ECO da campanha: Razão “pessoal” prendeu Ventura e Carneiro contra venda de almas ao diabo
E ao terceiro dia, André Ventura e Mariana Mortágua apareceram na campanha. O primeiro esteve a resolver uma questão "pessoal", enquanto a líder do Bloco acedeu pelas declarações dos partidos.
A razão para a ausência era de “natureza pessoal e familiar”, esclareceu André Ventura, único cidadão que tem a sua cara espalhada pelos cartazes do país inteiro, num inédito caso de ubiquidade autárquica. Apesar de candidatos do seu partido se terem insurgido contra a questão dos jornalistas sobre a ausência nos dois primeiros dias, afinal Ventura queria mesmo ter arrancado mais cedo pelo país.
Na mesma região do país onde se deu este regresso, José Luís Carneiro retomou o tema da união entre PSD/CDS e Chega na aprovação da lei de estrangeiros. “A democracia não está para brincadeiras. Há muitos inimigos da democracia hoje, no mundo, e há quem aqui, dentro do país, se deixe instrumentalizar e já tenha vendido a alma ao diabo”, disse.
Para lá do Espinhaço de Cão, falam os que lá estão, e Hugo Soares devolveu as críticas a Carneiro, num lamento de que “o Partido Socialista não tenha percebido o problema que o país vive, e ontem não tenha estado com a solução e tenha voltado a estar do lado da negação”. Sobre a tal venda de alma ao diabo, o secretário-geral do PSD assegura: “Eu não preferi ninguém. O Chega é que preferiu esta legislação”.
Tema quente
A flotilha.
Mariana Mortágua ainda não marcou presença na campanha e até já suspendeu o mandato de deputada na Assembleia da República, mas o seu nome percorreu o país político ao terceiro dia de campanha. A sua gémea Joana Mortágua e Fabian Figueiredo, que têm representado o partido nos primeiros dois dias de campanha, foram recebidos em Belém. Lá, Fabian Figueiredo acusou o primeiro-ministro de não prestar informação relevante ao Bloco de Esquerda, apesar dos dois pedidos de reuniões ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Também à esquerda, o secretário-geral do PCP aponta o dedo ao Governo pelo que diz ser o fechar de olhos perante um genocídio na Palestina e, tal como o Bloco, exige um pedido de esclarecimento ao embaixador de Israel em Portugal. “Os barcos não se dirigiam à Palestina porque lhes apeteceu fazer um cruzeiro”, ironizou Paulo Raimundo.
“Podemos estar todos os portugueses, todos os democratas, de consciência tranquila”, assegurou, por seu turno, Sebastião Bugalho. O eurodeputado falou em nome do Governo, dizendo que “como ainda agora de manhã reconheceu o líder do Partido Socialista”, este “fez tudo o que podia”.
José Luís Carneiro, por seu lado, recusou fazer “juízos de valor sobre aquilo que são atitudes individuais” e assegurou que “na matéria de política externa há um diálogo entre Governo e Partido Socialista e as posições que temos assumido são posições consentâneas com a posição do Estado português”.
Mais à direita, a crítica foi o ponto em comum, com os líderes do Chega e do CDS a abordarem o tema durante as respetivas arruadas de forma especialmente dura.
Ainda que a Iniciativa Liberal (IL) ponha em causa a presença de Mariana Mortágua na flotilha e considere poder haver tentativa de aproveitamento político, Mariana Leitão teve um tom mais institucional: “Fico muito contente que com a evolução dos acontecimentos se saiba que as pessoas estão em segurança e vão regressar aos países de origem”. A dúvida, para si, “é se Mariana Mortágua acabou por servir a causa ou por se servir da causa”.
Pouco sensibilizado, Nuno Melo, durante uma ação de campanha autárquica não poupou nas palavras: “É uma iniciativa planfetária, que considero irresponsável, em direção a um território ocupado por uma organização terrorista, que foi responsável por um ataque mais de 1.300 pessoas em Israel”.
Ainda na sua primeira ação do dia, no mercado municipal de Mondim de Basto, o líder do CDS-PP e ministro da Defesa acentuou a crítica a “um conjunto de pessoas que se dirige à faixa de Gaza para apoiar uma organização assim. Peço desculpa, há quem esteja do lado dos terroristas, há quem esteja do lado da democracia e da liberdade. Eu estou do lado da democracia e liberdade”.
Por seu turno, André Ventura chama “mero número de circo da extrema-esquerda”. O líder do Chega questiona: “Quando isto acabar, quem é que vai pagar os custos que estamos a ter com a Mariana Mortágua. É ela que vai pagar?”
A figura
Suzana Garcia
Reunir em seu torno três presidentes e ex-presidentes do PSD em três dias não é para todos. Na Amadora, onde o incumbente Vítor Ferreira vai pela primeira vez a votos como candidato a presidente – subiu à liderança quando a autarca eleita em 2021, Carla Tavares, rumou ao Parlamento Europeu –, os social-democratas parecem revelar-se fortemente apostados na candidatura de uma ex-comentadora em programas televisivos da manhã, sobre a qual já muitos disseram ter um discurso próximo do Chega.
Depois de Luís Montenegro se apresentar ao lado de Suzana Garcia logo no primeiro dia de campanha, terça-feira, nesta quinta-feira surgem ao lado da recandidata à Amadora a ex-ministra e ex-presidente partidária Manuela Ferreira Leite e o seu sucessor na Santana à Lapa, Pedro Passos Coelho.
Nestas autárquicas, Ferreira Leite é mandatária de Marco Almeida em Sintra. Já Passos, o “padrinho” político de André Ventura em 2017 na Câmara de Loures, aparece sem a obrigação de qualquer incumbência no partido.

Os números
Vantagem para Carlos Moedas na corrida para presidente da Câmara de Lisboa a 12 de outubro, diz a sondagem do ECO nesta quinta-feira, mas Alexandra Leitão está na margem de erro.
A frase
"Os ciganos não se estão a portar bem em Portugal e precisamos de autarcas que não têm medo […] A nossa paciência com os ciganos está a ficar cada vez mais reduzida. Não há dia, não há semana, em que não se envolvam entre eles, como se fossem grupos de bandidos violentos, a atacar pessoas, a distribuir património, a destruir estabelecimentos”
A surpresa
Criticada em vários quadrantes por ter saído do país numa altura em que é a única deputada do partido no Parlamento, cargo que ocupa com o de líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua entra de rompante na campanha a partir de Israel. A sua detenção poderá virar o jogo a favor das disputas do Bloco, designadamente na coligação encabeçada por Alexandra Leitão em Lisboa?
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