Seat Leon Sportstourer e-Hybrid: mais razão do que paixão ao volante

Seat Leon Sportstourer e-Hybrid: mais razão do que paixão ao volante

Luís Leitão,

Carregada de tecnologia e conforto, esta carrinha em modo híbrido dos espanhóis da Seat mostra-se fiel às famílias modernas, ainda que a emoção fique arrumada no banco de trás.

Há 25 anos que o Seat Leon faz o que muitos jovens espanhóis fizeram na década de 1990: imigrar para se afirmar. Nascido numa época em que a marca procurava identidade própria além da sombra da Fiat e antes de se tornar a “filha rebelde” do grupo Volkswagen, o Leon conseguiu algo raro na indústria automóvel: criar personalidade sem precisar de gritar.

A versão que passou pelas mãos do ECO numa escapadela familiar a Évora custa mais de 47 mil euros, um valor que nos primeiros minutos ao volante faz questionar se não seria mais sensato comprar um Golf e poupar para umas férias decentes. Mas os espanhóis, tal como os seus jamones, têm tendência a surpreender quando menos se espera.

O primeiro Leon foi desenhado por Giorgetto Giugiaro em 1999, que tinha a missão impossível de mostrar que a Seat não era apenas uma Fiat disfarçada de espanhola. Foi o primeiro modelo da marca a oferecer tração integral e uma caixa de seis velocidades, numa época em que ter 180 cavalos era quase obsceno.

A segunda geração, de 2005, foi desenhada por Walter de Silva e incluía uns puxadores das portas traseiras embutidos que faziam o carro parecer ter apenas três portas — um truque de styling que os alemães chamam de engenharia e os espanhóis de arte. Foi esta geração que conquistou títulos mundiais no WTCC em 2008 e 2009, tornando-se a primeira marca a vencer um campeonato mundial com motores diesel.

Agora, na quarta geração, o Leon celebra o seu 25.º aniversário com uma versão e-Hybrid desportiva em modo de carrinha que promete até 133 quilómetros de autonomia elétrica, apesar de, na prática, durante o ensaio, ter feito 113 quilómetros – uma diferença que não é dramática, mas que nos lembra que os dados oficiais são como as promessas políticas: sempre otimistas.

O sistema híbrido plug-in do Leon Sportstourer combina um motor 1.5 turbo de 150 cavalos com um elétrico de 75 cavalos e uma bateria de 25,8 kWh. O resultado são 204 cavalos de potência total – suficientes para fazer a viagem até Évora sem dramas, mas também sem grandes emoções.

A verdade é que este Leon não nasceu para ser um carro de sensações. Ao contrário de um Ford Focus, que convida à brincadeira, o espanhol prefere a diplomacia à provocação. É como jantar num bom restaurante português: sai-se satisfeito, mas sem histórias épicas para contar.

Por dentro, o Leon mostra a sua herança do grupo Volkswagen. O habitáculo é bem construído, com materiais de qualidade decente, mas sem os pormenores que fazem a diferença. O ecrã tátil de 10 polegadas funciona bem, mas obriga-nos a usar menus para controlar o ar condicionado – uma prática que deveria ser proibida por lei.

Para famílias que procuram um carro prático, eficiente e com tecnologia atual, faz todo o sentido. Para quem quer emoções ou estatuto, talvez seja melhor procurar noutro lado.

O espaço é generoso, especialmente atrás, onde mesmo adultos viajam confortavelmente. A bagageira, com 450 litros na versão híbrida, é suficiente para as malas da família, mas não para grandes ambições de mudança de casa.

A viagem até Évora serviu de teste real às capacidades do Leon e-Hybrid. Na primeira parte do percurso, em modo elétrico, o silêncio era absoluto – as crianças conseguiram até adormecer, um milagre raramente documentado na literatura científica. O consumo urbano rondou os 2,1 l/100km, mas na autoestrada, com o motor térmico a funcionar, subiu para valores mais terrestres de cerca de 5,5 l/100km.

Em Évora, cidade que nos lembra que o poder pode ser efémero, mas a arquitetura é eterna, o Leon mostrou-se um companheiro urbano civilizado. A direção leve facilita as manobras entre as ruas estreitas, e o modo elétrico permitia circular sem acordar os fantasmas dos reis e rainhas que por ali passaram.

Para famílias que procuram um carro prático, eficiente e com tecnologia atual, faz todo o sentido. Para quem quer emoções ou estatuto, talvez seja melhor procurar noutro lado. Aos 25 anos, o León sabe exatamente o que é: um automóvel sólido para pessoas sensatas. E talvez não haja nada de errado nisso, mesmo que custe 47 mil euros.

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