
A guerra mundial pela atenção
A indignação e a surpresa são mais eficazes comercialmente, enquanto a profundidade e a reflexão exigem tempo, que é o recurso mais valioso na atualidade. E viva a resistência!
A realidade comunicacional atual caracteriza-se por uma nova dinâmica, na qual os líderes empresariais, as marcas e as empresas não competem apenas entre si, mas também com o mundo inteiro. O espaço de atenção dos consumidores tornou-se um campo de batalha, onde disputamos diretamente com a série mais vista na Netflix e com o escândalo que viralizou nas redes, o meme do dia e isto sem contar com as notícias que são todas urgentes, todas necessitam da sua imediata atenção.
Cada um é um potencial canal de comunicação, um gerador de conteúdo, um transmissor de narrativas que podem — a qualquer momento — dominar o fluxo de informações globais.
As equipas de comunicação e os decisores enfrentam desafios inéditos. A avalanche de estímulos diários gera um ruído incessante, tornando cada vez mais difícil manter a coerência e a estrutura da mensagem. O custo para alcançar impacto e gerar atenção aumentou exponencialmente, enquanto a paciência dos decisores diminui perante a aparente falta de retorno de estratégias tradicionais.
Contudo, a questão central permanece: como competir num mundo onde o barulho é constante e a atenção, um bem escasso?
O grande desafio é a fragmentação da atenção. O consumo de informação deixou de ocorrer em canais lineares ou previsíveis, passando o utilizador médio a alternar entre plataformas, absorvendo conteúdos de forma dispersa e volátil.
Qualquer mensagem institucional enfrenta um adversário difícil: o estímulo imediato e emocional. A indignação e a surpresa são mais eficazes comercialmente, enquanto a profundidade e a reflexão exigem tempo, que é o recurso mais valioso na atualidade.
Os decisores, pressionados por resultados rápidos, veem-se num dilema: investir fortemente numa estratégia de longo prazo que pode não gerar impacto imediato ou ceder à lógica do imediatismo e do viral? Perdi conta das vezes em que testemunhei a frustração dos decisores aumentar, porque campanhas meticulosamente concebidas, com mensagens relevantes e estratégicas, eram frequentemente superadas pelo impacto mais imediato de um vídeo de 30 segundos criado por um influenciador histriónico.
A solução não está em abandonar a coerência estratégica, e sim em adaptá-la ao novo contexto. A solução é resistir.
Porque se cada um é um mundo, então falemos para cada mundo. Como? Com a mais conhecida das estratégias de resistência: a guerrilha comunicacional.
Tal como os guerrilheiros, que evitam posições fixas, a comunicação deve ser flexível e rápida, capaz de se ajustar às mudanças do zeitgeist digital sem comprometer a sua identidade.
Em vez de difundir mensagens genéricas para todos, é essencial criar conteúdos altamente direcionados, capazes de alcançar nichos estratégicos e grupos de alto impacto.
À semelhança da guerrilha, que se fortalece com o apoio da população local, as marcas devem construir comunidades leais, recorrendo a influenciadores, opinion makers locais ou menos conhecidos e explorando o terreno de forma inteligente, em vez de dependerem exclusivamente de grandes campanhas. Autenticidade é a chave.
No campo de batalha, conhecer o terreno é fundamental. No domínio da comunicação, isto traduz-se no domínio das plataformas digitais e na compreensão dos meios, dos espaços e dos momentos mais eficazes para alcançar o público-alvo.
A paciência é uma virtude, a persistência é uma arma.
Os guerrilheiros superam adversários mais fortes desgastando-os ao longo do tempo. De forma semelhante, a comunicação deve manter a consistência e uma presença relevante até que concorrentes menos ágeis percam impacto.
O objetivo não passa por resultados imediatos, mas por uma estratégia sustentada que assegure relevância, desgaste a concorrência e, assim, conquiste espaço na mente do consumidor ao longo do tempo.
Para vencer a guerra da atenção é preciso inteligência tática, persistência e adaptação.
E viva a resistência!
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