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Jornal Setenta e Quatro chega ao fim sem viabilidade financeira e pede financiamento público

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O jornal Setenta e Quatro termina a sua publicação. Na base desta decisão, alegam os seus promotores, encontram-se "razões exclusivamente financeiras". E exigem apoio dos contribuintes.

Lançado em julho de 2021, o jornal Setenta e Quatro chega ao fim depois de ter vindo a enfrentar dificuldades financeiras “há vários meses”. A redação do jornal “fez o possível e o impossível para que o Setenta e Quatro continuasse a trilhar caminho. Mas a nossa permanente teimosia deparou-se com uma muralha, e há um momento em que o espírito de combate já não basta“, refere-se no editorial assinado por Ana Adriano Mota, Ana Patrícia Silva, João Biscaia e Ricardo Cabral, que justificam que o fim do jornal se deve a “razões exclusivamente financeiras”.

“Ousámos desafiar a ‘crise do jornalismo’ em plena pandemia e fundar um jornal de investigação assente num jornalismo diferente”, referem. Mas embora tenham conseguido alcançar esse objetivo, os jornalistas depararam-se com “a mesma muralha de sempre: a do financiamento“. Os seus promotores prometiam jornalismo de investigação

O nosso fim não é especial, é semelhante ao de tantas e tantas redações já desaparecidas por este país fora. E o problema é sempre o mesmo: o financiamento, não a qualidade editorial. E para isso contribuiu o facto de Portugal viver em completo contraciclo com a maioria dos Estados-membros da União Europeia: não tem qualquer política de financiamento público do jornalismo nem um setor forte de mecenato. É o deserto, e mais redações se confrontarão com o seu fim se nada fizermos enquanto sociedade“, acrescentam.

Segundo se lê no editorial, os quatro jornalistas defendem que está na hora de se “tirar a cabeça da areia” e de se debater “finalmente” o financiamento público do jornalismo. “Está na hora de quebrarmos tabus e de tudo fazermos para salvar o jornalismo, não temos tempo a perder. Porque uma sociedade sem jornalismo não é democrática. Sabemo-lo já de trás para a frente, passemos finalmente à ação”, referem.

Ao longo dos seus cerca de três anos de atividade, o Setenta e Quatro contou com o apoio de quase duas mil pessoas que subscreveram o jornal e com contribuições feitas através de ações de crowdfunding. Ao longo deste tempo, o jornal diz ter publicado nove investigações, numa média de uma a cada três meses, assim como edições semanais que incluíam entrevistas, reportagens, ensaios e crónicas.

Esta notícia surge poucos dias depois de o Jornal Novo ter anunciado o encerramento da sua edição em papel – passando exclusivamente a digital –, implicando a saída de quatro a cinco pessoas.

Recorde-se que ainda este mês o setor foi marcado por uma greve dos jornalistas, a qual contou com uma “adesão enorme” e números acima do esperado, segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas. Foram 64 os órgãos de comunicação social que paralisaram nesse dia, contra os baixos salários, a precariedade e a degradação das condições de trabalho do setor.

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