e o do PS não falta a notoriedade local, mas o seu nome também é falado no resto do país, e nem sempre pelas melhores razões.
O primeiro, João Rodrigues, é o vereador da Regeneração Urbana, está anunciado como candidato há quase um ano e o seu nome foi sobejamente referido este ano aquando dos casos envolvendo a empresa Spinumviva, de Luís Montenegro. O pai do candidato social-democrata é o dono da gasolineira que contratou a empresa de Montenegro para a reestruturação do negócio. Já a mulher de João Rodrigues — advogado de profissão — é Inês Varajão Borges, a advogada que em 2022 substituiu Luís Montenegro como especialista de proteção de dados na empresa de Espinho e que no comunicado de fevereiro da Spinumviva (ainda antes da moção de confiança que levou à queda do Governo) foi identificada como Inês Patrícia.
Essa polémica [de João Rodrigues com a Spinumviva] não é, de todo relevante para a avaliação da sucessão. Aliás, o próprio primeiro-ministro era o primeiro visado nesse mesmo processo. Os portugueses reforçaram a confiança nele e votaram mais portugueses nele nestas últimas eleições do que tinham votado nas anteriores. Acho que essa apreciação também irá ocorrer em relação ao candidato de Braga. Do ponto de vista da capacidade de gestão do projeto, dá todas as condições, fazendo uma boa equipa para que o projeto possa ter a continuidade que todos desejamos
Sobre o seu vereador e potencial sucessor à frente da câmara “laranja” desde 2013, Ricardo Rio disse ao ECO/Local Online, numa entrevista realizada no início do mês, achar que “essa polémica não é, de todo relevante para a avaliação da sucessão. Aliás, o próprio primeiro-ministro era o primeiro visado nesse mesmo processo. Os portugueses reforçaram a confiança nele e votaram mais portugueses nele nestas últimas eleições do que tinham votado nas anteriores. Acho que essa apreciação também irá ocorrer em relação ao candidato de Braga”. Ainda sobre João Rodrigues, o autarca afirmou que “do ponto de vista da capacidade de gestão do projeto, dá todas as condições, fazendo uma boa equipa para que o projeto possa ter a continuidade que todos desejamos”.
Resta saber se os bracarenses concordam. João Rodrigues, tal como os seus adversários conhecidos para a câmara, nasceu em Braga, no seu caso na freguesia de São José de São Lázaro, e o seu aniversário pode coincidir com o dia das eleições. Segundo a Lei em vigor, as autárquicas têm de decorrer entre 22 de setembro e 14 de outubro, sendo que o último domingo deste intervalo calha precisamente a 12, quando o candidato fará 38 anos.
A idade é um dos elementos que coloca Rodrigues num campo oposto ao de António Braga, candidato do PS. O ex-presidente da Assembleia Municipal foi vereador de Mesquita Machado, que se viu a braços com a justiça após deixar a câmara. Ao longo dos 27 anos de governação, Mesquita, “dinossauro” socialista que chegou a ser secretário de Estado do Governo de Bloco Central liderado por Mário Soares — e dali regressou à câmara de Braga após suspeitas de ter feito, enquanto autarca, negócios com uma empresa de construção da qual era sócio — enfrentou vários casos polémicos e chegou mesmo a ser condenado a três anos com pena suspensa em 2019, num caso de negócio conhecido como do quarteirão das Convertidas e que, alegadamente, beneficiara a filha e o genro.
Com a saída de Mesquita Machado da ribalta bracarense, António Braga perdeu visibilidade e também, de forma categórica, a luta pela liderança da concelhia do PS de Braga, contra Vítor Sousa, seu colega no Executivo de Mesquita, enquanto vice-presidente, e que em 2013 foi o candidato do PS nas autárquicas ganhas por larga vantagem e por maioria por Ricardo Rio — mais tarde, Vítor Sousa acabaria detido por suspeitas de recebimento de luvas num caso envolvendo a aquisição de autocarros para a empresa municipal TUB, mas em 2019 foi absolvido, por prescrição do crime.
Agora, em 2025, António Braga, que nos cartazes espalhados pela cidade não dispensa um trocadilho entre o seu nome e o do concelho a que quer presidir, consegue finalmente chegar a candidato. Pelo caminho ficou a ambição do ex-secretário de Estado Hugo Pires, candidato autárquico socialista em 2021, de ser o candidato em 2025.
Em dezembro, Hugo Pires dizia à Rádio Universitária do Minho que ponderava candidatar-se como independente, e que vários presidentes de junta socialistas também estavam nessa disposição, devido à discordância perante a escolha de António Braga. Contudo, o aval do então secretário-geral Pedro Nuno Santos tornou a situação incontornável, a favor do seu ex-colega de bancada parlamentar e governante durante a X Legislatura, quando Pedro Nuno chegou à Assembleia da República. O preterido, Hugo Pires, tinha sido um dos novos secretários de Estado escolhidos por António Costa aquando da remodelação governamental que se seguiu à demissão do então ministro das Infraestruturas e Habitação.
Uma das razões apontadas nas conversas em Braga para esta agitação interna do PS é a idade de António Braga (72 anos completados em abril), num momento que poderá ser considerado a maior oportunidade do PS no concelho desde 2013, perante a saída de cena de Ricardo Rio, que termina o terceiro e último mandato permitido por lei. António Braga é licenciado em Filosofia, está já reformado, mas não vira as costas à luta no concelho onde foi presidente da Assembleia Municipal no derradeiro mandato de Mesquita Machado. Numa das suas últimas funções políticas, enquanto deputado na legislatura do primeiro Governo de Passos Coelho, já com António José Seguro como líder socialista, foi uma das vozes defensoras do legado de José Sócrates, de quem foi secretário de Estado das Comunidades.
Rui Rocha regressa à terra, o Chega lança o líder local e acresce um independente para baralhar as contas
Olhando a participação nas últimas autárquicas e nas legislativas de 18 de maio, um dado salta à vista logo à partida: na segunda reeleição de Ricardo Rio, por maioria, foram às urnas 57% dos mais de 166 mil eleitores, enquanto há dois meses houve 71% de bracarenses a votar. Mas se é certo que votaram mais 15 mil eleitores, também é constatável que o PSD perdeu cerca de 3.000 votos e o PS mais de 1.500. Em sentido contrário, a IL ganhou quase 9.000 votos mais que em 2021 e o Chega superou a sua votação das autárquicas em mais de 20 mil “cruzinhas” no boletim das legislativas.
Para segurar estes eleitores, a candidatura da IL é, em teoria, mais forte. Na cara do pelotão liberal para a câmara está Rui Rocha, que esta semana se apresentou aos bracarenses nas redes sociais, num vídeo em que sai do Alfa Pendular proveniente de Santa Apolónia. Uma maneira simbólica de mostrar aos seus concidadãos, habituados a vê-lo cumprir o dever cívico na assembleia de voto do Centro Cívico da freguesia de Nogueiró e Tenões — a sua morada oficial — que depois de abandonar a liderança nacional da IL, quer ser o inquilino principal da Praça do Município.
Pelo Chega, o presidente da concelhia de Braga assume a candidatura do partido. Também natural de Braga, como Rui Rocha, Filipe Aguiar diz-se um empresário “ligado a vários negócios em várias partes do mundo”. Quando se candidatou a Vieira do Minho em 2021 afirmou numa entrevista: “vim para esta candidatura com convicção de ganhar”. Acabaria por amealhar 90 votos, menos que os nulos, entre os 9.000 eleitores do concelho.
Já na apresentação à corrida a Braga, afirmou, numa entrevista à Rádio Antena Minho, que “esta é uma candidatura de sentimento e de amor à cidade que me viu crescer. É uma candidatura diferente das outras todas que temos até agora e será assente na proximidade com os bracarenses”. E, numa reedição da ambição de 2021 em Vieira do Minho, declarou estar “a trabalhar para ganhar as eleições autárquicas em Braga” e que não duvida da conquista de mais do que os dois deputados na Assembleia Municipal eleitos em 2021.
Nos candidatos conhecidos a Braga contam-se ainda João Baptista, pela CDU, e o independente Ricardo Silva, do Movimento Amar e Servir Braga.
Este, com 42 anos, está a cumprir o seu terceiro e último mandato na freguesia de São Victor. Foi eleito em 2013 e 2017 numa coligação liderada pelo PSD, mas acabaria por avançar em 2021 enquanto independente, voltando a ganhar a freguesia. O movimento RS21 teve 4.399 votos e a coligação liderada pelo PSD somou 3.096. Já o PS ficou nos 2.084.
Na mesma freguesia, mas no boletim referente à eleição para a câmara, os de São Victor, freguesia do centro da cidade com 25 mil eleitores inscritos, deram 4.621 votos à aliança de direita encabeçada por Ricardo Rio e 3.147 aos socialistas. Ao PSD, Ricardo Silva tomou mais de 1.500 eleitores, e ao PS mais de mil, o que prova a sua capacidade de penetração em ambos os partidos, pelo menos na sua terra. Se a decisão para as autárquicas de 2025 tiver um final renhido, como ocorreu na última vitória de Mesquita Machado em 2009 — decidida por menos de 3.000 votos, com o candidato social-democrata derrotado, Ricardo Rio, a “culpar” o voto útil, visível na fraca votação no BE e no PCP — o independente promete ser, tal como o liberal Rui Rocha e o candidato do Chega, um elemento a ter em conta.
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