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Mulheres sub-representadas nos media

Carla Borges Ferreira,

Para além de sub-representadas, as mulheres estão mais anónimas e, quando surgem, é mais frequente que ocorra uma menção explícita do seu género ou à família.

As notícias sobre homens são duas vezes e meia superiores ao número de notícias sobre mulheres e as manchetes são maioritariamente sobre homens, com as mulheres a aparecerem citadas 21% menos nos espaços nobres dos media.

Para além de sub-representadas, as mulheres estão mais anónimas e, quando surgem, é mais frequente que ocorra uma menção explícita do seu género ou à família.

Os artigos também são mais assinados por homens, com as mulheres a assinarem 50% menos artigos. Economia, política, tecnologia e desporto são as editorais onde a falta de paridade é mais óbvia. Em sentido contrário, as secções sobre saúde, atualidades, sociedade e cultura são as que contam com maior presença feminina (cerca de 45%).

Estas são algumas das principais conclusões do relatório “Mulheres sem Nome,” produzido pela LLYC com base na análise de 14 milhões de notícias, de 12 países, com menção explícita do género.

Em Portugal, a desigualdade na produção de notícias é inferior. Aliás, aponta a LLYC, Portugal é o país onde homens e mulheres assinam as notícias quase igualmente. O desporto, a tecnologia e a economia são as secções com menos editoras femininas, com cerca de 25%. México e Equador são outros dois países em que o número de artigos assinados por mulheres, são acima da média, embora a maioria da informação seja produzida por homens.

Em Portugal, recorde-se há 5.328 jornalistas no ativo. A maioria, 3.100, são do sexo masculino e, no universo dos profissionais, a faixa etária predominante situa-se entre os 40 e 60 anos, avançou na última semana em conferência a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.

Depois, prossegue o estudo, a palavra “esposa” é mais mencionada do que “esposo” ou “marido”. “A associação com mulheres é particularmente pronunciada em Portugal, onde um em cada três notícias sobre mulheres que mencionam a família inclui filhos, e uma em cada cinco menciona o marido”, avança a consultora, concluindo que em Portugal “a família está associada duas vezes mais com as mulheres do que com os homens, mais do dobro do que no país seguinte, o Brasil, e muito perto do terceiro, a Espanha.

Voltando ao relatório global, a menção explícita do género é 2,3 vezes mais frequente nas mulheres do que nos homens. “Quanto maior a menção do “apelido feminino”, menor a tendência para citar o nome das protagonistas”, diz o documento, concluindo que “esta subordinação semântica relega-as para um papel secundário e anedótico”.

De destacar ainda que “com muita frequência, a referência feminina refletida nos media é muitas vezes um retrato de sucesso e de excecionalidade”. Ou seja, “as notícias sobre mulheres políticas, por exemplo, destacam 50% mais os seus êxitos e minimizam os seus erros em comparação com os líderes masculinos”, concretiza o estudo. “Tal acentua a síndrome da impostora e o burnout nas mulheres que pretendem ter maior exposição e visibilidade”, reforça a LLYC.

O tipo de referências femininas que estamos a projetar nas novas gerações e nos futuros decisores continua distorcido: Continuamos a falar pouco delas e, frequentemente, de uma forma enviesada. Estou convencida de que a visibilidade do talento feminino e da mulher em geral é um acelerador da igualdade.

Luisa García

Chief operating officer da LLYC

A imagem ainda parece ser um campo feminino. “A moda associa-se mais às notícias que referem a mulher do que às que referem o homem. A forma como se vestem reflete-se em um em cada 25 notícias, 20% mais do que quando as notícias falam deles”, concretiza o relatório.

O desporto, pelo contrário, é terreno masculino. “Do elevadíssimo volume de notícias publicadas sobre desporto, apenas 5% mencionam explicitamente as mulheres. As notícias sobre mulheres representam apenas uma em cada 20. Na realidade, o futebol é visto como masculino em 95% dos casos”, prossegue a LLYC.

Na cobertura a situações de violência, a mulher também é penalizada. “O foco continua a ser na vítima e não no agressor. As mulheres são mencionadas quase três vezes mais do que os homens quando se fala de violência e duas vezes mais em situações de assédio. Quando eles são mencionados, é 20% mais provável que na manchete apareça o termo “mulher” em vez de “homem”. E se as vítimas são expostas pelo seu nome, o do agressor é muitas vezes ocultado por um pseudónimo”, constata a consultora.

“Se quisermos exemplificar as conclusões do estudo, deparamo-nos com uma notícia que, em geral, não menciona a protagonista na manchete e, no máximo, refere-se a ela como uma categoria secundária com o apelido feminino. Leríamos: “Uma mulher pode ser a nova presidente dos Estados Unidos”, em vez de “Nome real + apelido real, forte candidata à presidência dos Estados Unidos”. Parece economia da linguagem, mas a verdade é que transmite parcialidade, não é informativa e torna invisível”, conclui a LLYC.

“A imagem da mulher nos meios de comunicação está a melhorar, mas há ainda um longo caminho a percorrer”, conclui Luisa García, chief operating officer da LLYC e coordenadora do relatório. “O tipo de referências femininas que estamos a projetar nas novas gerações e nos futuros decisores continua distorcido: Continuamos a falar pouco delas e, frequentemente, de uma forma enviesada. Estou convencida de que a visibilidade do talento feminino e da mulher em geral é um acelerador da igualdade”, prossegue a responsável citada em comunicado.

Para a elaboração deste estudo, a equipa de Deep Digital Business da LLYC analisou 14 milhões de notícias publicadas durante o último ano com menção explícita do género nos 12 países onde a consultora marca presença: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, México, Panamá, Peru, Portugal e República Dominicana.

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