Um triste Natal a todos nós

  • António Fuzeta da Ponte
  • 7 Setembro 2023

Se os marketeers pensam que é para ir ao encontro do que as pessoas sentem ou procuram, então venham os xailes pretos, temos Natal de carpideiras e nem as pedras da calçada se salvam.

A silly season está no fim, é tão oficial como o inevitável avanço do calendário. Contam-se os últimos mergulhos, últimas viagens, últimas reviews de restaurantes de verão. Agora é o “regresso às aulas”, mas nos departamentos de marketing e comerciais já estamos em plena trincheira a preparar o Natal.

Por estes dias os briefings já estão passados, as agências trabalham. Muitas “reason why”, muitos predicados de produtos, muitos argumentos prioritários a serem trabalhados. Esperemos que também haja foco no consumidor e não apenas no umbigo do produto. Não se pode falhar a campanha mais importante do ano. Não se falha no Natal!

E neste país do fado, se o briefing de Natal for fiel ao nosso ADN dramático ou se porventura se tiver visto muito do que se lê por aí, preparem os sacos lacrimais. Porque se os marketeers pensam que é para ir ao encontro do que as pessoas sentem ou procuram, então venham os xailes pretos, temos Natal de carpideiras e nem as pedras da calçada se salvam.

Ora vejam, o Spotify acaba de dar a triste notícia: “Sad” é o termo mais procurado em todo o mundo pela geração Z. Triste. Uma geração que procura música que a faça sentir triste. Triste a nível mundial.

E triste também a nível nacional: o estudo da OMS “Health Behaviour in School aged Children”, feito no início do ano (em Portugal e em mais 50 países), mostra que, por cá, 27,2% dos adolescentes dizem sentir-se tristes diariamente. É mais de um quarto dos adolescentes a sentirem-se tristes. Mais do que os 18,3% em 2018. Estamos em crescimento, na tristeza. Sempre a somar! Mas sério, tristemente sério.

Juntando esta tristeza à “sadness” do Spotify e vivendo no país do elogio à desgraça, nem sei o que mais tema para as campanhas de Natal. Já tenho as mãos na cabeça e um lenço pronto…

Ainda assim, por mim, faço o elogio do contrário: que se ria no Natal! Tanto como nas campanhas da silly season ou outra estação qualquer. Que se ria sempre. Que as marcas riam connosco. Porque a vida fica melhor se nos rirmos, porque o dia, mesmo que seja mais curto no inverno, merece ser vivido a sorrir.

Eu prefiro um país que encara o Natal, ou o futuro, com um sorriso em vez de uma lamúria. E já agora, prefiro marcas que me convidam a uma gargalhada às que me puxam para um abraço de lamento. Mas isso sou eu.

Além disso, está amplamente provado: sorrir diminui a produção de cortisol (hormona relacionada com o stress), protege o coração ao diminuir a pressão arterial e liberta endorfina e serotonina, hormonas ligadas às sensações de felicidade e prazer que melhoram o sistema imunitário.

E se todo este jargão médico não chegar para convencer os marketeers do triste fado nem os criativos da desgraça, então fiquem a saber que rir gasta calorias. E se é para enfardar peru, bacalhau ou filhoses como se não houvesse 2024, então já agora que se poupe no ginásio.

Enfim, tristes campanhas a todos vós. Ou felizes. Escolham!

  • António Fuzeta da Ponte
  • Diretor de marca e comunicação da Nos

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