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Visit Saudi já não será um dos principais patrocinadores do Mundial feminino de futebol

Rafael Ascensão,

A seleção feminina de futebol portuguesa vai participar pela primeira vez na competição, depois de se ter apurado ao vencer os Camarões por 2-1.

A FIFA não vai ter a Visit Saudi – a entidade de turismo da Arábia Saudita – como um dos grandes patrocinadores oficiais do Mundial feminino de futebol 2023, que decorre entre 20 de julho e 20 de agosto na Austrália e Nova Zelândia. A garantia foi dada por Gianni Infantino, presidente do organismo.

Houve conversações com a Visit Saudi mas, no final, isso não conduziu à celebração de um contrato. Foi uma tempestade num copo de água“, afirmou durante um congresso em Kigali, capital do Ruanda. “Mas, dizendo isto, a FIFA é uma organização composta por 211 países. Não há nada de errado em ter patrocínios da Arábia Saudita, China, Estados Unidos da América, Brasil ou Índia“, acrescentou Gianni Infantino, citado pela ABC.

Em causa estão diversas críticas apontadas por federações de futebol, jogadoras e adeptos, face aos rumores que circulavam quanto à eventualidade de a marca saudita patrocinar a maior competição de futebol feminino, apontando-se o desrespeito pelos direitos das mulheres e as falhas na igualdade de género que caracterizam o país.

As federações de futebol australianas e neozelandesas – bem como os respetivos governos – foram algumas das entidades a demonstrar a preocupação, através de uma carta endereçada a Infantino. Na mesma, as federações disseram-se “seriamente desapontadas e preocupadas” com o facto de as negociações estarem a avançar sem o seu conhecimento, revela a ABC News.

Nós não conseguimos expressar de forma suficientemente veemente as potenciais consequências que poderiam resultar dessa decisão“, dirá a carta. “Embora reconheçamos o início de algumas importantes e positivas reformas na igualdade de género na Arábia Saudita, continua a ser inegável, sob qualquer padrão razoável, que os direitos das mulheres continuam severamente restritos“, prossegue.

Estas preocupações repercutiram-se entre diversas figuras do desporto, nomeadamente entre Megan Rapinoe e Alex Morgan, estrelas da seleção norte-americana (que vai medir forças com Portugal a 1 de agosto), que descreveram a potencial parceria como “bizarra” e “escandalosa”.

Vivianne Miedem, avançada da seleção dos Países Baixos (que defronta Portugal a 23 de julho) afirmou que a FIFA deveria estar “profundamente envergonhada”, acrescenta a ABC.

O Mundial feminino de futebol de 2023 é a primeira edição da competição a ser comercializada à parte da competição masculina. No entanto, apesar de confirmar que as negociações não avançaram para acordo, o presidente da FIFA sublinhou a hipocrisia dos países organizadores: “Quando se trata da Austrália, fizeram trocas comerciais com a Arábia Saudita no valor de 1,5 mil milhões por ano, isso não parece ser um problema?”, questiona Infantino, acrescentando que, existem “dois pesos e duas medidas”.

James Johnson, diretor da Federação de Futebol da Austrália, afirmou por sua vez que a igualdade, diversidade e inclusão são compromissos importantes para a federação australiana de futebol, que vai continuar a trabalhar com a FIFA de modo a garantir que o Mundial feminino de futebol de 2023 seja realizado à luz dessa filosofia.

A seleção feminina de futebol portuguesa vai participar pela primeira vez na competição, depois de ter garantido o apuramento ao vencer os Camarões por 2-1.

Na fase final a equipa portuguesa junta-se ao grupo E, onde vai defrontar as seleções dos Países Baixos (23 de julho), do Vietname (27 de julho) e dos Estados Unidos (1 de agosto), esta última a campeã em título da competição.

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