Pessimismo dos CFO em Portugal quase duplica com incerteza geopolítica
A incerteza geopolítica e as tarifas estão a deixar os CFO em Portugal mais pessimistas sobre as perspetivas financeiras das suas empresas. Apesar disso, ainda veem um crescimento das receitas.
Os administradores financeiros em Portugal estão mais pessimistas sobre as perspetivas financeiras das suas empresas. A proporção praticamente duplicou face ao outono passado, num período marcado por uma elevada incerteza geopolítica e por uma política agressiva de tarifas aduaneiras imposta pelo presidente norte-americano, Donald Trump. Apesar disso, os Chief Financial Officers (CFO) nacionais estão mais otimistas do que os seus pares europeus relativamente ao crescimento das receitas e das margens.
O maior pessimismo dos administradores financeiros, tanto na Europa como em Portugal, “está relacionado com as tensões e conflitos geopolíticos, a que se somou o tema do protecionismo americano com a questão das tarifas”, afirma ao EContas Nélson Fontainhas, partner da Deloitte e responsável pelo mais recente CFO Survey da consultora. Juntando estes dois fatores, com as “tensões geopolíticas a fazerem com que as empresas tenham de repensar as cadeias de abastecimento e o facto de essas cadeias poderem vir a ser novamente perturbadas por políticas de tarifas alfandegárias, há um elevado grau de incerteza que deteriora as expectativas das empresas”, refere.
As conclusões da análise, relativas à primavera de 2025, revelam isso mesmo. “O sentimento dos CFO na Europa está a deteriorar-se, com a proporção dos que têm uma visão menos otimista a aumentar de 27% para 33%. Em Portugal, esta tendência é ainda mais evidente, com 44% dos CFO a manifestarem uma visão mais cautelosa, quase o dobro dos 23% registados no outono passado”, indica o estudo.
Com as tensões geopolíticas a fazerem com que as empresas tenham de repensar as cadeias de abastecimento e o facto de essas cadeias poderem vir a ser novamente perturbadas por políticas de tarifas alfandegárias, há um elevado grau de incerteza que deteriora as expectativas das empresas.
O inquérito mostra ainda que a “percentagem dos mais otimistas mantém-se estável nos 23%, tanto em Portugal como na Europa, embora a nível europeu esta percentagem represente uma descida face aos 28% registados no outono de 2024. Quase metade (45%) mantém ainda uma postura neutra, refletindo uma perspetiva cautelosa, bem como uma expectativa de estabilidade face às perspetivas financeiras das suas empresas”.
Em termos de setores, os CFO de serviços empresariais e profissionais continuam a demonstrar maior confiança nas perspetivas financeiras das suas empresas, com o setor da construção a apresentar também uma perspetiva ligeiramente otimista. Em sentido contrário, setores como serviços financeiros, tecnologia, media e telecomunicações, transportes & logística e turismo & viagens registaram uma quebra significativa no otimismo desde a última edição do estudo.
Incerteza geopolítica no topo das preocupações
No topo das preocupações dos administradores financeiros em Portugal estão os riscos geopolíticos, em linha com o resto da Europa. “A geopolítica encontra-se entre os três principais riscos em 86% dos países inquiridos, o valor mais elevado desde que a Deloitte iniciou o inquérito em 2015, ultrapassando até os níveis observados em 2022, aquando da invasão da Ucrânia pela Rússia”, aponta o CFO Survey. Em Portugal, mais de metade (63%) dos líderes financeiros vê impacto nas cadeias de abastecimento e 61% nas vendas devido à instabilidade geopolítica, valores superiores à média europeia (48% e 53%, respetivamente).
“Neste contexto, Portugal é mesmo o segundo país a reportar o nível mais alto de incerteza na Europa (79%), ultrapassado apenas pelo Reino Unido (93%). Portugal destaca-se também como o país com menor apetência para assumir riscos: 91% dos CFO consideram que este não é o momento adequado para assumir maiores riscos no balanço, comparativamente com 82% a nível europeu”, aponta o estudo.
Receitas vão continuar a crescer
Apesar do maior pessimismo sobre as perspetivas financeiras, os administradores financeiros mantêm a expectativa de um crescimento das receitas. “Os CFO nacionais mantêm-se mais confiantes do que os seus pares europeus no que respeita ao crescimento das receitas e à evolução das margens operacionais”, indica a Deloitte, com o saldo líquido das expectativas de receita em Portugal a cair de 52 pontos para 42 pontos, enquanto na Europa recuou de 37 pontos para 29 pontos. “As margens operacionais seguem uma trajetória semelhante, revelando maior otimismo por parte das empresas portuguesas”, revela.
“Os CFO, tanto na Europa como em Portugal, quando olham para a empresa, consideram que as receitas vão ter um comportamento mais estável do que tudo o resto. Não preveem grande impacto nas receitas. Há uma quebra, mas não é tão acentuada como, por exemplo, no tema do investimento ou da evolução do número de pessoas”, afirma Nélson Fontainhas.
De acordo com o partner da Deloitte, “nenhum investidor toma uma decisão de investimento num cenário de maior incerteza. Normalmente, escolhemos os investimentos que são seguros em cada cenário ou adiamos. Foi o que aconteceu até março ou abril deste ano [para se perceber os próximos passos de Donald Trump]”.
Abrandamento na contratação
Por outro lado, o estudo mostra que o “sentimento em relação à contratação entre os CFO europeus diminuiu abruptamente, com a maioria a prever uma redução da força de trabalho”, com “Portugal a acompanhar a tendência europeia de retração, embora com um impacto menos acentuado”.
O sentimento em relação à contratação entre os CFO europeus diminuiu abruptamente, com a maioria a prever uma redução da força de trabalho (…) Portugal acompanha a tendência europeia de retração, embora com um impacto menos acentuado.
“Há um abrandamento na contratação. O grande fator é certamente o mesmo do investimento. Os CFO querem manter as receitas, torná-las resilientes, mas proteger-se dos riscos. Significa que as variáveis que dominam, que é o investimento e o custo, são as primeiras que deprimem. No caso dos recursos humanos, há um jogo defensivo, [com as empresas a quererem proteger a sua eficiência]”, conclui Nélson Fontainhas.
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