Skoda Elroq: O checo que chegou para dar lições de pragmatismo elétrico

A manhã começou como qualquer outra: miúdos a protestar porque não queriam ir para a escola, mochilas esquecidas em cima da mesa, e a típica pergunta “onde estão as chaves do carro?”. Só que, desta vez, as chaves eram do Skoda Elroq 85 e, por uns instantes, vestimos a pele de um espião checo infiltrado na rotina familiar portuguesa. Será que este elétrico de 43 mil euros consegue sobreviver ao teste mais brutal de todos: levar os miúdos à escola sem drama? Spoiler: consegue. E com algum estilo à mistura.

O Elroq nasceu da junção das palavras “elétrico” e “Karoq”, numa demonstração de criatividade linguística que faria qualquer professor de português franzir o sobrolho. Mas a Skoda não está preocupada com a pronúncia — está preocupada em criar o primeiro SUV elétrico compacto verdadeiramente familiar que não obrigue os pais a fazer um segundo empréstimo para o comprar.

Lançado oficialmente em outubro do ano passado, o Elroq é o primeiro modelo da marca checa a exibir a nova linguagem de design “Modern Solid”, o que basicamente significa que trocaram o tradicional logótipo alado por letras garrafais Skoda na dianteira, como se fosse um anúncio ambulante. É ousado? É. Funciona? Surpreendentemente, sim.

Partilha a plataforma MEB com o maior Enyaq, mas numa versão mais compacta e acessível. Com cerca de 4,5 metros de comprimento, o Elroq posiciona-se naquele ponto doce entre um citadino e um pequeno SUV: grande o suficiente para carregar a parafernália de malas e brinquedos da família para uma escapadela de fim de semana, e pequeno o suficiente para caber nas vagas minúsculas dos parques de estacionamento dos centros comerciais.

A versão 85 Sportline que o ECO conduziu durante alguns dias vem equipada com 286 cavalos de potência, que se traduzem numa aceleração dos 0 aos 100 km/h em 6,6 segundos. Números que soam impressionantes no papel, mas que, na prática, se manifestam numa suavidade quase terapêutica.

No trajeto matinal para a escola, o Elroq comporta-se como aquele colega de trabalho que nunca se exalta: eficiente, previsível e estranhamente reconfortante. O motor elétrico de 210 kW responde ao pedal direito com a educação típica dos checos, sem sobressaltos nem teatralismos. Quando a semana incluiu algumas escapadelas pela A8 em direção ao litoral, a autonomia de 529 quilómetros (WLTP) revelou-se mais do que generosa para as aventuras familiares do fim de semana.

Quem tem filhos sabe que o espaço no carro não é uma questão de luxo, mas uma questão de sobrevivência mental. A bagageira de 470 litros do Elroq pode não competir com os 585 litros do primo mais velho Enyaq, mas é suficientemente ampla para acomodar duas mochilas escolares, uma bola de futebol, os patins da pequena, as compras do supermercado e ainda sobrar espaço para o equipamento de carregamento que a Skoda teve a sensatez de dotar de um compartimento próprio.

Com os bancos traseiros rebatidos, o volume expande-se para 1.580 litros — números que transformam este elétrico compacto numa verdadeira carrinha de mudanças quando necessário. É aqui que se percebe a diferença entre quem projeta carros em laboratórios asséticos e quem compreende verdadeiramente as necessidades das famílias.

O Elroq revela-se exatamente aquilo que promete ser: um elétrico familiar pragmático que cumpre sem dramas. Não é um carro para quem procura emoções fortes ou declarações de princípios tecnológicos.

O habitáculo do Elroq partilha o ADN com o Enyaq, e isso traduz-se numa qualidade de construção sólida e numa disposição lógica dos comandos. O ecrã central de 13 polegadas gere todas as funções principais sem criar confusão desnecessária, embora alguns puristas possam lamentar a ausência de botões físicos para o ar condicionado.

Os detalhes “Simply Clever” típicos da Skoda fazem aqui toda a diferença: as redes de arrumação, o guarda-chuvas integrado na porta e os múltiplos compartimentos de arrumação revelam uma marca que ainda se lembra de que os carros servem para transportar pessoas e as suas tralhas. É funcionalidade sem floreados, eficiência sem compromissos.

Com preços a partir dos 43 mil euros na versão com a bateria de 85 kWh, o Elroq enfrenta uma concorrência feroz. O Tesla Model Y (44.990 euros) oferece mais glamour tecnológico, enquanto o Kia EV3 (38.490 euros) seduz pela entrada mais acessível. Mas aqui reside o génio estratégico da Skoda: não tenta ser o mais rápido, o mais tecnológico ou o mais barato. Tenta ser o mais sensato. Face ao Model Y, oferece controlos mais intuitivos e um interior mais convencional. Face ao EV3, proporciona maior qualidade de construção e um espaço interior superior.

O Elroq revela-se exatamente aquilo que promete ser: um elétrico familiar pragmático que cumpre sem dramas. Não é um carro para quem procura emoções fortes ou declarações de princípios tecnológicos. É um carro para quem quer dar o salto para o elétrico sem renunciar ao bom senso ou ao orçamento familiar.

Numa época em que muitos elétricos parecem produtos saídos de um laboratório futurista, a Skoda simplesmente seguiu o seu mantra ao criar um automóvel simplesmente útil. E talvez seja precisamente essa normalidade que torna o Elroq especial. Afinal, quantos de nós realmente precisamos de um carro que nos deslumbre todos os dias? Às vezes, o que queremos mesmo é chegar ao destino sem complicações, com a família confortável e o orçamento intacto. O Elroq consegue isso tudo. E mais: consegue-o com uma elegância discreta que só os checos sabem fazer.