Menos fofocas e mais foco
“Não faça isso” foi uma das frases que mais ouvi na vida. “Não acredito que vai dar certo”, eu ouço duas ou três vezes por dia. O “não” é uma palavra demasiadamente utilizada no nosso país.
“Não sabia que era impossível, foi lá e fez”, é uma daquelas citações motivacionais de trazer por casa. As pessoas gostam de ouvir, sentem-se confortáveis, afinal, o impossível não existe.
Gosto mais da sua versão cínica: “Não sabia que era impossível, foi lá e descobriu que era…”. Não que acredite que o cinismo seja a melhor maneira de tocar a vida, mas porque se trata de um veneno que em doses homeopáticas pode servir de remédio.
“Não faça isso” foi uma das frases que mais ouvi na vida. “Não acredito que vai dar certo”, eu ouço duas ou três vezes por dia. “Não estou seguro desse caminho”, é o comentário que precedeu a alguns dos melhores trabalhos em que estive envolvido.
O “não” é uma palavra demasiadamente utilizada no nosso país. E não, não precisava ser assim.
“Nem pensar” é outra expressão comum. Foi e ainda é uma das coisas que mais oiço ao lembrar que lidero uma empresa, no caso uma agência de publicidade, que funciona 99% do tempo em teletrabalho.
Pesquisas afirmam: uns impressionantes 44% dos profissionais em Portugal dizem que são mais produtivos em casa do que alguma vez foram no escritório. 89% deles adoram este modo de trabalho. Isso é muita gente feliz a usar Havaianas todos os dias.
No caso da minha atividade (a publicidade) temos de ser engenhosos para não perdermos algumas das coisas boas de se trabalhar com criatividade, como os brainstorms presenciais. Fazemos isso de quando em vez, até para criar laços entre as pessoas. Mas não temos saudades do tempo em que estavam todos mal dispostos pelas manhãs depois de apanharem com uma greve do Metro, da CP ou da Carris.
Do ponto de vista dos clientes, o que eles querem são as coisas solucionadas bem, em prazos curtos (ou impossíveis) e, de preferência, enviadas por email asap. Não dão importância à grandiosidade do imóvel onde as ideias são desenvolvidas.
Numa recente visita à Nova Iorque descobri que as melhores e maiores agências de lá já operam em teletrabalho na maior parte do tempo. Algumas sequer conseguiriam reunir toda a força de trabalho ao mesmo tempo no escritório. Eles são menores do que o número de colaboradores.
Lembrei-me do tema porque estou a comemorar (sim, comemorar) nesta semana dois anos em que abandonámos nosso grande e belo escritório e oficializamos a decisão de sermos a primeira agência portuguesa ligada à uma multinacional a se assumir 100% fluida.
Temos orgulho do que conseguimos alcançar com esse caminho (uma equipa motivada e, ao mesmo tempo, dona do seu tempo e da sua vida). Colaboradores que podem trabalhar em qualquer zona do país ou do mundo. Menos fofocas de corredor e mais foco no que interessa.
Ou como diria o meu Tio Olavo: “O não é sempre a ante-sala do sim”.
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