Ausentes no 38
Activos como Kika Nazareth, Jessica Silva, Brenda Perez e Beatriz Fonseca devem ser mais potenciados por Benfica, Sporting e Braga no seu loop de comunicação. Basta ver os exemplos da Adidas e Nike.
No palco de celebração da conquista do 38º campeonato pelo Benfica saltou à vista uma ausência de peso: a da equipa de futebol feminino, também ela campeã nacional. Bayern de Munique, na Alemanha, e Barcelona, em Espanha, aproveitaram a “dobradinha” em femininos e masculinos para festejar em conjunto, taco a taco, o mesmo acontecendo com o Wrexham, clube presidido pelo actor canadiano Ryan Reynolds, que desfilou pela cidade num autocarro, assinalando a subida de escalão das duas equipas.
Foi por isso uma oportunidade de ouro perdida pelas ‘águias’ para continuar a promover a sua equipa, num contexto em que a modalidade dá sinais de crescimento em Portugal, em popularidade e competitividade: o recorde de assistência num jogo voltou a ser batido, subindo para mais de 27 mil espectadores (Benfica-Sporting, em Março) e a Seleção Nacional feminina garantiu a qualificação para a fase final do Mundial, pela primeira vez na sua história.
Num país louco por “bola”, emergem alguns bons exemplos da promoção do futebol feminino, como por exemplo a apresentação da Navegadoras Collection pela FPF ou o excelente filme de apoio do Banco BPI à Seleção Nacional, com criatividade da Dentsu Creative Portugal.
Estes casos estão em linha com outras iniciativas pontuais, como a da escolha pela UEFA da maestrina Martina Batic para conduzir a gravação do novo hino da Liga dos Campeões Feminina, prova que regista o record de assistências ao vivo, com mais de 90 mil espectadores (Barcelona-Wolfsburgo, 2022)
Mas é preciso mais: ainda falta a cápsula.
“From the shadows of the men’s game to modern day superheroes” foi o mote criado pela agência inglesa Nomad para o projeto de branding da SuperLiga de Futebol Feminino em Inglaterra. Desenvolvida num registo heróico, a marca da competição dá o mote e alinha todos os clubes num único sentido: “mudar perceções” e “fazer o jogo crescer”. Em Espanha, ao lado da famosa La Liga nasceu a Liga F, assinalando a profissionalização da modalidade no País.
Em sentido contrário, e numa decisão poderosa, a Liga australiana decidiu criar uma única marca para os campeonatos masculinos e femininos de futebol, um exemplo seguido, em 2023, pela Liga irlandesa. O princípio da igualdade contamina o projeto de branding: se tivermos em conta a visibilidade e a duração de cada competição, nos respetivos países, podemos entender o contributo que esta transformação estratégica e criativa pode ter na mudança de mentalidades dos adeptos.
Estes exemplos ‘top-down’ são críticos para acelerar o desenvolvimento do futebol feminino em Portugal, ficando a expectativa para ver como é que a FPF irá aproveitar o Mundial e a próxima temporada para dar o salto, levando por arrasto os Clubes a reforçar a sua aposta no Futebol Feminino. Isto ainda, claro está, numa fase pré-profissional.
Activos como Kika Nazareth, Jessica Silva, Brenda Perez, Maísa Correia, Beatriz Fonseca e Caroline Kehrer devem ser ainda mais potenciados por Benfica, Sporting e Braga, no seu loop de comunicação, basta seguir os bons exemplos da Adidas e Nike.
Neste contexto, também se espera mais das marcas patrocinadoras, cuja crescente exposição aos temas da igualdade de género, entre outras causas, deveria inspirar o surgimento de projetos de consciencialização como o conhecido #presasnos80, no Brasil, que contou com o forte suporte da Guaraná Antarctica, alertando para a pouca evolução do futebol feminino em cobertura mediática e investimento desde a sua regulamentação em 1983.
Com a nova época a caminho, espera-se que o próximo clube a conseguir a dobradinha nivele as celebrações. Ou que o contexto – e os respetivos adeptos – assim o exijam.
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