“Ponho no mesmo plano o JN, o DN, o Açoriano Oriental e a TSF”
José Paulo Fafe, CEO do Global Media Group, traça aos planos para os diferentes títulos do grupo e aponta sucessivos erros, sobretudo de gestão.
“As pessoas, de facto, não têm noção do que aqui ocorre”, diz José Paulo Fafe, CEO da Global Media, sobre a situação do grupo. O que ocorre, conforme explica na entrevista ao +M, parece dever-se a erros sucessivos de gestão, que se foram prolongando ao longo dos anos e dos quais dá exemplos. “Isto herdou vícios de uma empresa pública, no pior sentido do termo”, resume.
Apesar da situação limite, os títulos não estão à venda. “Não estão. Repare, se aparecer um empresário ou um grupo interessado em comprar algum dos ativos da GM, ou a Global Media, nós obviamente ouvimos. Mas, à partida, não”, diz.
Sobre o movimento que se gerou em torno do Jornal de Notícias, uma mensagem: “Bastava assinarem e comprarem espaço publicitário. Assim é que já estavam a dar uma grande ajuda. Mas é mais fácil ir para a porta do JN, fica sempre melhor, sobretudo nesta altura de campanha eleitoral”.
Quanto é que precisam de reduzir ao bolo total de vencimentos?
Perdemos sete milhões, penso que vamos poupar à volta de quatro a cinco milhões de euros. Temos que aumentar receita, temos que racionalizar custos. Temos uma pessoa que entrou aqui há mês e meio exatamente para começar a ver onde é que se pode cortar, há pequeninas coisas de que nem temos noção. Esta casa tem 82 carros, dos quais 40 e tal distribuídos a chefias ou pretensas chefias. Isto é impensável. Este grupo chega a pagar por algumas rendas de carros 1.800 euros. Há pessoas que têm distribuído um carro elétrico e que ao mesmo tempo punham por mês 600 euros em gasóleo.
Não fazia parte do acordo salarial?
Não, mas como é que pode? Isto é burla, não tem outro nome.
O que pergunto é se não foi combinado com a administração anterior, como complemento do ordenado?
Não pode. Então distribuo um carro elétrico a uma pessoa e a seguir “toma lá um cartão de combustível e gasta 600 euros em gasóleo”? Mas a propósito de quê? Isto é burla, má gestão, gestão danosa.
Vamos precisar bem, porque tanto pode ser a pessoa que estará a “burlar” a empresa, como pode ter sido a administração a dizer “quero-te aumentar em 600 euros líquidos”…
Acha normal? Eu não achava normal, “quero-te aumentar, toma lá 600 euros em gasóleo”. Que grande gestão, mas que grande gestores. E sabe o que é que me custa? O Marco Galinha, metade das coisas, sei que não sabia. Às vezes apresento-lhe casos que ele fica de boca aberta, não quer acreditar.
Mas Marco Galinha esteve cá nos últimos anos.
Sim, mas confiou muito na gestão e confiou muito a gestão a terceiros. E percebo, tem mais que fazer.
Assim como outros administradores, estão cá hoje e já estavam cá.
Quem?
José Pedro Soeiro e Kevin Ho.
Sim, mas são acionistas, não têm funções executivas. Para não estar só a falar de redações e de questões ligadas à coisa editorial… O departamento comercial desta casa tem 75 pessoas. Acha normal que as comissões sejam pagas a 14 meses? E mais, muitas dessas comissões sobre vendas que não são cobradas, porque ninguém se preocupa em cobrar. Quando chegamos, logo no início, era um drama, porque havia o Grande Prémio JN e “se não pagam, o homem não o organiza”. Aliás, o senhor que o organizava acho que chamou à Global Media “caloteira” e, curiosamente, a TSF deu a notícia no seu site. Comecei a perceber o grupo aí. Fomos ver, do ano passado havia patrocinadores que ainda não tinham pago. Não há cobrança.
Esta casa tem 82 carros, dos quais 40 e tal distribuídos a chefias ou pretensas chefias. Isto é impensável. Este grupo chega a pagar por algumas rendas de carros 1.800 euros. Há pessoas que têm distribuído um carro elétrico e que ao mesmo tempo punham por mês 600 euros em gasóleo.
Quanto é que está vendido e por cobrar este ano?
Fizemos um esforço e reduziu bastante. Mas dou-lhe o exemplo do Grande Prémio JN, que envolvia quase 300 mil euros de receita, dos quais estavam cobrados 120. E o homem dizia “se não me pagam, eu não faço”. Eu percebo o homem. Mas quer dizer, vou pagar o quê se ainda nem recebi do ano passado? É esta cultura de grupo que se instalou aqui, e a culpa não é de agora, já vem de há muitos anos. Se calhar vem porque isto no fundo era uma empresa pública, a EPNC. Depois foi a privatização, o coronel Luís Silva, a PT, o Joaquim Oliveira e por aí fora. Depois passou por aqui o Dr. Proença de Carvalho, ninguém se lembra mas andou por cá muitos anos e só saiu há pouco mais de dois.
Foi presidente do conselho de administração.
Exatamente. Foi no tempo em que se venderam os anéis. E em que havia administradores a ganhar por ano 500 mil euros, isso mesmo, meio milhão de euros. Fora carro, despesas de representação e essas coisas todas
Os “anéis” foram vendidos também aos próprios acionistas, não é?
Também, também. A loja que o DN tinha no Rossio foi a primeira a ser vendida [não sei a quem]. Eles só não venderam neste momento o espólio. A única coisa que está por vender, havia uma proposta para vender e não deixámos, é o espólio. E há o arquivo, que é Tesouro Nacional.
Esta reestruturação já estava nos planos quando quando assumiu funções?
Estávamos à espera de mudar o – outra palavra horrível – ‘paradigma’ de gestão deste grupo. Implicaria obviamente uma reestruturação, mas com esta profundidade não. Não temos qualquer prazer nisso.
Mas foram surpreendidos com o que encontraram?
Sabe o que é que me surpreende mais? A falta de noção que as pessoas têm do estado a que este grupo chegou. Surpreendem-me também estas pequenas coisas que contei, esse tipo de pequenas surpresas. Grosso modo, se olharmos para os números, surpreende-nos de alguma maneira, mas estas pequenas situações que revelam a forma de estar e a cultura deste grupo, surpreende-nos bastante. Achamos que as pessoas de facto não têm noção do que aqui ocorre há muitos anos. Isto herdou vícios de uma empresa pública, no pior sentido do termo, depois houve a ideia de que tinha muito dinheiro, porque era a PT. E isto entrou num declive acentuado, que cada vez se acentua mais, porque os jornais vendem menos.
Este grupo mudou de administração várias vezes nos últimos anos…
E só uma pessoa nos últimos anos é que meteu aqui dinheiro.
Marco Galinha?
Sim. Os outros não meteram e continuam sem meter. Mas têm 49% do grupo.
Lá está, têm 49% do grupo. Todos os vícios que diz terem encontrado aqui…
Eles não metem dinheiro, os outros acionistas – no caso são dois, o Sr. Kevin Ho e o Sr. José Pedro Soeiro – não fazem qualquer aporte financeiro ao grupo porque estão escudados num acordo parassocial em que estão dispensados de financiar o grupo. Mas existindo ou não, e nós tínhamos conhecimento da existência dele…
Esse foi o parassocial que deu a Marco Galinha o controle do grupo sem ter uma posição maioritária?
Foi, na altura tinha o equivalente a 40%, depois subiu para 50,25%, para nos vender 51% dessa posição. De facto, ao abrigo desse parassocial, eles não têm qualquer obrigação de financiar o grupo. Não vou discutir isso nem contrariar. Acho é que num momento crítico para o grupo, víamos com bons olhos que eles também participassem no esforço que o fundo, e o próprio Marco Galinha, têm tido nesses últimos meses. O próprio Marco Galinha também tem contribuído para ao dia a dia deste grupo.
Quais são os vossos projetos para o grupo? No comunicado da semana passada falavam em “reafirmar os nossos compromissos de investir e fazer crescer. Investir, desde logo, para evitar a falência do GMG e fazê-lo crescer através de uma gestão racional, exigente, bem como de um plano de reestruturação que ponha termo ao ciclo de prejuízos constantes e que, numa fase posterior, permita consolidar um projeto alargado ao mercado da língua portuguesa”. Na prática, como é que tudo isto se faz?
Está aí tudo. Como é que se vai fazer? Trabalhando, investindo nas marcas, racionalizando os meios e recurso. Trabalhando e fazendo o que nós achamos que devemos fazer, nomeadamente criando condições para que os meios façam jornalismo. O exemplo do que queremos fazer, e ainda está muito longe disso, é a evolução que tem tido o Diário de Notícias.
Os outros acionistas – no caso são dois, o Sr. Kevin Ho e o Sr. José Pedro Soeiro – não fazem qualquer aporte financeiro ao grupo porque estão escudados num acordo parassocial em que estão dispensados de financiar o grupo.
Contrataram quantas pessoas?
Seis pessoas, talvez. O DN era feito, segundo me dizem, por 14 pessoas.
Passou de 14 para 20?
Como vê, para fazer o jornal diário não é propriamente muito, antes pelo contrário. O JN será feito por 50 e tal.
O JN tem 90 jornalistas?
Têm 90 e tal jornalistas e vai passar a ter 50 e tal. E tem uma rede de cerca de 70 colaboradores.
Para além do corte no montante dos vencimentos, como é que vão conseguir conter a despesa?
Há muita coisa. Já falei dos carros, por exemplo. Há coisas à partida menores, mas imagine que tem fotógrafos enviados para cobrir este ou aquele evento e depois ninguém sabe que foram, ninguém consulta a plataforma das fotografias, e compram à Lusa, são 70 euros. Coisas assim, isto está completamente sem rei nem roque nesse aspeto. Não há aqui procedimentos, nem uma metodologia de trabalho que impeça esse tipo de coisas. É ver impressões, racionalizar tiragens. O JN não pode continuar a tirar 30 e tal mil exemplares e vender 12 mil em banca ou 14 mil com assinaturas.
Quanto é que vende o JN?
Vende 14 mil exemplares, incluindo as assinaturas. Não pode continuar a tirar 30 mil exemplares. O Diário de Notícias não pode continuar a tirar 8 ou 9 mil exemplares e a vender 2 mil.
O Diário de Notícias vende 2 mil exemplares?
Sim, mas nós dizemos os números sem qualquer problema.
Não vende bastante menos?
Se formos à média, com ofertas e assinaturas, é capaz de chegar aos 2 mil. Em banca quando cheguei aqui vendia 700. Na semana passada, 1.568 e 1.640 na quinta e sexta, nos dias anteriores andou nos mil. Em banca, o DN ainda tem bastantes assinaturas. Mas, andando nos 2 mil e poucos, não pode tirar 8 mil. O Jornal de Notícias dá lucro? Tenho dúvidas. Quer dizer, dá um milhão e pouco.
José Leite Pereira, antigo diretor do JN, falava este fim de semana, na página Somos JN, em 3 milhões de EBITDA.
Eu gosto de fazer assim: quando é que se gasta e quanto é que se ganha. Não gosto cá de EBITDA. O JN de facto, fazendo esta conta tão primária de quanto custa e quanto tem de receita, custa 9,9 milhões e tem resultados acumulados de 11 milhões. Vai fechar o ano com 1,3 milhões. Mas atenção, não estão aqui os custos alocados da estrutura transversal, não tem rendas, não tem financeiros, não tem uma série de coisas. Tem a impressão, os ordenados.
Indo por títulos?
O DN perde dinheiro; a TSF perde dinheiro; O Jogo, também sem custos alocados, é positivo. O Jogo é um jornal muito bem feito, bem estruturado.
Nos despedimentos não se fala n’O jogo.
É difícil. Tínhamos uma ideia, uma ideia minha, mas cheguei à conclusão que não se podia implementar, que era de fazer uma agência interna. Ou seja, criarmos uma agência interna, com jornalistas do JN, d’O Jogo, do DN era difícil, e do Dinheiro Vivo, que, à semelhança do que é a Global Imagens, fosse responsável por 60 ou 70% dos conteúdos dos jornais, deixando a cada jornal uma redação mais enxuta e que fizesse a matéria que a direção editorial quisesse. Mas tudo o que é o Portugal sentado…
Essa era a ideia do Dinheiro Vivo quando surgiu, prestar serviços a todos os títulos.
Era, mas é impossível. Primeiro porque infelizmente vamos ter que dispensar jornalistas e, por outro lado, porque dada a desproporcionalidade de jornalistas a norte e a sul, essa agência teria um peso a norte brutal, que não se coaduna com o que é a realidade.
Teria muito mais jornalistas a norte.
Em 60 ou 70 jornalistas, 55 estariam a norte. Mas já tinha falado com o diretor d’O Jogo, que estava entusiasmadíssimo com esta ideia, porque O Jogo teria a obrigação de fazer os conteúdos de desporto, 90% deles, para todos os meios. Não tenho que ter 12 pessoas de desporto no JN ou duas no DN, tenho que ter uma, duas para fazer o que cada direção entende que deve fazer. Tem que haver diálogo entre diretores, que é uma coisa que neste grupo acho que nunca existiu. Mas tem que existir, porque todos eles são pessoas racionais e positivas.
Podemos fazer uns ajustes positivos, mas não vamos pensar que se o DN vende 2 mil vai passar a vender 5 mil, ou que o JN que vende 12 mil em banca passa a vender 20 mil. Vamos tirar o cavalinho da chuva, isso não vai acontecer.
Como é que pretende aumentar receitas?
Vendendo mais, o que é muito difícil. Vendendo mais jornais, crescendo no digital.
Crescer no digital em venda de conteúdos ou publicidade?
Crescer em vendas no papel é impossível, podemos fazer uns ajustes positivos, mas não vamos pensar que se o DN vende 2 mil vai passar a vender 5 mil, ou que o JN que vende 12 mil em banca passa a vender 20 mil. Vamos tirar o cavalinho da chuva, isso não vai acontecer. Mas podemos aumentar visualizações e assinaturas no digital. E o grupo no digital é muito forte.
Aumentar visualizações e assinaturas em simultâneo? Normalmente para aumentar as assinaturas fecha-se conteúdos e tem menos visualizações.
Sim, mas há uma série de mecanismos que temos que testar e ver se funcionam. O digital, no grupo, se somar os principais meios do grupo é líder.
Já não lidera, julgo. Mas, durante alguns anos, a estratégia do grupo passou por perseguir, e conseguiu, a liderança no digital.
Vou dar um exemplo, o Motor 24 é uma coisa a que ninguém neste grupo ligou. O diretor entrou aqui no outro dia, nunca tinha vindo cá em três anos, nunca tinha falado com ninguém da administração. Mas o Motor 24 é mais visto do que o Stand Virtual, o que nunca pensei.
Há uns anos, talvez em 2017, quando foi lançado o Motor 24 ou o Delas, a ideia era aumentar a força do grupo no digital.
Não sou especialista em digital e sou um leigo. Mas, para mim, digital são redes. Sem um grande trabalho de redes, não há digital que resista. E esse trabalho tem que ser centralizado, tem que se perder esta coisa de “esta rede é minha, não é de todos”. Não, têm que ser geridas por uma só equipa, tem que haver uma estratégia comum de redes. É nisso que estamos a apostar muito neste momento, só que as coisas podem ser feitas de um dia para o outro.
Continuando no aumento de receitas?
Aumentar publicidade, apostar muito nos eventos. É muito importante, com quem falo de entidades, autarquias e empresas, sinto uma grande abertura para uma série de eventos. É preciso ter imaginação para fazer coisas que interessem e coisas que as pessoas gostem e sejam apelativas e tragam mais-valia a quem se envolve em termos de patrocínios. Mas acho que há um campo imenso para fazer eventos em Portugal.
Alguma ideia em concreto?
Várias, mas o segredo é a alma do negócio. Subir em publicidade também é um objetivo, mas também não é fácil. Na comissão executiva temos uma pessoa só para os eventos, o Diogo Agostinho, e eu também dou uma ajuda nesse campo. Ando cá há muitos anos, conheço e tenho facilidade em chegar a muita gente e também sou um criativo, tenho várias ideias sobre coisas que se podem fazer.
Por título, rapidamente. JN, o papel vai manter-se, sendo feito por quase metade das pessoas. Consegue?
Consegue, é perguntar às pessoas do DN como é que durante três anos o fizeram com 14 jornalistas.
No limite, imagino.
De certeza que sim. Mas nunca ninguém se preocupou com o Diário de Notícias.
Ninguém, comissão executiva?
Ninguém, dentro do grupo. E a sociedade, em geral. E agora estão todos muito preocupados com o JN.
O JN é estratégico, para o grupo?
É, como o DN é. Não é mais nem é menos, é isso que têm que perceber. No outro dia ouvi um senhor que é sindicalista, o Sr. Augusto Correia – que conheci aqui numa reunião com o sindicato – que teve uma frase com um profundo teor maoista que é “por cada dia que o JN não chega às bancas que viva mais 10 mil dias”. Mao Tsetung não diria melhor, só faltou falar nos Tigres de papel.
Mas vi afirmações tão ridículas, de pessoas em solidariedade com o JN. Esta Sra. do PAN ir fazer um comício para dentro do JN; a Mariana Mortágua, que vive obcecada com Marco Galinha; aquele candidato do PS, o José Luís Carneiro, que curiosamente no dia seguinte dá uma entrevista no JN aqui na sede em Lisboa; vi uma coisa extraordinária que é uma distrital do PSD a querer ser recebida pela administração, para que a administração desse explicações… Era só o que faltava, um dia destes estou a receber o Juntos pelo Povo. Era o que mais faltava, mas a que propósito é que tenho que dar explicações à distrital do PSD? Quando muito tenho que dar explicações aos trabalhadores do JN.
Mas voltando ao sr. Augusto Correia, é exatamente a mesma pessoa que dois dias depois de estar aqui reunido comigo enviou um email a lamentar-se que a sede do JN tinha mudado – antes de virmos para cá – e que ele que antes ia a pé de casa e que agora está mais longe e tem que ir de transportes públicas e então pedia um subsidio de deslocação. Acho que as pessoas não têm noção. Da rotunda da Boavista à antiga sede são 2,3 km e da rotunda à nova são 2,3 km. Alguém pede subsídio de transporte para uma distância destas?
E no grupo não se paga subsídio de transporte?
Paga-se. Aqui neste grupo paga-se tudo.
Mas “paga-se tudo” e depois há jornalistas a receber 800 euros?
É exatamente isso, tocou no ponto. E nunca ninguém se preocupou, é tudo normal. As pessoas que hoje estão muito preocupadas, e coitados não vão receber o subsídio de Natal o que é muito lamentável, nunca se preocuparam com as pessoas que recebem 800 euros e trabalhavam ao lado delas. Preocupavam com alguns, que recebiam pouco, e a quem arranjavam uns esquemas, através de uns projetos comerciais, para pagar às pessoas por fora. Acabámos com isso, obrigamos a ser integrado no ordenado. Além das questões éticas e deontológicas, que essas coisas possam levantar… Mas nem vou por aí, acredito que é um problema de consciência de cada pessoa e acredito que as pessoas fazem as coisas com isenção. Mas o sindicato, que é tão ativo em algumas coisas, certamente estará atento.
Voltando ao JN ser estratégico, diz que tanto como o DN.
Tanto como o DN e tanto como outro título que o grupo tem e ninguém ligou, durante anos, que é o Açoriano Oriental. Já fui lá três vezes desde que cheguei. Estive lá na semana passada, num evento que é as 100 Melhores Empresas, e estava lá a nata do que é a economia açoriana, num evento presidido pelo presidente do Governo Regional, com palavras mais do que simpáticas para a Global Media.
O papel que o jornal desenvolve – que em termos de resultados está equilibrado, apesar das malfeitorias que lhe fizeram ao longo destes anos -, nunca foi lá ninguém, há cinco ou 10 anos. O papel que pode desempenhar relativamente às comunidades é brutal. E que a própria TSF também tem. Ponho no mesmo plano o JN, o DN, o Açoriano Oriental e a TSF. Não ponho O Jogo, porque é setorial.
Mas é verdade que o JN andou, anos a fios, a libertar margem para ajudar nos resultados negativos de outros títulos.
Nunca vi essas contas, apresentem-se esses números. Aqui ninguém paga a ninguém, porque ninguém é mais do que os outros. Há uma lógica de grupo, não vendo mais do que tu, ganho mais do que tu, sou mais bonito ou mais feio. Connosco não vale a pena. E comigo é que não venham com essa história bacoca de “ai, isso é Lisboa a querer”.
O JN não está à venda. Agora, se alguém quiser fazer uma oferta de compra, pelo JN, DN ou Açoriano Oriental, estamos disponíveis para ouvir. Mas nada está à venda.
Vão sair daqui, das Torres de Lisboa, para o Taguspark?
Não sei, há essa possibilidade, está a ser analisada.
Se alguém quiser comprar o JN…
O JN não está à venda. Agora, se alguém quiser fazer uma oferta de compra, pelo JN, DN ou Açoriano Oriental, estamos disponíveis para ouvir. Mas nada está à venda.
A TSF e DN vendidos em conjunto…
Não.
Ou o Jornal de Notícias ser vendido a norte?
Não. Repare, se aparecer um empresário ou um grupo interessado em comprar algum dos ativos da GM, ou a Global Media, nós obviamente ouvimos. Mas, à partida, não. Aqueles que agora se solidarizaram... bastava assinarem e comprarem espaço publicitário. Assim é que já estavam a dar uma grande ajuda. Mas é mais fácil ir para a porta do JN, fica sempre melhor, sobretudo nesta altura de campanha eleitoral.
A estratégia de transformar o JN naquilo que nunca foi, leia-se, num jornal de referência a nível nacional, teve resultados desastrosos, que só quem não percebe nada do que sempre foi o JN é que não antecipou.
Houve uma grande mobilização.
A estratégia de transformar o JN naquilo que nunca foi, leia-se, num jornal de referência a nível nacional, teve resultados desastrosos, que só quem não percebe nada do que sempre foi o JN é que não antecipou. Destruíram um ADN único, em que o JN era um jornal de informação regional com expressão nacional, para tentar transformá-lo numa coisa híbrida, sem sustentação fora da região onde sempre foi claramente líder – aliás os números falam por si. Isto por um lado, porque, por outro, abriram de par em par as portas à consolidação do Correio da Manhã a Norte, que hoje, só nessa região, vende quase tanto quanto o JN vende a nível nacional.
A ideia é o JN voltar ao perfil anterior, mas feito com menos pessoas?
Mais do que reverter uma estratégia que foi a todos os títulos errada, o importante agora é minimizar os estragos que foram infligidos ao longo destes anos, sendo urgente tentar fazer crescer o JN, nomeadamente no centro do país e na região do Minho.
E para a TSF? Qual é o projeto?
Para a TSF há um grande projeto. Eu gosto muito de rádio, trabalhei na Rádio Comercial, não se perde o bichinho. A TSF tem um potencial louco. Agora, tem é que se olhar para o futuro e o futuro da rádio é digital. Gostemos ou não gostemos, hoje entra num Tesla ou num carro desses elétricos – aqui na GM há muitos – e não têm FM. A TSF de há 30 anos já não existe, as pessoas perceberam isso. O mundo é completamente diferente e a rádio de alguma maneira tem que ser renovada, para não dizer refundada. Costumo dizer a brincar, e não tem graça nenhuma, que se Emídio Rangel voltasse ao mundo e visse a TSF, as televisões, as outras rádios, rapidamente quereria ir embora. Não é por culpa do trabalhadores da TSF, o mundo e os hábitos das pessoas mudaram muito. O caminho acho que é manter o FM, cada vez melhor e mais apelativo, apostando no que são as horas chaves. E, ao mesmo tempo, criar canais TSF setoriais.
Centrados na informação?
Não. Pode ser uma TSF Música, Uma TSF Vintage, uma TSF Desporto, a TSF América, a TSF África, a TSF Brasil. Há uma rádio, a Tropical, feita para brasileiros. Aquilo tem um potencial doido. Porque é que a TSF não faz uma coisa melhor, dirigida aos brasileiros no digital? E Ao mesmo tempo esses canais são produtores de conteúdos para a TSF FM. Ou seja, unidades de produção de conteúdos para a TSF FM, mas ao mesmo tempo têm vida própria.
Ou seja, lançar rádios digitais, como os outros grupos têm feito.
O melhor exemplo, para mim, é a Joven Pan, uma rádio de São Paulo. E depois tem a componente vídeo, como o Observador e outras rádios querem ter. Mas eles fazem aquilo muito bem, de tal maneira que foi uma rádio que se transformou em televisão e hoje em dia é a televisão que alimenta a rádio. Em termos políticos é complicado, é muito bolsonarista, mas em termos de conceito de rádio é muito interessante. E não é difícil de fazer.
E, com a redução de recursos na TSF, vão conseguir?
Acho que temos a obrigação disso, não temos outra hipótese. Quem me dera continuar com o mesmo número de pessoas no grupo.
Se fizerem um despedimento coletivo não vão conseguir contratar.
Eu sei. E quem é que gosta de fazer um despedimento coletivo? Só um sádico, e isso eu não sou.
Continuando por marcas. E o Dinheiro Vivo?
O Dinheiro Vivo tem que ser reformulado, o grupo tem que encontrar uma solução para a área económica. Não lhe vou dizer mais nada, porque não sei dizer mais nada.
A solução pode passar pelo fim do Dinheiro Vivo?
Difícil, é uma boa marca. Apesar de não gostar da expressão, cada vez acho que faz menos sentido falar em dinheiro vivo, mas apesar de não gostar da denominação acho que é uma marca que tem peso no grupo. Tem é que encontrar, como dizem os brasileiros, uma ‘sacada’. Sinceramente, não sei qual. Ainda não tive tempo de lhe dar a atenção que merece.
Continuando nos títulos, a Men’s Health, Evasões e Volta ao Mundo saíram da Global Media e passaram para a Palavras de Prestígio, de Marco Galinha?
Saíram, mas há um acordo de produção.
Mas deixaram de ser vossos?
Deixaram de ser nossos, por uma questão única e exclusivamente burocrática, mas voltarão. Mais de 50% da informação de viagens pertence à Volta ao Mundo, então a AdC levanta problemas. É daquelas coisas surreais em que aquele país é perito. É como a ERC, em pedir a identificação de detentores de unidades de participação do fundo.
Ainda nos títulos, o Motor 24?
Vamos investir, em sentido lato. Tem um grande potencial.
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