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Greve dos jornalistas com “adesão enorme” e números acima do esperado, diz presidente do SJ

Rafael Ascensão,

Se a maioria das reivindicações não forem atendidas "não teremos outra alternativa, vamos ter que parar outra vez, e parar brevemente", avisa o presidente do Sindicato dos Jornalistas.

“Greve geral de jornalistas. Emissão e site da TSF condicionados esta quinta-feira”, lê-se no site da rádio. O serviço da agência Lusa também não está operacional e muitos outros órgãos de comunicação social enfrentam constrangimentos. Reflexos da greve geral dos jornalistas que decorre esta quinta-feira. Baixos salários, precariedade e a degradação das condições de trabalho do setor são os principais motivos para a paralisação.

Embora já esperasse uma adesão “muito forte”, Luís Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ), diz que os números da adesão à greve são “muito expressivos e acima do que perspetivávamos”, refere em declarações ao +M, sublinhando a existência de “redações sem ninguém“.

Concentração em Coimbra, no âmbito da greve dos jornalistas.

É uma adesão enorme. Se o Açoriano Oriental fez capa com a greve, há rádios que não têm blocos noticiosos, há jornais que amanhã não estarão nas bancas. Tem sido incrível. A cada minuto que passa temos tido mais gente a dizer que a redação não tem ninguém, há escalas de seis pessoas que tem só uma. Sendo muito cedo para fazer um balanço, está a ser fantástico”, afirma.

Esta adesão tem assim sido transversal aos diferentes meios de comunicação. “Da SIC ao Público, passando pela TVI à Antena1, indo para a grande parte dos jornais e rádios regionais, [a greve] está a ser transversal. Está a sentir-se também muito vincadamente no online, onde os jornalistas têm que responder ao segundo e são pressionados para trabalhar a 200 à hora”, diz Luís Simões.

Segundo o líder do SJ, as condições de trabalho “são tão más”, e a “precariedade é tão alta”, que “obviamente sabíamos que a greve ia ter uma grande expressão, mas não antecipei que esta fosse tanta, o que diz bem – e esta é a parte má -, do momento que estão a viver os jornalistas“.

Mas, avisa Luís Simões, “os efeitos da greve têm de começar no dia 15 e temos de nos esforçar todos para começar a acabar com esta degradação das condições de trabalho, salariais, e com a precariedade”.

O que se segue à greve, conforme o mesmo explica, é um Sindicato dos Jornalistas a “pegar nos números da greve, no protesto das jornalistas, nas reivindicações, e a pressionar para serem cumpridas”. As pressões serão feitas junto de patrões, poder político e algumas das chefias jornalísticas.

Se a maioria das reivindicações não forem atendidas “não teremos outra alternativa, vamos ter que parar outra vez, e parar brevemente, porque o sinal que estamos a dar é este. Se continuar assim, nós vamos parar mais vezes. E este é um paradigma que se quebra hoje. Foram 40 anos, mas não estamos dispostos a continuar a fazer de conta que está tudo bem quando está tudo mal

Luís Simões

Presidente do Sindicato dos Jornalistas

Se a maioria das reivindicações não forem atendidas “não teremos outra alternativa, vamos ter que parar outra vez, e parar brevemente, porque o sinal que estamos a dar é este. Se continuar assim, nós vamos parar mais vezes. E este é um paradigma que se quebra hoje. Foram 40 anos, mas não estamos dispostos a continuar a fazer de conta que está tudo bem quando está tudo mal“, declara.

Entre as reivindicações, Luís Simões diz que espera que amanhã “todos os patrões da imprensa tenham a consciência de que vamos pedir um aumento a rondar os 10% para cobrir a inflação acumulada nos últimos dois anos e de que o jornalismo não se faz sem progressão na carreira”.

Já dirigida ao poder político, “temos uma mensagem muito clara, que é evidente. Nós somos o país da Europa que per capita menos dinheiro coloca no apoio ao jornalismo livre e independente, no momento em que o jornalismo é mais necessário para compreendermos o mundo porque a desinformação cresce todos os dias”.

Neste sentido, são reivindicadas ao poder político propostas de apoio ao jornalismo, como a implementação de um voucher para usar em assinaturas de jornais (recaindo assim a escolha sobre quem consome), ou apoios que se aplicam no campo fiscal. “Temos um governo a ser formado, quando se esclarecer um pouco melhor a situação, lá estaremos para falar com todas as forças políticas“, diz o líder do SJ.

O dia da greve é também marcado por concentrações de jornalistas em Coimbra, Porto, Ponta Delgada e Lisboa, nas quais Luís Simões antecipa a presença de “muita gente”, incluindo de pessoas exteriores ao setor.

Esta paralisação dos jornalistas decorre também dois dias depois de ter sido divulgado que a Global Media ia avançar com um despedimento coletivo, com a direção do Diário de Notícias a ser despedida, bem como quase todos os jornalistas contratados na administração de José Paulo Fafe.

Na terça-feira, juntando-se ao apelo à greve, 258 jornalistas “sem papel” assinaram também uma carta onde exigiam condições justas para a produção de jornalismo de qualidade e para a construção de vidas dignas entre os profissionais.

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