Consórcio português desenvolve fibras para têxteis a partir de madeira de eucalipto
Consórcio entre o CeNTI, o CITEVE e a empresa Caima desenvolve fibras para têxteis a partir de madeira de eucalipto. Para minorar dependência de mercado externo e reduzir pegada ambiental.
Investigadores portugueses estão a desenvolver fibras para têxteis, a partir de madeira de eucalipto, que podem ser rastreadas e apresentam propriedades funcionais antibacterianas, antiestáticas e retardância à chama. E que surgem como alternativa às fibras celulósicas têxteis até então importadas, sobretudo da Ásia, e deste modo evitar uma maior dependência do mercado estrangeiro.
O projeto chama-se Fiber4Fiber – pasta solúvel de Eucalyptus globulus para o desenvolvimento de novas fibras processadas de base celulósica e reúne, em consórcio, a empresa Caima — líder na produção de pasta de celulose de Eucalyptus globulus para aplicação têxtil –, o CeNTI – Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes (Braga) e o CITEVE – Centro Tecnológico Têxtil e de Vestuário (Vila Nova de Famalicão).
Até à data já foram produzidas fibras de Lyocell, as primeiras a serem desenvolvidas em território nacional, segundo o consórcio português. Em teste estão também fibras de Lyocell funcionalizadas, com propriedades antibacterianas e retardância à chama, assim como uma solução de rastreabilidade.
“O projeto Fiber4Fiber está, assim, a contribuir para enriquecer o conhecimento técnico do setor, bem como a valorizar os recursos naturais nacionais“, avança o grupo, que ainda não tem data para a introdução destas fibras celulósicas no mercado. Ainda assim, acredita que a procura pelas fibras rastreáveis se fará sentir a nível global. “Estando as empresas a sentir pressão acrescida para confirmar a origem das suas matérias-primas, pelo que existe uma apetência para este tipo de soluções inovadoras e inclusivamente mais ecológicas”, argumentam.
A inexistência, a nível nacional, de processos de transformação da pasta [de celulose] em fibra é um fator limitativo a nível técnico e económico para esta área geográfica [Portugal e grande parte da Europa].
Com um custo total elegível a rondar os 1,9 milhões de euros e apoio financeiro ao abrigo do programa Portugal 2020 e do Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional (FEDER) no valor de 1,2 milhões de euros, este projeto visa, assim, desenvolver “produtos diferenciadores, com potencial aplicação no segmento dos têxteis técnicos”, valorizando um recurso nacional que é a pasta de eucalipto.
O projeto Fiber4Fiber pretende desenvolver pastas solúveis de celulose, a partir de Eucalyptus globulus, otimizadas para a produção de fibras de base celulósica, nomeadamente Viscose e Lyocell e que possam ser rastreáveis ao longo da cadeia de valor.
Reforçar a investigação, o desenvolvimento tecnológico e a inovação, assim como quantificar o impacto das propriedades da pasta solúvel de Eucalyptus globulus na produção de fibras são alguns dos objetivos deste projeto. Além da otimização da pasta solúvel da Caima para os processos de Viscose e de Lyocell, e o desenvolvimento de fibras de Lyocell funcionalizadas destinadas à produção de têxteis técnicos.
“Com este projeto, prevê-se a capacitação técnica e tecnológica para responder localmente às necessidades crescentes de consumo de pastas, fibras e têxteis”, adiantam ainda os investigadores.
Segundo este grupo, até à data, o processo de transformação destes produtos era maioritariamente feito fora da Europa, com acrescidos custos financeiros e ambientais. “Atualmente, a produção de fibras celulósicas têxteis, baseadas em pastas solúveis, chega perto dos oito milhões de toneladas, com a China a representar quase 70% da quota mundial”, calcula o consórcio.
Por isso mesmo, o grupo decidiu assegurar uma “resposta local/europeia, economicamente viável e mais sustentável“, como alternativa à escala europeia às fibras celulósicas têxteis. E assim minimizar a importação de fibras celulósicas, nomeadamente da Ásia. “A inexistência, a nível nacional, de processos de transformação da pasta [de celulose] em fibra é um fator limitativo a nível técnico e económico para esta área geográfica [Portugal e grande parte da Europa].
“A inclusão de agentes ativos e funcionais — nomeadamente propriedades antimicrobianas, anti-estáticas e retardância à chama — nas fibras celulósicas têxteis é, também, uma inovação face ao que existe atualmente no mercado”, sublinham os cientistas.
O consórcio pretende, assim, desenvolver novos produtos e soluções, tendo por base a nanotecnologia, os materiais avançados e os sistemas inteligentes.
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