A democracia, os media e as marcas

  • Rosália Amorim
  • 10:59

Os grandes curadores da verdade e credibilidade continuam a ser os media. Para as marcas, tema tantas vezes tratado aqui no +M, os media continuam a ser decisivos na afirmação de uma insígnia.

Assinala-se hoje o 25 de novembro. Opôs militares da extrema-esquerda e ‘moderados’ e encetou uma certa normalização democrática do país. É uma data e um acontecimento controverso para muitos. Antes, e por cerca de ano e meio após a Revolução de Abril, o Processo Revolucionário em Curso (PREC) e as ações radicais, com atentados, causou a instabilidade nacional. O 25 de Novembro marca o fim dessa agitação.

O antigo Presidente da República Ramalho Eanes, comandante operacional do 25 de Novembro de 1975, recusa a estigmatização da data, que defende ser uma continuação do 25 de Abril, “dia fundador” da democracia. No livro “Ramalho Eanes, Palavra que conta”, editado este mês, a partir de uma entrevista à RTP realizada pela jornalista Fátima Campos Ferreira, refere: “Não percebo que estigmatizem o 25 de Novembro, porque o 25 de Novembro é a continuação do 25 de Abril; é a reafirmação de que as promessas feitas pelos militares à população portuguesa se mantêm, e se mantêm com toda a força, seja como for, quaisquer que sejam os obstáculos”.

Por tão controversa que é a data, ficou conhecida como a “dramática aventura”, expressão do general Costa Gomes. O então Presidente da República negociou com todas as barricadas para evitar um confronto que poderia ter arrastado o país para uma guerra civil. De um lado estava a esquerda militar, com tiques de extrema-esquerda e comunistas, separada entre “gonçalvistas” e “otelistas”, fervorosos defensores da via revolucionária. Do outro lado, estavam os ditos moderados, que reuniam militares e forças à direita do PCP, onde se incluía o PS de Mário Soares e o PSD de Sá Carneiro, apoiados por Costa Gomes.

O 25 de novembro acalma o país após cerca de um ano e meio depois da Revolução dos Cravos. A banca e os seguros já tinham sido nacionalizados e a reforma agrária no Alentejo e Ribatejo estava no auge. O que seria da economia portuguesa, das empresas e das marcas se essa “dramática aventura” não tivesse colocado o país no caminho que levou à construção de uma verdadeira democracia?

Num regime verdadeiramente democrático, os media ganharam robustez, liberdade e independência. Os leitores voltaram a confiar na informação, sem riscos de lápis azul. Os órgãos de comunicação social (OCS) credíveis tornaram-se também os meios preferenciais das marcas para chegar aos consumidores.

Cerca de 50 anos depois, e apesar de toda a evolução digital, os grandes curadores da verdade e da credibilidade continuam a ser os media. Não me refiro a social media, mas aos media tradicionais. Aqueles que se regem por um estatuto editorial e que fazem cumprir a deontologia que impera sobre a espada de um jornalista. Os media tradicionais continuam a ter o seu papel fundamental na democracia.

Para as marcas, tema tantas vezes tratado aqui no +M do ECO, os media continuam a ser decisivos na afirmação de uma insígnia. Aos olhos dos consumidores, um produto ou serviço que salta das redes sociais para os meios tradicionais é encarada de outro modo, com mais seriedade e maior credibilidade.

A vantagem de celebrarmos em liberdade 50 anos da Revolução de Abril e da reinstauração da democracia, em novembro de 1975, é podermos ter opiniões diferentes, expressas nos media livres, sobre essa marca ou data.

Isso é, na prática, um processo de validação e consolidação de todas as liberdades. O 25 de novembro mostrou que a liberdade (como qualquer organização, empresa ou marca) é um processo em construção permanente e que deve ser cuidada. Se olharmos para a história, sem tabus, foi a serenidade e maturidade desse outonal novembro que estabilizou e garantiu as esperanças primaveris de Abril.

  • Rosália Amorim
  • brand, marketing & communication director do portuguese cluster da EY

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