Empresas de Gaia juntam-se para contestar plano B da linha de alta velocidade
Solução alternativa para TGV provoca descontentamento por parte de grupos empresariais instalados em Vilar do Paraíso. Troço alternativo em Gaia pode afetar 220 empregos e receitas de 25 milhões.
A comunidade empresarial e social de São Caetano está ameaçada pela incerteza em torno do traçado do primeiro troço da futura Linha de Alta Velocidade Porto–Lisboa. Em cima da mesa está um plano alternativo que desloca a estação de Santo Ovídio para Vilar do Paraíso / São Caetano.
Para defender os interesses das entidades potencialmente afetadas pelo traçado da futura Linha de Alta Velocidade (LAV) em Vila Nova de Gaia, vários empresários juntaram-se para criar a Associação das Empresas da Zona Industrial de São Caetano, que representa atualmente 21 potenciais expropriações, envolvendo proprietários e empresas que no seu conjunto somam mais de 25 milhões de euros em vendas anuais e asseguram mais de 220 postos de trabalho.
O caderno de encargos oficial e o contrato de concessão definem uma estação de Gaia subterrânea em Santo Ovídio e a construção de uma ponte ferroviária sobre o Douro. No entanto, a Associação das Empresas da Zona Industrial de São Caetano, recentemente constituída, conta ao ECO que o “consórcio concessionário AVAN Norte tem vindo a promover um plano alternativo que desloca a estação para Vilar do Paraíso / São Caetano, trazendo-a para a superfície e prevê a construção de duas pontes, solução que implicaria um número substancialmente superior de expropriações (cerca de 135, contra 40 no plano oficial), afetando de forma crítica o tecido económico, habitacional e comunitário da região”. As 135 expropriações incluem cerca de 100 habitações e 35 empresas.
A associação afirma que para além das “empresas e empregos em risco“, acresce “um grau de dificuldade muito elevado na relocação destas empresas, não só a nível logístico mas também pelo facto de não existirem atualmente imóveis semelhantes disponíveis na zona, podendo ter impacto nos trabalhadores locais”.

As empresas e comunidade de São Caetano em Vila Nova de Gaia exigem transparência sobre a Linha de Alta Velocidade. A Associação das Empresas da Zona Industrial de São Caetano refere que “apesar de não existir qualquer confirmação oficial por parte da Infraestruturas de Portugal ou do Governo, técnicos ligados ao consórcio têm já abordado empresas locais, apresentando mapas do traçado alternativo e referindo expropriações iminentes até ao final de 2025″.
O CEO da Arcádia, e porta-voz da associação, assegura que as “empresas têm sido visitadas por engenheiros para realização de levantamentos económico-sociais e estudos preparatórios de expropriação”, destacando que esta situação “gera alarme entre trabalhadores e impossibilita gestores de planear investimentos ou tomar decisões estratégicas”.
Apesar de o traçado oficial continuar a ser o de Santo Ovídio, as empresas de São Caetano têm sido confrontadas com “abordagens não oficiais de técnicos que solicitam acesso a instalações e dão como certa a estação em Vilar do Paraíso”, “mapas de traçado alternativo entregues diretamente às empresas, já prevendo a estação em Vilar do Paraíso e o corredor ferroviário junto a armazéns”.
A Associação considera “inadmissível a opacidade em torno de um projeto de interesse nacional desta dimensão e exige transparência, clareza e participação pública em todas as fases do processo“, tendo já solicitado formalmente reuniões à Comissão Parlamentar de Economia e Coesão Territorial, à Comissão Parlamentar de Infraestruturas, Mobilidade e Habitação, bem como a todos os Grupos Parlamentares com assento na Assembleia da República, aguardando resposta para ser recebida com urgência.
O CEO da Arcádia afirma ao ECO que o “troço alternativo, e segundo os mapas que teve acesso, iria fazer com que a fábrica de pastelaria fosse toda abaixo”. Para além da Arcádia, ByFoods (Nata Pura), Hypermetal, Homecars, Catalgaia, Poluic, Perfilium Metal Systems, Perpicola e Colisauto são algumas das empresas visadas por este troço alternativo.
Em junho deste ano, o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, que renunciou ao mandato à frente da autarquia, na sequência do despacho do Tribunal Constitucional (TC) que veio confirmar a sua perda de mandato pelo crime de peculato, sugeriu que tanto a Infraestruturas de Portugal (IP) como a Câmara do Porto conheciam as propostas alternativas do consórcio LusoLAV para o TGV, apesar de terem dito o contrário.
A associação afirma ainda que a 28 de junho de 2025 (dois dias antes de Eduardo Rodrigues deixar de ser presidente) o executivo da Câmara Municipal de Gaia levou a votação na Assembleia Municipal as propostas alternativas do “Plano B”, incluindo a estação em Vilar do Paraíso e votaram a favor um parecer não-vinculativo. Perante a situação, a associação questiona “como é que se vota numa proposta que ainda não existe oficialmente?”.
A Associação das Empresas da Zona Industrial de São Caetano entende que um projeto desta dimensão e relevância nacional “não pode ser decidido à porta fechada” e exigem o esclarecimento imediato sobre qual é o traçado oficial em Gaia – se Santo Ovídio estação subterrânea (“Plano A”) ou Vilar do Paraíso estação à superfície (“Plano B”).
Solicitam ainda a “publicação de todos os estudos comparativos entre o Plano A e o Plano B, incluindo custos, impactos, número de expropriações e integração com transportes”, assim como uma “sessão de esclarecimento público em Gaia (São Caetano), promovida pela IP, pelo consórcio AVAN Norte e pelo Governo”.
O contrato de 1,6 mil milhões de euros para o primeiro troço estabelece uma estação de Gaia (Santo Ovídio) e uma ponte rodoferroviária. O contrato foi adjudicado ao consórcio AVAN Norte (ex-LusoLAV, composto por Mota-Engil, Teixeira Duarte, Alves Ribeiro, Casais, Conduril e Gabriel Couto).
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