Empresários do Porto pedem menos burocracia no investimento imobiliário
A aprovação dos investimentos imobiliários, os "efeitos colaterais" do turismo, os preços do imobiliário e a atração de talento dominaram o debate ECO Local/Novobanco sobre a economia do Porto.
Menos burocracia na aprovação dos investimentos imobiliários para que os investidores consigam investir de forma mais célere na cidade do Porto; atrair e reter mais mão-de-obra para a região e atenuar os efeitos colaterais da pressão turística, como a descaracterização do centro da cidade. Estes foram alguns dos apelos deixados pelos empresários que participaram na 6ª edição do debate ECO Local/Novobanco.
Na iniciativa realizada no final da semana passada no espaço recentemente inaugurado pela instituição financeira na Avenida da Boavista, Jorge Quintas, CEO do grupo Nelson Quintas, assumiu a defesa da desburocratização dos processos de investimento imobiliário, falando no debate que juntou outros dois empresários e gestores da região, assim como o vereador da Economia da autarquia portuense, Ricardo Valente, e o administrador do Novobanco, Luís Ribeiro.
“Temos uma grande dificuldade em investir no tempo recorde em que gostaríamos. Enfrentamos muitas dificuldades para progredir. O maior bloqueio é a burocracia porque o investidor tem de lidar com várias entidades. Mesmo assim, não desistimos e continuamos a investir”, sublinhou Jorge Quintas, líder do grupo familiar que está a transformar o antigo Hospital da Ordem do Carmo num hotel de cinco estrelas.
Este investidor do ramo imobiliário — com vários projetos também na área dos serviços ou dos escritórios na cidade Invicta –, ambiciona “fazer edifícios que honrem e dignifiquem a cidade“. Como é o caso, elencou, do projeto S. Bento Residences, uma unidade hoteleira situada mesmo ao lado da estação ferroviária de São Bento em que “70% de ocupação diz respeito a turistas coreanos“.
Temos uma grande dificuldade em investir no tempo recorde de que gostaríamos. O investidor enfrenta muitas dificuldades para progredir. O maior bloqueio é a burocracia, porque o investidor tem de lidar com várias entidades. Mesmo assim, não desistimos e continuamos a investir.
Num concelho que se destaca pela despesa em investigação e desenvolvimento (I&D) e pelo maior nível de formação dos trabalhadores, face à média nacional, o empresário Jorge Quintas abordou igualmente o problema de disponibilidade de recursos humanos. “Somos investidores imobiliários. Outra dificuldade que encontramos, nomeadamente na área do turismo, é a falta de mão-de-obra”, lamentou.
Também Rui Magalhães, CEO do grupo The Fladgate Partnership, que detém várias marcas de vinho do Porto e é proprietário do hotel vínico The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, partilha do mesmo problema. O gestor lamenta a “fuga” de mão-de-obra para outros países europeus, como França, que oferecem melhores remunerações. No entanto, assegura que o grupo liderado por Adrian Bridge já está a arranjar soluções.
“Pagamos bem em relação ao mercado, mas mesmo assim não conseguimos reter [mão-de-obra]. Não conseguimos acompanhar os salários de França. Temos vários funcionários brasileiros e fomos fazer uma visita de charme para contratar pessoas a São Tomé e Príncipe. Na cozinha já começamos a ter paquistaneses. São os sinais do tempo. Não há nada a fazer”, resumiu o gestor.
Não conseguimos acompanhar os salários de França. Temos vários funcionários brasileiros e fomos fazer uma visita de charme para contratar pessoas a São Tomé e Príncipe. Na cozinha já começamos a ter paquistaneses. São os sinais do tempo.
Filipe Barrias, CEO do Grupo Barrias, que é dono de várias unidades hoteleiras, como o Pão de Açúcar Hotel, e dos históricos cafés Guarany e Magestic — o pai esteve no Brasil e regressou para fazer fortuna nos setores de alojamento e turismo, restauração e imobiliário — diz-se “satisfeito em relação à atividade turística”. Mesmo assim, o empresário deixou um alerta para os “desafios nos próximos anos: a descarbonização e a eficiência energética”.
Lojas de tradição e emprego tecnológico
Filipe Barrias chamou ainda a atenção para a proteção das “lojas históricas que estão ameaçadas de despejo”, elogiando o facto de no Porto haver uma lei municipal que as protege. Neste ponto, o vereador da Câmara do Porto advertiu que “uma loja de tradição tem um problema de ponto de vista imobiliário, que é protegê-la do substancial aumento das rendas”. Por isso mesmo, defendeu Ricardo Valente, “é preciso encontrar um meio-termo [entre a as regras locais e nacionais], em que o Estado invista para proteger estas lojas de tradição”.
Por outro lado, o empresário do ramo da restauração e hotelaria advertiu que “o turismo tem efeitos colaterais, que é preciso evitar e diminuir, como a descaracterização das cidades”. “Temos de ter sensibilidade para o facto de o turismo poder ter efeitos perversos”, acrescentou. Um dos exemplos dados por Filipe Barris é o da “perda da identidade na gastronomia”. “Vejo a descaracterização gastronómica como uma oportunidade. Devemos valorizar os restaurantes estrangeiros”, contrapôs o vereador da Câmara do Porto.
Para Ricardo Valente, nunca a cidade esteve tão bem como agora. “Em termos económicos, estamos no melhor momento de sempre enquanto cidade. Nunca, numa década, a cidade do Porto teve uma transformação tão grande em termos económicos”, destacou o vereador, calculando que o turismo representa cerca de 17% do emprego, mas as tecnologias já se aproximam dessa fasquia, com 14% do total.
“Isto é uma transformação gigantesca em termos de especialização na economia. Somos o hub de talento em Portugal”, sublinhou o autarca, dando o exemplo do projeto de parceria que a tecnológica Critical Software tem com a gigante construtora alemã BMW, com escritórios localizados no cimo da Avenida dos Aliados. “Em 2025 vamos poder dizer que o primeiro carro autónomo da BMW é made in Porto”, perspetivou.
Aliás, completou Ricardo Valente, “a cidade hoje oferece emprego mais qualificado, tem oferta turista também mais qualificada e tem uma experiência de cidade”. O vereador realçou também a importância da qualidade de vida. “Queremos que o Porto seja uma cidade e não um resort. Queremos que seja uma cidade boa para viver, para visitar e para trabalhar”, defendeu.
Queremos que o Porto seja uma cidade e não um resort. Queremos que seja uma cidade boa para viver, para visitar e para trabalhar.
Já o administrador do Novobanco, que apresentou à plateia os principais resultados da análise efetuada à economia local, envolvendo também dados sobre o rendimento ou os custos do imobiliário, alertou para os “enormes desafios” que se colocam às empresas neste contexto “de incerteza” marcado pela guerra, pela subida da inflação e taxas de juro. “Estamos num momento de transição”, notou, destacando, por outro lado, que “o país tem condições geográficas únicas e tem talento.”
A fechar o debate, o vereador da câmara do Porto deixou um alerta para o tema da habitação, que classificou como “se calhar o maior problema” que a cidade e o país enfrentam atualmente. “Temos um problema demográfico e depois temos um problema de habitação”, realçou Ricardo Valente, notando que isto gera um “enorme desafio para o mercado imobiliário”, que é “muito pouco flexível”.
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