“A televisão do futuro não é televisão”, diz Pedro Morais Leitão
O futuro da televisão, bem como os seus desafios e oportunidades, estiveram em debate numa conferência organizada pela IPG Mediabrands, que juntou alguns dos principais players do setor.
“A televisão do futuro não é televisão. Tudo tem que mudar para ficar na mesma”, defendeu Pedro Morais Leitão, CEO do grupo Media Capital, na conferência “A televisão do futuro”, organizada pelo grupo IPGG Mediabrands para debater os desafios e oportunidades da televisão nos próximos anos.
Segundo o CEO do grupo Media Capital, a televisão no futuro será uma “coisa muito diferente” do que a sociedade se habituou a ver como televisão, referindo que muita coisa tem de ser mudada, nomeadamente em termos de distribuição e modelo de negócio.
“Para a televisão continuar a ser televisão tudo tem que mudar”, afirmou, exemplificando com a nova série de Morangos com Açúcar, para a qual está a ser equacionada a possibilidade de serem feitos episódios paralelos pensados para no telemóvel, com uma duração de apenas sete minutos e legendas.
Hugo Figueiredo, administrador da RTP, defendeu que o ecossistema da produção audiovisual só consegue sobreviver se houver um investimento inicial nas produções, referindo que o futuro da televisão passa um pouco por “tentar adivinhar”, referindo que as empresas precisam de ir estando dentro do que está a acontecer e adaptar as suas estratégias.
A produção local, com programas locais, é e continuará a ser a força da televisão, observou por sua vez Ricardo L. Pereira, diretor geral da Globo Portugal, apontando que muitas vezes se cai na armadilha dos algoritmos (de relevância) que às vezes podem enganar.
Ricardo L. Pereira exemplificou com o sucesso da série da HBO “Succession”, cuja audiência do episódio final dos Estados Unidos foi de 2,4 milhões de espectadores. Em comparação, quando um episódio de uma determinada novela da Globo “apenas” registava 28 milhões de espectadores, isso era visto como uma “crise”.
O diretor geral da Globo Portugal disse entender que é necessário procurar um caminho novo que disponibilize novas opções para o mercado, mas não se tem de ser uma Netflix obrigatoriamente.
Francisco Pedro Balsemão, CEO da Impresa, concordou com esta posição e adiantou que o principal conteúdo visto na OPTO são as novelas, defendendo que é importante ter séries de qualidade para atrair as pessoas, mas que depois é necessário ter um portfólio robusto (com novelas, por exemplo), para reter as pessoas.
“Isto é um ecossistema muito dinâmico e temos provado que somos capazes de nos reinventar desde que existimos“, afirmou ainda Balsemão.
Mais dentro dos conteúdos desportivos, Jorge P. Sousa, diretor geral da Eleven Sports, defendeu que deve existir uma “complementaridade” e storytelling no desporto, afirmando que o desafio é perceber melhor como trabalhar e monetizar essa complementaridade.
Estas considerações, enquadra, surgem num momento em que quando uma pessoa vê um jogo de futebol está acompanhada por um telemóvel ou um tablet e que algumas pessoas “já não têm paciência para ver um jogo inteiro de futebol”, preferindo antes ver resumos alargados.
Quanto à questão de se o futebol pode ou não fazer parte do futuro da televisão, Pedro Morais Leitão disse ser obrigação das televisões generalistas criar diversidade e não transformar Portugal numa sociedade “monocultural” e “monoproduto” e que é preciso trazer para o mercado aberto, com publicidade, eventos que estão tendencialmente a ir para o mercado pago.
Francisco Pedro Balsemão, por seu lado, apontou desde logo que o futebol é muito caro e que não há um retorno direto pelo que os canais pagam por ele, mas que é necessário que este esteja presente até por uma questão de “relevância”. Segundo o CEO da Impresa, são este tipo de grandes eventos ao vivo – a par dos da informação, com os noticiários – que fazem as pessoas parar e ver televisão.
O administrador da RTP, Hugo Figueiredo, diz que estes grandes eventos são “agregadores” da sociedade e que a sua transmissão faz parte da missão de serviço público da RTP. No entanto, embora haja muitas audiências nesses momentos é difícil rentabilizá-las em períodos tão curtos, apontou.
Neste campo das audiências, Figueiredo defendeu ainda que a televisão continua a ser a “bazuca” para os anunciantes, mesmo para os segmentos mais jovens, que estão mais presentes no digital. “Não podemos desvalorizar o nosso principal produto de mercado“, apontou, referindo que é importante reequacionar os modelos estabelecidos diretamente com o consumidor, mas que os modelos estabelecidos com os anunciantes são também são importantes e de se continuar a valorizar.
Hugo Figueiredo considera ainda que as marcas se devem começar a associar à criação de produtos, ser “parceiras” na criação de produtos “que depois possam ser agregadores de audiências, das quais as marcas possam também beneficiar”. Trata-se de uma tendência já iniciada e que se tem vindo a reforçar, acrescenta.
Já Francisco Pedro Balsemão apontou que a questão das audiências é fundamental para que os anunciantes “tenham noção” da relevância dos players, mas que existem marcas que olham para lá dos números. “A medição é fundamental mas a nossa importância vai além da medição“, afirmou.
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